tag:blogger.com,1999:blog-65762525011505620012024-03-15T16:18:04.852-07:00Blog de Chico VianaCrônicas, diálogos, frases originalmente publicados na coluna "Falou e Disse".Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.comBlogger573125tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-49447210531285697332024-03-02T05:44:00.000-08:002024-03-02T06:05:28.866-08:00Dizer pelo excesso<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDq1fs_Vpa2wko9t6Wf1SjPT5PT-wMt9UF-kvVaPFLcmT6SWpD5IRMTjGC_ofbQHC5ZB_2JKbTQLFSKDWxC_Eu9aaQnQuLPWmWjYlKoRxXnibYQCJQ3hybyNuTNVt6I_2XydLxRQVqyfJ8lfC3Dw_DtLVc-t2wcE2YCeyHZOg3tTc25Jq6ogTDi8xaC3-Q/s275/palavras%20demais.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDq1fs_Vpa2wko9t6Wf1SjPT5PT-wMt9UF-kvVaPFLcmT6SWpD5IRMTjGC_ofbQHC5ZB_2JKbTQLFSKDWxC_Eu9aaQnQuLPWmWjYlKoRxXnibYQCJQ3hybyNuTNVt6I_2XydLxRQVqyfJ8lfC3Dw_DtLVc-t2wcE2YCeyHZOg3tTc25Jq6ogTDi8xaC3-Q/s1600/palavras%20demais.jpeg" width="275" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Em
recente crônica publicada na “Folha de São Paulo”, Sérgio Rodrigues comenta uma
frase atribuída a Drummond segundo a qual “escrever é cortar”. O cronista observa
que, de tão repetida, a frase se tornou um lugar-comum. Ao mesmo tempo, chama a
atenção para o fato de que é preciso relativizar esse conceito; nem sempre o
corte serve às intenções do autor.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Não
há dúvida de que a verborragia é um mal de que o escritor, ou redator, deve se
livrar. Há nela uma espécie de automatismo que debilita a expressão. A marca do
bom estilo é dizer mais com menos, e não menos com mais. Palavras “sobrando” mascaram
a essência do que se quer exprimir e fatigam o leitor. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">É
conhecida a passagem de Graciliano para ilustrar isso. Ele compara o exercício da
escrita ao de lavar roupas. Somente depois de bem torcidas é que elas podem ir
para o varal, do contrário a água acumulada impede que sequem e revelem a sua
textura. Desidratar o texto, livrando-o do excesso, é também uma forma de fazer
as palavras se darem a “ver”. Ou melhor, é um meio de “dizer” (um verbo caro ao
autor de “Vidas Secas”) em vez de apenas encher papel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Em
princípio é assim mesmo, e tal ensinamento os professores de redação costumam
passar a seus alunos. Nos exercícios de refeitura, o que se recomenda é mudar e
cortar palavras. Mudar para que se chegue à adequação semântica. Cortar para
deixar emergir o essencial da informação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Deve-se
no entanto ponderar que nem todo escritor é um partidário da concisão. Há deles
que têm o exagero como um traço de estilo. Nesse caso a verbosidade é um
ingrediente que “funciona”, promove um efeito de sentido que lhes define a persona
literária. Para esses escritores o corte deixa de ser limpeza, remoção de excrescências,
e se transforma em amputação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Augusto
dos Anjos é um bom exemplo disso na poesia (na prosa, ele peca pelo
rebuscamento e a falta de naturalidade). Seu estilo poético “carregado” reflete
o peso que lhe ensombra o espírito melancólico. Há nele um “excesso de
representação”, um dizer a mais aparentado ao Barroco. Uma das marcas desse
excesso é a abundância de adjetivos, que vai de encontro ao que preceituam os
defensores do estilo conciso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>São comuns em “Eu e outras poesias” locuções como “largos fios grossos”,
“aberratórias abstrações abstrusas”, “hialina lâmpada oca”, “bastos tojos
acres”, “abstrusa ciência fria”, “absconsa tábua rasa”, “arimânico gênio
destrutivo”, “escaveirado corrupião idiota”, “ríspidas mágoas estranguladoras”
e outras em que dois adjetivos modificam um substantivo. Muitas vezes o atributo
posposto apenas reitera o sentido do que vem anteposto ao substantivo. Ou seja:
não representa um acréscimo de informação, mas tão somente uma reiteração expressiva.
Também serve, é claro, ao preenchimento métrico do verso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
excesso de adjetivos é apenas um traço do estilo do paraibano que caracteriza o
excesso acima referido. Há muitos outros, que estudamos com detalhes em nossa
tese “O evangelho da podridão”. Eles confirmam o quanto é relativa a máxima de
que “escrever é cortar”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Certamente ela cabe melhor no domínio estritamente redacional, em que se
tende ao “grau zero da escritura”. Ou seja, em que se busca a transparência das
ideias e o rigor das informações, numa escrita tanto quanto possível destituída
de recursos literários. No domínio da criação artística, é preciso ser prudente
ao “escoimar” o texto do que nele aparentemente sobra. Muitas vezes está nas
sobras, nas palavras a mais, o essencial do que o autor quer dizer.<o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-75852003363229475322024-02-21T04:23:00.000-08:002024-02-21T04:33:26.399-08:00Gurus filosóficos<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggt7uv9LaA7n-33b1YHEcMMgJjNxkcUz3oFPdXizwLabwVpNtXpXX0pXWdiA_GZKIWhb33aeKyscYtSpreiFmBUFSr96vRAVYkuQm5JbTRF2MgTr_AzyA3HtIVZhFmogVXvoQYOZksF2inWMbnf_bRKXk4Mt9O7Ymd0nS75Qg-mtFArNVwjNjC5KWQRAOk/s612/guru.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="489" data-original-width="612" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggt7uv9LaA7n-33b1YHEcMMgJjNxkcUz3oFPdXizwLabwVpNtXpXX0pXWdiA_GZKIWhb33aeKyscYtSpreiFmBUFSr96vRAVYkuQm5JbTRF2MgTr_AzyA3HtIVZhFmogVXvoQYOZksF2inWMbnf_bRKXk4Mt9O7Ymd0nS75Qg-mtFArNVwjNjC5KWQRAOk/s320/guru.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">O <st1:verbetes w:st="on">homem</st1:verbetes> é <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">animal</st1:verbetes> filosófico.
