terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rio olímpico

Lula chorou quando anunciaram o Rio como sede da Olimpíada de 2016. Chorou e fez questão de se mostrar chorando, o que levou alguns a ver nas lágrimas presidenciais mais encenação do que sinceridade. Não sou lulista, mas discordo de quem acha que ele se aproveitou daquele momento para regar a candidatura de Dilma nas próximas eleições. O presidente estava sinceramente emocionado, e nisso externou um sentimento que perpassava toda a nação.
A realização das competições aqui vai concorrer para diminuir nosso velho “complexo de vira-latas”. Dizem que Barcelona virou outra cidade depois que sediou os jogos; esperemos que o mesmo aconteça com o Rio. A “cidade maravilhosa” receberá muito dinheiro para investir em infraestrutura, turismo, obras sociais. Se os recursos forem aplicados com sensatez e sobretudo honestidade, ela sairá do evento mais rica e talvez mais humana.
Sediar a Olimpíada é um desafio que termina em tudo ou nada. Não há possibilidade de meio sucesso; ou ele acontece, ou não, e cada país-sede se esforça para suplantar o anterior em brilho, originalidade, espetáculo. Isso quer dizer, por exemplo, que teremos de mostrar algo mais bonito do que a percussão iluminada dos tambores chineses, que ainda por muito tempo ecoará nos olhos e ouvidos do mundo.
O que me preocupa não é a cerimônia de abertura ou de encerramento. Não tenho dúvida de que nisto seremos bambas e deixaremos o mundo impressionado. Se os chineses tinham tambores e luzes, nós temos frevo, maracatus, escolas de samba, que servirão ao sensual embalo de passistas, mulatas ou baianas. Trata-se de um rico material que não faltarão artistas sensíveis para orquestrar e dele obter o melhor efeito.
O ponto delicado, e um tanto preocupante, será o desempenho de nossos atletas. A realização dos jogos aqui vai representar uma pressão adicional para vencer. Com toda essa tensão, é possível que tombos como o de Diego Hypolito em Pequim se tornem comuns. O mesmo se diga de quiproquós como o da vara surripiada, que tirou de Fabiana Murer a chance de subir ao pódio. E se atletas consagrados podem passar por tais vexames, que dizer desses que agora se precipitam rumo a pistas, piscinas e academias na esperança de em 2016 ganhar uma medalha olímpica?
O fenômeno é curioso e vem dando o que falar. Mal saiu o anúncio em Copenhague, e nem bem secaram as lágrimas de Lula, potenciais campeões começaram a brotar de todos os cantos do Brasil. A esperança de reconhecimento e ascensão, que até então se depositava no futebol, agora se estende a outros esportes. Em alguns deles não temos tradição mas ganhamos como anfitriões o direito de competir, e muitos imaginam que vão desbancar europeus, asiáticos e americanos também nessas modalidades.
Vamos devagar, pessoal. Uma coisa é a proximidade física dos jogos; outra é a simbólica distância que separa a participação da vitória. Por enquanto é melhor continuar mantendo a humildade de um vira-latas, e só depois -- quem sabe? -- latir com a empáfia de um rottweiler.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Palavreando

O maior desafio do casamento é impedir que a fase do “só nos dois” termine em “nós dois sós”.
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Sou de um de um tempo em que filme de mulher pelada era filme de freira.
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Uma das provas do narcisismo humano é que ninguém tapa o nariz para o próprio pum.
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O “nu artístico” era tão antigo, mas tão antigo, que a modelo já tinha estrias e flacidez.
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A linguagem é a vestimenta do espírito. Use-a com elegância.
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Antigamente filme nacional sem pornografia era como pizza sem queijo. Não tinha graça. Os filmes feitos no Brasil eram ou pornográficos, ou intelectuais -- dois extremos que afugentavam o público. Hoje eles são industriais, e os cinemas em que passam vivem cheios.
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Hoje, no esporte brasileiro, o Cielo é o limite.
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Em matéria de vida, sou um neófito com muita experiência.
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Há um limite para a chamada grandeza moral. Não existe virtude sem algum apoio da natureza.
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No “fundo do poço” há sempre um elevador.
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O pessoal anda surpreso com o que está acontecendo no Senado. Parece que não aprendeu! Buscar decência na política é como procurar castidade num prostíbulo.
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O sol nasceu para todos; a lua, por enquanto, só para os americanos.
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Susto é quando você tem medo; pânico é quando o medo tem você.
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Quando o chamaram de ignorante, estrebuchou; já quando o chamaram de apedeuta, sentiu uma ponta de vaidade. Nada como se sentir “uma coisa difícil”...
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Uma mulher que não menstrua seria a única exceção que não confirma a regra.
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Não sou de fazer sacrifícios. Só renuncio ao que me desagrada.
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É tanta gente querendo aparecer, que no futuro os tais “15 minutos” de Andy Warhol vão acabar se reduzindo a três.
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Se o seu marido é um porre, console-se. Há os que são uma ressaca.
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Psicólogo: “Pronto, o senhor está curado do seu complexo de superioridade.”
Paciente: “Estou? Só mesmo eu para conseguir isso em tão pouco tempo!!”
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O melhor do nu frontal é imaginar o que está por trás.
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Para um bom improviso, é preciso muito treino.
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Mesmo que fossem outros os condicionamentos históricos e sociais, a prostituição não prosperaria entre os homens. É possível fingir tudo, menos uma ereção.
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O vaidoso se acha o tal. O orgulhoso tem certeza.
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O pior de perder a memória é que a gente nunca se lembra de onde a deixou.
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A prudência nada mais é do que uma covardia sofisticada.
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Os gays quando se casam juntam mesmo as trouxas.
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Creio em Deus, mas não sei se Ele existe.
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Grave não é desistir de um projeto, de um emprego, de um amor. Grave é desistir de si mesmo.
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Uns entram nas academias para conquistar a imortalidade. Outros, para confirmar que estão mesmo mortos.
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O cínico é um cético que perdeu a vergonha.

A esquecida