A <st1:verbetes w:st="on">opção</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">pelo</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">misticismo</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> se
estende a <st1:verbetes w:st="on">todos</st1:verbetes>, <st2:dm w:st="on">pois</st2:dm>
exige <st1:verbetes w:st="on">fé</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes>
a <st1:verbetes w:st="on">filosofia</st1:verbetes> é <st1:verbetes w:st="on">inevitável</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">nossa</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">relação</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
o <st1:verbetes w:st="on">mundo</st1:verbetes>. Somos <st1:verbetes w:st="on">seres</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">pensantes</st1:verbetes>, e <st2:hm w:st="on">pensar</st2:hm>
é <st2:hdm w:st="on">filosofar</st2:hdm>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Apesar</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> disso, tentados <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">soluções</st1:verbetes> fáceis <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">nos</st1:verbetes> prometem uma <st1:verbetes w:st="on">imaginária</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">felicidade</st1:verbetes>, vivemos afastados da <st1:verbetes w:st="on">filosofia</st1:verbetes>. Temos <st2:dm w:st="on">medo</st2:dm> dela,
<st2:dm w:st="on">pois</st2:dm> o <st1:verbetes w:st="on">roteiro</st1:verbetes>
dos filósofos exige de <st1:verbetes w:st="on">nós</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">reflexão</st1:verbetes>, <st2:dm w:st="on">disposição</st2:dm>
transformadora, avaliação <st1:verbetes w:st="on">contínua</st1:verbetes> do <st1:verbetes w:st="on">nosso</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">comportamento</st1:verbetes>.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Os filósofos propõem uma <st1:verbetes w:st="on">meta</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">aparentemente</st1:verbetes> inatingível: a <st1:verbetes w:st="on">felicidade</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">sem</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ilusões</st1:verbetes>. Será <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">isso</st1:verbetes> existe? É <st1:verbetes w:st="on">possível</st1:verbetes>
ao <st1:verbetes w:st="on">homem</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">ser</st2:hm> <st2:dm w:st="on">feliz</st2:dm> no <st2:dm w:st="on">cru</st2:dm>, <st1:verbetes w:st="on">isto</st1:verbetes> é, defrontando-se <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
as dolorosas <st1:verbetes w:st="on">evidências</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> o cercam – <st1:verbetes w:st="on">doenças</st1:verbetes>,
desigualdade <st1:verbetes w:st="on">social</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">perspectiva</st1:verbetes> da <st2:dm w:st="on">morte</st2:dm>? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Filósofos <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes>
Michel Onfray e Lou Marinoff dizem <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">sim</st1:verbetes>. Para eles é preciso que o homem deixe de lado os <st1:verbetes w:st="on">mitos</st1:verbetes>, alimentadores da <st1:verbetes w:st="on">crença</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">religiosa</st1:verbetes>, e elejam a <st1:verbetes w:st="on">razão</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">guia</st1:verbetes>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Mais</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> Platão e <st1:verbetes w:st="on">menos</st1:verbetes>
Prozac – propõe Marinoff, <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> publicou <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">livro</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">esse</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">título</st1:verbetes> e se rebela <st1:verbetes w:st="on">contra</st1:verbetes>
a ideia de <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> os <st1:verbetes w:st="on">antidepressivos</st1:verbetes>
podem <st1:verbetes w:st="on">nos</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">trazer</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">alívio</st1:verbetes> existencial. O Prozac apareceu <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> uma <st1:verbetes w:st="on">espécie</st1:verbetes>
de <st1:verbetes w:st="on">pílula</st1:verbetes> da <st1:verbetes w:st="on">felicidade</st1:verbetes>.
Chegou a <st2:hm w:st="on">estar</st2:hm> na moda <st1:verbetes w:st="on">até</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> se descobriram <st1:verbetes w:st="on">seus</st1:verbetes>
perigosos <st1:verbetes w:st="on">efeitos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">colaterais</st1:verbetes>,
<st2:dm w:st="on">inclusive</st2:dm> o de <st2:hm w:st="on">induzir</st2:hm> ao
<st2:dm w:st="on">suicídio</st2:dm>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Até</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> <st1:verbetes w:st="on">hoje</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> consta <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">alguém</st1:verbetes> tenha se <st1:verbetes w:st="on">matado</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">depois</st1:verbetes> de <st2:hm w:st="on">ler</st2:hm>
Platão. Morreram <st1:verbetes w:st="on">alguns</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">adeptos</st1:verbetes> do <st1:verbetes w:st="on">tal</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">amor</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">platônico</st1:verbetes>,
no <st1:verbetes w:st="on">século</st1:verbetes> XIX, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">isso</st1:verbetes> ocorria <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> deformação romântica do <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">pelo</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">idealismo</st1:verbetes> dos <st1:verbetes w:st="on">sentimentos</st1:verbetes>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Onfray é <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">radical</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Com</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">rigor</st2:dm> <st2:dm w:st="on">bem</st2:dm>
<st1:verbetes w:st="on">francês</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">prega</st1:verbetes>
a <st2:dm w:st="on">abolição</st2:dm> de todas as <st1:verbetes w:st="on">ilusões</st1:verbetes>
religiosas: “<st1:verbetes w:st="on">Só</st1:verbetes> o <st1:verbetes w:st="on">homem</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">ateu</st1:verbetes> pode <st2:hm w:st="on">ser</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">livre</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">porque</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">Deus</st1:verbetes> é <st1:verbetes w:st="on">incompatível</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> a <st1:verbetes w:st="on">liberdade</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">humana</st1:verbetes>”. <st1:verbetes w:st="on">Assim</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> Marinoff, <st1:verbetes w:st="on">ele</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">procura</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">estender</st2:hm>
a <st1:verbetes w:st="on">filosofia</st1:verbetes> ao <st1:verbetes w:st="on">grande</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">público</st1:verbetes> e, de <st1:verbetes w:st="on">certa</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">forma</st2:dm>, <st2:hm w:st="on">ocupar</st2:hm> o <st1:verbetes w:st="on">espaço</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">hoje</st1:verbetes>
preenchido <st1:verbetes w:st="on">pelos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">gurus</st1:verbetes>
da autoajuda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Se o <st1:verbetes w:st="on">projeto</st1:verbetes>
deles der <st1:verbetes w:st="on">certo</st1:verbetes>, teremos daqui a <st1:verbetes w:st="on">algum</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">tempo</st1:verbetes> os
filósofos fazendo <st1:verbetes w:st="on">concorrência</st1:verbetes> aos <st1:verbetes w:st="on">psicanalistas</st1:verbetes> e aos <st1:verbetes w:st="on">padres</st1:verbetes>.
Será <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> uma <st1:verbetes w:st="on">alternativa</st1:verbetes>
a <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">entregar</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">nosso</st1:verbetes> inquieto <st1:verbetes w:st="on">espírito</st1:verbetes>.<o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-44022435403866013272024-02-13T11:02:00.000-08:002024-02-13T11:08:51.090-08:00Como desce a cerveja?<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtWrZkt8xyXROyIhc0B1C2bD9Vuyp-O7PaeSrXUrtLYRqUd93f67eNpYfnyfY9JByhNCn42iHyRwrgO3PnrXFmPIl_0JuWGnjnOBcO7D14vvX2rAjxpyrWKJyl5uEToqL7bT-YQs_arjQO0B72_azoHPRwcTUNqq8MoUw86JKqkTgqMWFmvKVwAt133Esd/s480/Skol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtWrZkt8xyXROyIhc0B1C2bD9Vuyp-O7PaeSrXUrtLYRqUd93f67eNpYfnyfY9JByhNCn42iHyRwrgO3PnrXFmPIl_0JuWGnjnOBcO7D14vvX2rAjxpyrWKJyl5uEToqL7bT-YQs_arjQO0B72_azoHPRwcTUNqq8MoUw86JKqkTgqMWFmvKVwAt133Esd/s320/Skol.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">Nem todos ainda conseguiram engolir o <st1:verbetes w:st="on">slogan</st1:verbetes> da Skol. O <st1:verbetes w:st="on">uso</st1:verbetes>
do <st1:verbetes w:st="on">masculino</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes>
“A <st1:verbetes w:st="on">cerveja</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
desce <st1:verbetes w:st="on">redondo</st1:verbetes>” continua entrando quadrado
na <st1:verbetes w:st="on">cachola</st1:verbetes> até de estudiosos da <st1:verbetes w:st="on">língua</st1:verbetes>. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Um</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> deles publicou há algum tempo um artigo defendendo <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> o adjetivo se flexione no feminino. Acha que “redondo”
não se refere ao <st1:verbetes w:st="on">verbo</st1:verbetes> “descer”, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> sim ao estado do líquido. Ele justifica seu <st2:dm w:st="on">ponto</st2:dm> de <st1:verbetes w:st="on">vista</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> o <st1:verbetes w:st="on">argumento</st1:verbetes>
de <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> “a redondeza é a da cerveja <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>, <st2:dm w:st="on">líquida</st2:dm>, se adapta ao <st2:dm w:st="on">recipiente</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> a
contém e acompanha a <st1:verbetes w:st="on">anatomia</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">circular</st2:hm> da <st1:verbetes w:st="on">garganta</st1:verbetes>”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">A <st2:dm w:st="on">preferência</st2:dm> <st2:dm w:st="on">pelo</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">masculino</st1:verbetes> envolve
os <st1:verbetes w:st="on">níveis</st1:verbetes> morfológico e <st1:verbetes w:st="on">semântico</st1:verbetes> da <st1:verbetes w:st="on">língua</st1:verbetes>.
Do <st2:dm w:st="on">ponto</st2:dm> de <st1:verbetes w:st="on">vista</st1:verbetes>
morfológico, refere-se à possibilidade de se <st2:hdm w:st="on">transformar</st2:hdm>
<st2:dm w:st="on">adjetivo</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">advérbio</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Esse</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">tipo</st1:verbetes> de <st3:sinonimos w:st="on">mudança</st3:sinonimos>
é <st1:verbetes w:st="on">comum</st1:verbetes>; constitui <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">caso</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">derivação</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">imprópria</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">ou</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">conversão</st1:verbetes>. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Por</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> <st1:verbetes w:st="on">exemplo</st1:verbetes>: se
digo “Ele trabalha <st1:verbetes w:st="on">sério</st1:verbetes>”, o <st1:verbetes w:st="on">termo</st1:verbetes> “<st1:verbetes w:st="on">sério</st1:verbetes>” pode
não traduzir o estado da pessoa, e sim o <st1:verbetes w:st="on">modo</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ela</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">trabalha</st1:verbetes> (seriamente). Nesse <st1:verbetes w:st="on">caso</st1:verbetes> “<st1:verbetes w:st="on">sério</st1:verbetes>” é
um advérbio, <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">isso</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> concorda <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
o <st2:dm w:st="on">sujeito</st2:dm>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">A <st1:verbetes w:st="on">fragilidade</st1:verbetes>
da <st1:verbetes w:st="on">interpretação</st1:verbetes> do estudioso está no <st2:dm w:st="on">aspecto</st2:dm> semântico; decorre de <st1:verbetes w:st="on">ele</st1:verbetes>
<st2:hm w:st="on">dar</st2:hm> um <st1:verbetes w:st="on">sentido</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">estritamente</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">físico</st1:verbetes>
ao <st1:verbetes w:st="on">termo</st1:verbetes> “<st1:verbetes w:st="on">redondo</st1:verbetes>”.
Se a <st1:verbetes w:st="on">redondeza</st1:verbetes> se refere ao <st1:verbetes w:st="on">estado</st1:verbetes> da <st1:verbetes w:st="on">cerveja</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> se adapta ao <st2:dm w:st="on">recipiente</st2:dm>
<st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> a contém, tem-se a <st1:verbetes w:st="on">seguinte</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">situação</st1:verbetes>:
<st1:verbetes w:st="on">caso</st1:verbetes> o <st2:dm w:st="on">recipiente</st2:dm>
seja <st1:verbetes w:st="on">quadrado</st1:verbetes>, a cerveja também adquirirá
essa configuração. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><st1:verbetes w:st="on"><span style="font-size: 14pt;">Além</span></st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> disso, a ingestão de <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">líquido</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> se
limita ao “<st1:verbetes w:st="on">espaço</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">circular</st2:hm>
da <st1:verbetes w:st="on">garganta</st1:verbetes>”, <st1:verbetes w:st="on">ocasião</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> que, <st1:verbetes w:st="on">segundo</st1:verbetes>
o autor, <st1:verbetes w:st="on">ele</st1:verbetes> se arredonda. Transposto <st1:verbetes w:st="on">esse</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">limite</st2:dm>, o líquido
assumirá formas variadas a <st1:verbetes w:st="on">fim</st1:verbetes> de se <st2:hm w:st="on">amoldar</st2:hm> a outras partes do tubo digestivo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">O maior problema da <st1:verbetes w:st="on">leitura</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">feita</st2:dm> pelo especialista é <st2:hm w:st="on">nivelar</st2:hm>
o <st1:verbetes w:st="on">produto</st1:verbetes> anunciado ao de outras <st1:verbetes w:st="on">marcas</st1:verbetes>.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se a <st1:verbetes w:st="on">vantagem</st1:verbetes> está na redondeza física, <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> a Skol
se distinguiria da Brahma, da Schincariol <st1:verbetes w:st="on">ou</st1:verbetes>
da Antarctica? <st1:verbetes w:st="on">Qual</st1:verbetes> o <st1:verbetes w:st="on">sentido</st1:verbetes> de se <st2:hm w:st="on">criar</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">slogan</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> apregoa uma virtude encontrada também <st1:verbetes w:st="on">nos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">concorrentes</st1:verbetes>?
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">Na <st1:verbetes w:st="on">leitura</st1:verbetes> de “<st1:verbetes w:st="on">redondo</st1:verbetes>” <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">advérbio</st1:verbetes> é <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
está o <st1:verbetes w:st="on">valor</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">retórico</st1:verbetes>
da <st1:verbetes w:st="on">mensagem</st1:verbetes>. Todas as <st1:verbetes w:st="on">cervejas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">são</st1:verbetes>
líquidas, descem fisicamente <st1:verbetes w:st="on">igual</st1:verbetes> – <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">só</st1:verbetes> a Skol
desce “<st1:verbetes w:st="on">redondo</st1:verbetes>”. As outras, <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">antítese</st1:verbetes>,
descem “<st1:verbetes w:st="on">quadrado</st1:verbetes>”. Essa <st1:verbetes w:st="on">oposição</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">só</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ganha</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">sentido</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">quando</st1:verbetes> saímos do <st1:verbetes w:st="on">plano</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">físico</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">ou</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">literal</st1:verbetes>, <st2:dm w:st="on">para</st2:dm>
o <st3:sinonimos w:st="on">metafórico</st3:sinonimos>. A “<st1:verbetes w:st="on">redondo</st1:verbetes>”
associa-se a ideia de <st1:verbetes w:st="on">maciez</st1:verbetes>, fluidez,
bem-estar; “quadrado” liga-se a adstringência e <st1:verbetes w:st="on">desconforto</st1:verbetes>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">Numa das <st1:verbetes w:st="on">propagandas</st1:verbetes>
da Skol veiculadas <st1:verbetes w:st="on">pela</st1:verbetes> TV, deu <st2:dm w:st="on">para</st2:dm> <st2:hm w:st="on">perceber</st2:hm> a <st1:verbetes w:st="on">oposição</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">figurada</st1:verbetes>
desses <st1:verbetes w:st="on">atributos</st1:verbetes> (e <st1:verbetes w:st="on">só</st1:verbetes>
no <st1:verbetes w:st="on">plano</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">figurado</st1:verbetes>
é <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">eles</st1:verbetes>
podem se <st2:hdm w:st="on">caracterizar</st2:hdm> <st1:verbetes w:st="on">plenamente</st1:verbetes>).
A <st1:verbetes w:st="on">tela</st1:verbetes> mostrava a <st1:verbetes w:st="on">oposição</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">entre</st1:verbetes> uma setinha <st1:verbetes w:st="on">móvel</st1:verbetes>,
<st2:hm w:st="on">circular</st2:hm>, amaciando <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">tubo</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">digestivo</st1:verbetes>,
e <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">quadrado</st1:verbetes>
áspero, pontiagudo, <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> o feria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt;">Em resumo: o slogan está linguisticamente <st1:verbetes w:st="on">correto</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Seus</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">criadores</st1:verbetes> souberam, <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">meio</st1:verbetes> da mudança de classe morfológica, criar
<st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">sugestivo</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">efeito</st1:verbetes> semântico a fim de convencer o
leitor a adquirir o produto. Um brinde a eles! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-28290305239792196542024-02-10T05:53:00.000-08:002024-02-11T16:58:33.368-08:00Carnaval ao pó da letra<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdTm0j6tFyQYXcA9UBhBtwN2ByKsRDmcZTyq7S4fDy4SqcgW4gJmwVIJlxzFNihpb3YyR2DkII1AAreR-UbmDJRfkAbBajxusty_XjQST0tYNaQpKGCeZZE0ipyW1yN1CKJB4Ywk9QsqHR9GWxELdoGeyzXhTZYDhNhumITa_5KeYcCo9J_o1DDZCVgiAn/s828/Livardo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="809" data-original-width="828" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdTm0j6tFyQYXcA9UBhBtwN2ByKsRDmcZTyq7S4fDy4SqcgW4gJmwVIJlxzFNihpb3YyR2DkII1AAreR-UbmDJRfkAbBajxusty_XjQST0tYNaQpKGCeZZE0ipyW1yN1CKJB4Ywk9QsqHR9GWxELdoGeyzXhTZYDhNhumITa_5KeYcCo9J_o1DDZCVgiAn/s320/Livardo.png" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Não estranhem o título. Ele faz referência
ao hábito politicamente correto de proibir letras de Carnaval nas quais haveria
preconceito contra determinados grupos. Tentaram fazer isso com “Tropicália” e “Cabeleira
do Zezé”, mas como se viu a tentativa não vingou. O pessoal continua dando
vivas à “mulata ta ta ta ta” e perguntando se, com aquela juba farta, o tal
Zezé... “é” ou não. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Mas o politicamente correto é
insaciável. Quem pensa que ele se sentiu derrotado não sabe de que a sua
voracidade é capaz. Diante disso, resolvi dar minha modesta contribuição. Afinal
de contas, o que caracteriza o Carnaval é a inversão de valores e papéis
sociais. Basta lembrar que na Idade Média, durante essa época, costumava-se
destronar a autoridade real e coroar um indivíduo do povo. Daí veio a figura do
Rei Momo, que hoje circula por ruas e salões afetando uma majestade que está
longe de ter. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Mas vamos ao meu contribuo, que consistirá
por enquanto numa breve indicação de músicas que devem se acrescentar às duas já
mencionadas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Comecemos por “Aurora”. Trata-se de uma
marchinha aparentemente inócua. Essa impressão muda quando se observam com
atenção os versos iniciais: “Se você fosse sincera,/ô ô ô ô Aurora,/ veja só
que bom que era,/ô ô ô ô Aurora.” A desconfiança
sobre a sinceridade de Aurora reflete uma mentalidade machista. Se não é
sincera, Aurora mente, e mentindo lança sobre as pessoas do seu gênero a sombra
do ardil e da trapaça. Como não relacionar isso com a mentira que Eva pregou em
Adão para que ele, inocentemente, comesse a maçã? Proponho então que se decrete
o crepúsculo de “Aurora”, deixando de cantá-la e dançá-la nas ruas e nos
salões. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">E “Máscara Negra”? Todos conhecem o clássico
de Ze Kéti e Pereira Matos. É sem dúvida uma música bonita, mas lamento dizer
que não deve mais ser cantada. Se não, vejamos. No finalzinho da letra o
“Pierrô” diz à “Colombina”: “Vou beijar-te agora/ não me leve a mal/ hoje é
Carnaval.” Perceberam a atitude
autoritária e truculenta? Quem pode negar que isso é assédio? Ele se propõe a
beijar a mulher sem o seu consentimento e cinicamente pede que ela não o leve a
mal (ou seja, tem consciência de que o beijo vai de alguma forma importuná-la).
“Máscara negra” deve ficar de fora em respeito à integridade do corpo da mulher,
que tem o direito de beijar (e ser beijada) por quem ela queira. Afinal de
contas, Não é Não.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">Acho que se deve incluir também “Jardineira”.
Essa marchinha parece de um lirismo inocente, mas não deve mais constar no
repertório carnavalesco. Quem não se lembra da letra? Indagada sobre a sua
intensa tristeza, a moça responde que o motivo foi uma camélia que caiu do galho
e morreu depois de dar dois suspiros. O emissor diz então à moça que não fique triste
porque ela tem o mundo ao seu dispor e (prestem atenção agora!) é muito mais
bonita do que a camélia que morreu. Ou seja, ele aceita alegremente a morte da
flor, o que mostra pouco respeito pela Natureza (e, por extensão, pela ecologia).
<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="tab-stops: 403.5pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt;">E “Marcha da Cueca”? A letra é bastante
conhecida. Alguém se diz disposto a matar quem roubou sua cueca para fazer pano
de prato. Até aí nada grave. Pode-se interpretar o propósito homicida como uma
hipérbole; o emissor estaria indignado com quem deu essa inusitada serventia a
sua roupa íntima. O grave aparece depois, quando ele confessa que a cueca foi
um presente que ganhou... da namorada. Namorada dar cueca de presente? Para fazer
isso ela devia desaprovar as roupas de baixo que ele usava. E como conheceu
essas roupas?! Essa música constitui um péssimo exemplo para os jovens que namoram
com recato e decência. <o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span> </span><span> </span><span> </span>Fico por aqui a fim de não aborrecer o leitor. Minhas
pesquisas, no entanto, vão continuar (a propósito, acabou de me ocorrer “Pirata
da perna de pau”, que deve ser banida em respeito aos deficientes físicos). Aguardem
novas contribuições, pois com um pouco de boa vontade (e espírito carnavalesco!)
é possível considerar o politicamente correto como um baluarte contra as
brigadas da intolerância e do preconceito. Ele ainda vai mudar este país.</span></p><p style="text-align: left; text-indent: 0px;"><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-53826168551971716092024-02-08T16:25:00.000-08:002024-02-08T16:40:36.282-08:00A folia de cada um<p> <span> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgslJ3IgbncjnJWE08yTyHU1I4CwreuPV6APFVTjQeBS8NGhzAXfPY10D-OGJQENlf3DmmGnjGLEM7X9g5t6b9jxco79pHdgRobwBTm9voQuYzsXDDMOFpdUhcSmTl4C7FpTiUDM-Win6efVAOeQOguvPLBTi_GDzcpIUVUnRGAtPreO0hsZjL-miCZGvGi/s1170/Foli%C3%A3o%202.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="878" data-original-width="1170" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgslJ3IgbncjnJWE08yTyHU1I4CwreuPV6APFVTjQeBS8NGhzAXfPY10D-OGJQENlf3DmmGnjGLEM7X9g5t6b9jxco79pHdgRobwBTm9voQuYzsXDDMOFpdUhcSmTl4C7FpTiUDM-Win6efVAOeQOguvPLBTi_GDzcpIUVUnRGAtPreO0hsZjL-miCZGvGi/s320/Foli%C3%A3o%202.jpeg" width="320" /></a></span></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Sempre fui um folião enrustido. Como tinha dificuldade de aderir à
folia, a família e os amigos me consideravam anticarnavalesco – o que não é
verdade. Brinco por dentro, com uma espécie de euforia espiritual. Pode parecer
contraditório falar em espírito a propósito de uma festa que celebra a carne,
mas a contradição é apenas aparente. O desejo é físico mas pode se sublimar, e
nesse caso a alma se funde com o corpo. Freud que o
diga. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;"> Carnavalescos
como eu têm dificuldade de cair no samba, no passo ou no frevo. Gostam mais de
olhar, imunes ao tumulto dos clubes e das ruas. São diferentes dos
que rejeitam o Carnaval com o argumento de que nessa ocasião o homem se
animaliza. Animal ele nunca deixou de ser – um animal soterrado por séculos de
civilização. A festa é o meio de deixar emergir a “fera” aprisionada. Ou isso,
ou a neurose, a psicose e outros males a que o progresso nos conduz. É preciso
vez por outra tirar a máscara de bons moços. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;"> O
carnavalesco enrustido compreende a necessidade de liberar o que há em nós de
instintivo. Não só compreende como sente um pouco de inveja dos que fazem isso
sem inibições, entregando-se sem reservas à alegria. O que ele tem não é
moralismo, é pudor, cuja manifestação visível é a timidez. Ao perceber isso, os
outros o provocam e às vezes o humilham.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Não adianta. Nada o faz balançar o corpo, nem mesmo os primeiros acordes
de “Vassourinhas", que sempre me pareceu um dos maiores símbolos do
Carnaval pelo seu poder de despertar as massas (nos clubes ou nas ruas, quando
tudo ameaça se tornar monótono, esses acordes reacendem a animação). A
tendência do enrustido é ver o Carnaval como nostalgia. Nostalgia do presente,
pelo momento que escapa, e a óbvia nostalgia do passado, pela lembrança de
outros Carnavais. Na sua imaginação, eles eram melhores do que os de hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;">É como se naquele tempo não houvesse tanta agitação ou maldade e fosse
possível brincar sem maiores riscos. As mulheres pareciam mais pudicas; e as
músicas, cheias de um romantismo que convidava aos devaneios de um grande amor
(mesmo que esse amor, como diz a letra da canção, desaparecesse com a fumaça).
Para o nostálgico, que é parente do melancólico, tudo que se distancia da
realidade é melhor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-fareast-language: PT-BR;"> Crença
ilusória. Os Carnavais do passado não são diferentes dos de agora. Cada época
imprime à festa a sua marca, mas o significado profundo permanece o mesmo.
Quando eu era menino, costumava ouvir relatos de mortes nos salões devido aos
porres com lança-perfume; ou de agressões, provocadas por ciúme, que terminavam
em assassinatos. Sob o aparente romantismo latejava a febre das grandes
paixões, potencializadas pela música e as drogas.<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;"><span> </span><span> </span>Vou assistir à festa
pela televisão, de olho também nos problemas que o País e o mundo enfrentam. Espero
que eles não tenham a força de inibir os que veem na festa a possibilidade de
esquecer por uns dias a violência das nossas ruas e o eventual alastramento da
guerra no Oriente Médio. Parece injusto “brincar” nesse contexto de conflagração
urbana e luta pelo poder. Mas por isso mesmo é preciso se entregar aos apelos da
música e da dança, nem que seja pela fria intermediação de um monitor de TV.</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-86282673465739425782024-01-30T06:06:00.000-08:002024-01-30T10:54:21.869-08:00Para melhor agradecer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP501QmhqS2UmRveKaGCC3cs0jrE-Ji-Kjc-GNMKPP3ekl68J9-JuSIwSKA-_9rWpecj5dVKynmgIMLOTZabzDcl4KrSqgOwUD5HB1Rf8yBwYYgvjfH40w_yRJb-F0LVokIVSJSmznDFQoPL0m5gBSnjNj1xDVj68EGDLKpSvVUMK9-SMCedSFVECGDvb6/s1280/Grato%20heart-1192662_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="853" data-original-width="1280" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP501QmhqS2UmRveKaGCC3cs0jrE-Ji-Kjc-GNMKPP3ekl68J9-JuSIwSKA-_9rWpecj5dVKynmgIMLOTZabzDcl4KrSqgOwUD5HB1Rf8yBwYYgvjfH40w_yRJb-F0LVokIVSJSmznDFQoPL0m5gBSnjNj1xDVj68EGDLKpSvVUMK9-SMCedSFVECGDvb6/s320/Grato%20heart-1192662_1280.jpg" width="320" /></a></div><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Tenho
lido críticas por parte de estudiosos da língua ao uso de “Gratidão” no lugar
de “Obrigado”. Alegam que esse é um caso de pedantismo e não deve substituir a
forma clássica com que nos acostumamos a reconhecer um favor. “Gratidão”, de fato,
soa um tanto pomposo. É como se, com a escolha do substantivo, o favorecido quisesse
enfatizar o sentimento e não simplesmente mostrar que dele está imbuído.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Já que você não pôde ir para o almoço,
vim aqui lhe trazer uns sanduíches. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Gratidão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vejam que o beneficiário, ou
beneficiária, não se limitou a mostrar-se agradecido(a). Evocou o que no ser
humano é uma manifestação de grandeza de alma. Escolhendo o substantivo, leva o
receptor a preencher todo um contexto elíptico (“Diante do favor que me fez,
demonstro-lhe minha...”). Convenhamos em que isso torna o diálogo um tanto
solene e pouco natural. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Risque-se então “Gratidão”, estou de acordo.
Mas por que usar necessariamente “Obrigado”, e não “Grato?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este é sintético, franco, e não sugere nenhum
prévio compromisso da parte do favorecido. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No “Obrigado”, como se sabe, o contemplado
“se obriga” ao dever da retribuição. Confessa-se compelido a retribuir o favor
mesmo que não esteja sendo sincero. Fala mais por um dever social do que por um
impulso espontâneo, que traduza o reconhecimento pelo benefício recebido. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">As
coisas que fazemos por obrigação nem sempre são prazerosas. Quem já não ouviu
de alguém a justificativa de que “fez porque foi obrigado”, ou seja, de
que agiu de determinada maneira porque não tinha alternativa? Por que
transferir essa possibilidade ao domínio das gentilezas e dos favores? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Se “me
obrigo” diante de alguém, tenho-o como credor ou juiz – tipos sociais que não nos
acostumamos a ver com simpatia. O primeiro nos cobra, o segundo nos julga, e
ninguém se sente à vontade quando submetido a tais injunções. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Sei
que a sociedade se rege por obrigações de uns para com os outros. Mas não fica
bem estendê-las ao domínio das reações espontâneas e afetuosas, como as que
experimentamos diante de quem nos presta um favor ou concede uma graça. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Não
vou deixar de dizer “Obrigado”, que já é um clichê e cujo esvaziamento
semântico vem se estendendo ao plano morfológico. Tanto é assim que o empregam
tanto homens quanto mulheres (para desespero dos adeptos da linguagem neutra,
que escolheriam “Obrigade”). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Mas
confesso que prefiro mesmo “Grato”, que não comporta nenhum dever retributivo e
tem o mesmo étimo de “Gratidão”. Além do mais, sendo um adjetivo, enfatiza o
estado do beneficiário e não “a substanciosa” grandeza do sentimento. Sem falar
que ganha da concorrente pela extensão. Os manuais de estilo, como se sabe,
recomendam o uso de palavras curtas, e por esse critério o dissílabo “Grato” é
preferível ao polissilábico “Obrigado”.<o:p></o:p></span></span></p><br /><p></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-34080117815856553992024-01-25T17:20:00.000-08:002024-01-30T10:49:35.596-08:00O desafio de manter o foco<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyogimhywYAnXq6ZjrlwTUE23g7rLPFGKVSygouTX13YkzIafq655I91Z1qfAVQl-4RCfxceLK5Ct6pbAqsDdGbsIS754GuzaKM38rI5-8dUcm14Z8PjgTW2aAgCcA2fHOFd1d_2msRhl7WGMNcnmqpYQqGgIFtDyPZCiDAvkAAJVfoR_N7fFP9evRxYbn/s1024/manter%20o%20foco%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="853" data-original-width="1024" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyogimhywYAnXq6ZjrlwTUE23g7rLPFGKVSygouTX13YkzIafq655I91Z1qfAVQl-4RCfxceLK5Ct6pbAqsDdGbsIS754GuzaKM38rI5-8dUcm14Z8PjgTW2aAgCcA2fHOFd1d_2msRhl7WGMNcnmqpYQqGgIFtDyPZCiDAvkAAJVfoR_N7fFP9evRxYbn/s320/manter%20o%20foco%202.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Hoje se fala muito
em manter o foco. São incontáveis os livros sobre o tema, que a meu ver implica
basicamente dois tipos de atitude: ter em mente um objetivo e persistir até
alcançá-lo. Muitos não sabem o que querem e se esforçam em vão. Outros até miram
com clareza o alvo, mas não têm constância para chegar até ele. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">O problema não
atinge apenas pessoas comuns ou de mediana inteligência. Acomete também os gênios.
Um caso famoso é o de Leonardo da Vinci, que costumava deixar os trabalhos pela
metade (embora, segundo seus biógrafos, o motivo para isso fosse nobre: a sua
imensa curiosidade por tudo). Outro caso é o de Jean-Paul Sartre; em texto que
li há algum tempo, Wilson Martins criticava no filósofo existencialista, entre
outras interrupções, o fato de não ter dado prosseguimento a “O ser e o nada”. Ele
teria morrido devendo isso à humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Quem não completa
o que começou fica sobretudo em débito consigo mesmo. E, pelo número de publicações
que o problema vem suscitando, são muitas hoje as pessoas nessa situação. A
cada manhã começam algo novo, mas o impulso para sequenciá-lo só vai até a
noite. No dia seguinte, ao acordar, parecem ter perdido o fio que as conectava
ao antigo propósito e têm que recomeçar do zero. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Não que esse
pessoal queira se “reinventar” a cada dia. Esse verbo possui uma conotação
positiva e se refere à capacidade, que poucos têm, de estar sempre renovando
seus projetos. O recomeço a que me refiro consiste em reconectar os fios de uma
deliberação que, por uma misteriosa química, a noite dispersou. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Isso não é nada fácil,
pois depende de uma aliança entre vontade e predisposição inata. Ou seja, a
genética interfere. Sabe-se que, se não comanda tudo, ela tem um peso que pode
amargamente contrabalançar o empenho com que o indivíduo procura reencontrar o
seu rumo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">A atenção que hoje
se dá ao foco mostra que a dificuldade de estabelecer uma diretriz (intelectual
ou existencial) está em boa medida ligada aos estímulos da vida moderna. Atualmente
são muitos os apelos para seguir diferentes tendências de comportamento, grande
parte deles potencializada pela instantaneidade da internet. Como se situar
nessa avalanche de ideias que requisitam nossa atenção ao mesmo tempo que a despedaçam?
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Os inúmeros apelos
à dispersão fazem com que o desafio de manter o foco seja sobretudo interior. Mais
do que ficar atento ao que se passa no mundo, o indivíduo deve voltar a atenção
para si mesmo. Deve escolher em função de “quem é”, e não “ser” em função do
que escolhe. Pois muitas vezes as escolhas, ao contrário do que diz o mestre do
existencialismo citado linhas atrás, são determinadas por ilusões que a
sociedade inculca no indivíduo para adequá-lo ao seu funcionamento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Em tempo: o propósito
desta crônica é um tanto terapêutico, pois também tenho dificuldade de manter o
foco. Sei que, se me concentrasse suficientemente nas tarefas, produziria mais
e talvez melhor. Já tentei menosprezar o problema fazendo uma frase: “Os gurus
da autoajuda dizem que é preciso ter foco. Isso para mim não é problema; tenho
vários.” Em seu humorístico nonsense, a frase pode ter ficado interessante –
mas não afastou o abatimento que vez por outra a falta de constância nas metas
provoca em mim. <o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-51919198818555920712024-01-08T16:16:00.000-08:002024-01-08T16:16:00.695-08:00O duplo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEj1N2rkUgw2nv7kHjtH9TxPXRAScddzVsAdfZd_OmYPJHximiBD5z4tM24pJuwnt59YJqpqPb4sXVC1Nykfll9ghXkspzmPkHwDyqVjH76giRfrnW9sIJWsBJUwMW33cZh0iykpZQP6i22RaDdtUT-korzbWSTkJI4CueSgJdl42k0pkbKpJwi-obLu1S/s828/Dia%20do%20Leitor.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="727" data-original-width="828" height="281" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEj1N2rkUgw2nv7kHjtH9TxPXRAScddzVsAdfZd_OmYPJHximiBD5z4tM24pJuwnt59YJqpqPb4sXVC1Nykfll9ghXkspzmPkHwDyqVjH76giRfrnW9sIJWsBJUwMW33cZh0iykpZQP6i22RaDdtUT-korzbWSTkJI4CueSgJdl42k0pkbKpJwi-obLu1S/s320/Dia%20do%20Leitor.jpeg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mal coloca a primeira
palavra no papel, ele ouve uma voz:<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Finalmente você se decidiu...<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Hein?! Se decidiu a quê?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– A começar o texto, ora. Faz
tempo que eu estou esperando.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Quem é você?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Sou o seu leitor. Vê se
capricha para não me decepcionar.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– O meu leitor? E o que está
fazendo aqui? Espere pelo menos eu terminar. Sua hora vem depois.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Nada disso. Quero acompanhar o
seu trabalho, talvez dar uma força. Afinal, você escreve para mim. Tenho todo o
direito de lhe cobrar.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Cobrar?! Agora eu quero
liberdade. Sua presença vai terminar me bloqueando. Dê o fora!<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Dar o fora... Cuidado para não
se arrepender do que está dizendo. Você pensa que significa alguma coisa sem
mim?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Não seja pretensioso. Tenho
liberdade para dizer o que quero, a quem quero e como quero.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Aí é que você se engana. Posso
reduzir o que faz a uma insignificância. Posso estragar sua reputação e impedir
que outros o leiam. E o pior: posso deixar você na mais completa solidão.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Como?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Ignorando os seus escritos.
Deixando que fale sozinho.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Bem... sei que você tem esse
poder, mas não é por isso que vou lhe aturar. E se me encher muito o saco,
posso acabar dispensando-o. Escrevo para mim, e pronto.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Deixe de blefe! Você bem sabe
que isso não é possível. Qual o sentido de escrever para si? Quem iria atestar
o seu valor (caso você tenha)? Ou afagar a sua vaidade (que seguramente você
tem)?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Todo homem tem direito à
vaidade se o que faz é bom.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Mas quem decide sobre a
qualidade do que ele faz? Ele próprio? Aí não seria vaidade, seria... delírio.
Conheço muitos que vivem de fantasiar a própria glória; esses dão pena. Acho
que você não é um deles.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Escute, essa conversa está me
impedindo de escrever. Dê o fora e espere o texto ficar pronto. Aí você diz o
que quiser.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Mais um blefe! Você está
preocupadíssimo com o que eu possa dizer. Por que finge indiferença?<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Não posso escrever enquanto
você estiver por perto vigiando minhas palavras e avaliando se elas vão lhe
agradar ou não. Isso é tirania.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Eu proponho que você me
esqueça e faça o que tem que fazer.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Não faço, pronto! Desisti.
Assim também deixo você frustrado. Não terá o que ler...<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Para mim, tanto faz. Não vou
mesmo perder muita coisa. Você está sem assunto.<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Assuntos não faltam, ora!<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Mentiroso. Está sem assunto,
sim. E aposto como vai terminar, por falta do que dizer, contando esta conversa
entre nós dois. Como se ela interessasse a alguém!<o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-59467292695882559782024-01-06T05:53:00.000-08:002024-01-06T05:59:03.089-08:00Ano-Novo e reconciliação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6MzLhz6etOyLJ_hddrOCcK6k4oWpqVrodHImH1NV19mC8y8fVgKyKZ-h6ujc2JFmZ5upUI02jhsx2fi_Th9B6p5RaA1Obua7QfXpv33UB79gPCPlkXhbq50CQVfLCTsLW4XPNHDctY7hFehrgBb9wbEDH4q4XlqZbPW5WSVm4_-sHdT6nrnAPvzE4pP0P/s276/reconcilia%C3%A7%C3%A3o.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="276" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6MzLhz6etOyLJ_hddrOCcK6k4oWpqVrodHImH1NV19mC8y8fVgKyKZ-h6ujc2JFmZ5upUI02jhsx2fi_Th9B6p5RaA1Obua7QfXpv33UB79gPCPlkXhbq50CQVfLCTsLW4XPNHDctY7hFehrgBb9wbEDH4q4XlqZbPW5WSVm4_-sHdT6nrnAPvzE4pP0P/s1600/reconcilia%C3%A7%C3%A3o.jpeg" width="276" /></a></div><br /><p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">As </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">grandes</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">datas</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
têm </span><st2:dm style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">sobretudo</st2:dm><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">um</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">valor</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> simbólico. É o </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">caso</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> do </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">Ano-Novo</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">,
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">em</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">essência</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">não</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">muda</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">nada</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">mas</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">nos</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
dá a </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">impressão</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> de </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
alguma </span><st2:dm style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">coisa</st2:dm><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">recomeça</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">.</span></p><p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on">Todo</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ano</st1:verbetes> a
<st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> é um <st1:verbetes w:st="on">sinal</st1:verbetes>
de envelhecimento, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> insistimos <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">pensar</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">novo</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">tempo</st1:verbetes> nasce à
medida que outro morre. <st1:verbetes w:st="on">Em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">vez</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">sucessão</st1:verbetes>,
renovação. Na <st1:verbetes w:st="on">ingênua</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">alegoria</st1:verbetes> do <st1:verbetes w:st="on">nosso</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">desejo</st1:verbetes>, o <st1:verbetes w:st="on">Ano-Novo</st1:verbetes>
aparece <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">bebê</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">rechonchudo</st1:verbetes>
e <st1:verbetes w:st="on">risonho</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
vem <st2:hm w:st="on">substituir</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
velhinho <st1:verbetes w:st="on">magro</st1:verbetes> e <st1:verbetes w:st="on">decrépito</st1:verbetes>.
<o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on">Ambos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">são</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">imagens</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">nós</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">mesmos</st1:verbetes>. A <st1:verbetes w:st="on">segunda</st1:verbetes>
corresponde ao <st1:verbetes w:st="on">nosso</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">eu</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">real</st1:verbetes>; a <st1:verbetes w:st="on">primeira</st1:verbetes>, à <st1:verbetes w:st="on">fantasia</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
julgamos <st2:hm w:st="on">renascer</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">melhores</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">sem</st1:verbetes> os <st1:verbetes w:st="on">velhos</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">vícios</st1:verbetes> e <st1:verbetes w:st="on">defeitos</st1:verbetes>.
A <st1:verbetes w:st="on">cada</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ano</st1:verbetes>
se renova o <st1:verbetes w:st="on">ciclo</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">promessas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">são</st1:verbetes>
cumpridas e <st1:verbetes w:st="on">projetos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">jamais</st1:verbetes>
viram <st2:dm w:st="on">realidade</st2:dm>. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;">Precisamos dessas <st1:verbetes w:st="on">transições</st1:verbetes>
pomposas <st2:dm w:st="on">para</st2:dm> nelas <st2:hm w:st="on">enquadrar</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">nossos</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">propósitos</st1:verbetes>
de <st4:sinonimos w:st="on">mudança</st4:sinonimos>. <st1:verbetes w:st="on">Qual</st1:verbetes>
a <st1:verbetes w:st="on">graça</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes>
se <st2:hm w:st="on">deixar</st2:hm> de <st2:hm w:st="on">fumar</st2:hm> num <st1:verbetes w:st="on">dia</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">qualquer</st1:verbetes>?
Faz <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">efeito</st1:verbetes>
<st2:hm w:st="on">pensar</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> o <st1:verbetes w:st="on">abandono</st1:verbetes> do <st1:verbetes w:st="on">cigarro</st1:verbetes>
vai <st2:hdm w:st="on">ocorrer</st2:hdm> <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes>
um ano que se inicia. E <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> a partir do
Ano-Novo nos transmutaremos num “novo homem”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><st1:verbetes w:st="on">Assim</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes>
uns <st1:verbetes w:st="on">vão</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">deixar</st2:hm>
o <st1:verbetes w:st="on">cigarro</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">outros</st1:verbetes>
prometem <st2:hm w:st="on">estudar</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">afinco</st1:verbetes> para concursos. <st1:verbetes w:st="on">Ou</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">mudar</st2:hm> de <st1:verbetes w:st="on">profissão</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Ou</st1:verbetes> <st2:hdm w:st="on">pedir</st2:hdm> <st1:verbetes w:st="on">finalmente</st1:verbetes> a <st1:verbetes w:st="on">namorada</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">casamento</st2:dm>. <st1:verbetes w:st="on">Mesmo</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">nada</st1:verbetes> disso
seja <st1:verbetes w:st="on">feito</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">este</st1:verbetes>
é o <st1:verbetes w:st="on">momento</st1:verbetes> de <st2:hm w:st="on">sonhar</st2:hm>
“a sério” <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> a possibilidade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;">As <st1:verbetes w:st="on">disposições</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">comuns</st1:verbetes>
dizem <st1:verbetes w:st="on">respeito</st1:verbetes> aos <st1:verbetes w:st="on">hábitos</st1:verbetes>
e ao <st1:verbetes w:st="on">caráter</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Quem</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> promete a <st2:hm w:st="on">partir</st2:hm>
de <st1:verbetes w:st="on">agora</st1:verbetes> se <st2:hm w:st="on">tornar</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">generoso</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">humilde</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">disciplinado</st1:verbetes>? <st1:verbetes w:st="on">Quem</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> vai <st2:hm w:st="on">moderar</st2:hm> o <st1:verbetes w:st="on">egoísmo</st1:verbetes> e <st2:hm w:st="on">desenvolver</st2:hm> o <st1:verbetes w:st="on">senso</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">solidariedade</st1:verbetes>?
<st1:verbetes w:st="on">Quem</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes>
se tornará no próximo ano <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">ser</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">humano</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">melhor</st1:verbetes>?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p><st2:dm style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">Para</st2:dm><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">isso</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> existe a </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">data</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">, e </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">não</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
adianta </span><st3:infinitivo style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">reagir</st3:infinitivo><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">com</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">cinismo</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> a </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">tão</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
sinceras </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">deliberações</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">. É </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">preciso</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">vez</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">por</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">outra</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> uma </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">imagem</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">ideal</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> de </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">nós</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">mesmos</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> ocupe o </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">lugar</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
do </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> somos. Essa </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">ilusão</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
de aperfeiçoamento e mudança </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">nos</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> anima a
</span><st2:hdm style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">enfrentar</st2:hdm><span style="text-indent: 35.45pt;"> o </span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">ano</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;">
</span><st1:verbetes style="text-indent: 35.45pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="text-indent: 35.45pt;"> vem. E, sobretudo, reconcilia-nos provisoriamente
com nós mesmos.</span> </p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-42952733526548772302024-01-02T05:55:00.000-08:002024-01-02T06:20:48.352-08:00Convite ao otimismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipJMpNyvOXjflr_ujLev4vQV5Vd16tdI06GR0gMuy2ZJ9k6IT32plYI5ROZNaiFfcFAWV_ibOOjbxSpGYK5F1MokaV0g-4iDn6YdB5PbndUnHTutmReV9i_F7VyONkK6_vrqVY4sLVLA4g5CpNvLtowX_CVTwVy0NHvH3ZhrGfrX6rOf8bBPr5jtrKnd-n/s640/otimismo.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="640" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipJMpNyvOXjflr_ujLev4vQV5Vd16tdI06GR0gMuy2ZJ9k6IT32plYI5ROZNaiFfcFAWV_ibOOjbxSpGYK5F1MokaV0g-4iDn6YdB5PbndUnHTutmReV9i_F7VyONkK6_vrqVY4sLVLA4g5CpNvLtowX_CVTwVy0NHvH3ZhrGfrX6rOf8bBPr5jtrKnd-n/s320/otimismo.webp" width="320" /></a></div><br /><p><span style="text-align: justify;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;">As expectativas não são nada boas para o ano
que se inicia, mas lhe convido a ser otimista. Sei que não é fácil diante de tantas
ameaças, como a do aquecimento global, mas até disso é possível tirar algum
proveito. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;">O excesso de calor pode, por
exemplo, fazer a garota que até então não lhe dava bola “se derreter” para o
seu lado. Seria um ganho. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">É verdade que a polarização
ideológica vai continuar afastando, inclusive, pessoas da mesma família, mas
isso pode em alguma medida ser contornado se você evitar discutir política em
ocasiões delicadas, como as refeições. Se não for possível, evite dizer em quem
vai votar antes de terminar o almoço para não comprometer a digestão. Diga
depois e abrace os que não concordam com você, a não ser que entre eles esteja
aquele cunhado parrudo que gosta de fazer brincadeiras sem graça. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Existem as
guerras, é verdade, que não poupam nem a terra onde Cristo nasceu (acho que, se
voltar ao mundo, ele vai escolher outro lugar). Vamos contudo torcer para que
os litigantes deixem de matar mulheres e crianças; se for mesmo inevitável
brigar, que se matem uns aos outros. Desse modo será possível contar com o fim
dos conflitos por falta de mão de obra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Muitos temem uma
hecatombe nucelar, mas tenho a impressão de que ela nunca vai ocorrer. Uma
tragédia dessa dimensão acabaria com o mundo inteiro, ou seja, destruiria
também os responsáveis pelas detonações, que obviamente não estariam dispostos
a perder a vida. O que tem assegurado a permanência da nossa espécie na Terra,
afinal de contas, é o velho e natural instinto de sobrevivência. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Sei que é difícil manter o otimismo num mundo tão conflagrado, mas não custa tentar –
mesmo porque não há outra saída. Como não se pode mudar a ordem (ou a desordem)
das coisas, o melhor é se concentrar em metas individuais. Aqui vão algumas: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;">- Acredite em você.
Alguém, afinal, tem que fazer isso.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Seja prudente,
comendo apenas o essencial para satisfazer a sua gula. Lembre-se de que o
excesso de calorias pode impedir que você corra de algum assaltante que queira
lhe roubar o celular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Faça exercícios
com moderação. Se na academia não houver alguém com esse nome, faça com outro
instrutor mesmo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Seja educado no
trânsito. Se alguém, por exemplo, lhe der uma “fechada”, não o agrida berrando que
a mãe dele (ou dela) pratica a mais antiga das profissões. Opte por lhe destinar
silenciosamente “uma banana” e siga em frente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Não queira ter
um monte de seguidores nas redes sociais. Contente-se com os que possam alcançá-lo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Evite a frequência no uso do celular. Caso a redução
lhe provoque crise de abstinência, consulte o Google para saber o que fazer. Você
pode lançar mão desse expediente várias vezes por dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">- Desconfie da
Inteligência Artificial, pois muitas vezes ela mistura os dados e pode deixá-lo
mais “burro” </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: left;">(entre aspas, para não ofender o animal) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;">do que você já é.</span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> - Procure viajar,
conhecer outros lugares. Eles em essência não são diferentes do seu lugar de
origem, mas você levará algum tempo para perceber isso e nesse intervalo poderá
sonhar.</span>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-78019085778045864572023-12-27T09:54:00.000-08:002023-12-27T09:54:32.343-08:00Sobre o tempo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEdrpVCRS9wsWSbsd9rEo9WskF3T6QLdswl1LayzPt0PuKPBoH39_sP-HAMJ2wBAfS6YhGoCocQAsJDCEw8e14AOGCZQhKe0gAIk9R3Naj-RorHArHhqPaUkLw-kG4rdv5ebuIRSfIpyil05_cAXK_LTzJ0Wg5oxg5EJCV7UljSysZ_pRX0CHOVCg5qoX9/s626/Tempo.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="626" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEdrpVCRS9wsWSbsd9rEo9WskF3T6QLdswl1LayzPt0PuKPBoH39_sP-HAMJ2wBAfS6YhGoCocQAsJDCEw8e14AOGCZQhKe0gAIk9R3Naj-RorHArHhqPaUkLw-kG4rdv5ebuIRSfIpyil05_cAXK_LTzJ0Wg5oxg5EJCV7UljSysZ_pRX0CHOVCg5qoX9/s320/Tempo.webp" width="320" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">O
tempo é um dos maiores enigmas humanos. Muitos já tentaram decifrá-lo, mas, ou
não tiveram suficientemente tempo para isso, ou desistiram pela complexidade do
tema. A hipótese mais viável é a segunda, pois quem se dispõe a meditar sobre a
passagem do tempo não está ocupado com outras coisas e pode se dedicar com
muita calma a isso (alguém já disse que, sem ócio, não haveria filosofia nem
chá dançante).<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">O
que mais nos angustia no tempo é o seu fluir interminável. Se você faz alguma
coisa errada, não consegue voltar atrás. O ideal seria que retrocedêssemos no
relógio e conseguíssemos apagar o conteúdo existencial a ela associado. Mas a
desvantagem disso é que não aprenderíamos com a experiência, pois ela é feita
de erros e perda de tempo. No fim, quando você já aprendeu tudo (até a ler
manuais de instrução), não há mais como colocar o aprendizado em prática. <o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Henri
Bergson distingue tempo de duração. O primeiro diz respeito à cronologia; o
segundo, à percepção subjetiva que temos do fluir cronológico. Isso é o que faz
um evento “demorar mais" do que outro, embora ambos tenham a mesma
extensão. Essa diferença perceptiva relaciona-se, freudianamente, com a
sensação de prazer ou desprazer. O que é bom “passa rápido”; o que é ruim...
“custa a passar”.<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Suponha
que você tenha cinco minutos para assistir a uma aula de trigonometria e os
mesmos cinco para estar com a namorada na praia – os dois sozinhos, sob a luar,
estendidos na areia e sem nem um siri para atrapalhar. O que vai passar mais
rápido? Estar com a namorada, claro. Se você acha que é a aula, sofre de algum
distúrbio psicológico ou tem interesse pela professora. <o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Tem
gente que insiste em ignorar a passagem do tempo e faz isso cinicamente, rindo,
sem nem ter o cuidado de esconder a “dentadura”. Outros pintam o cabelo mesmo
que até agora não tenha aparecido um produto que dê ao tingimento uma cor
natural; o resultado é aquele preto ou marrom fechado que delata o ingênuo
propósito de quem quer parecer mais novo. Não adianta tentar fingir que o tempo
não passa, porque o corpo atesta o contrário. Rugas, estrias, gorduras nos
braços e no abdômen acabam revelando a idade que se tem. <o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Isso
não impede, claro, que a pessoa seja espiritualmente jovem e até se dê a
excessos participando de grupos da terceira idade (uma amiga minha fraturou a
bacia tentando aprender a dançar valsa numa das reuniões). O importante é que
tais excessos sejam antecedidos de exames médicos e, dentro do possível,
acompanhados por um cardiologista. Mas é bom primeiro saber quanto ele vai
cobrar, pois a medida poderá surtir o efeito oposto e, ao receber a conta, o
paciente levar um susto e morrer do coração.<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Uma
das nossas angústias é “matar o tempo” (ao redigir esta crônica, por exemplo,
não faço outra coisa), e para isso muitos se submetem a atividades humilhantes,
como jogar porrinha ou assistir mais de dez vezes ao mesmo filme na sessão da
tarde. “Matar o tempo” é esquecê-lo, e só se dispõe a isso quem não tem
mesmo o que fazer – daí os livros de autoajuda aconselharem a
pessoa a sempre se ocupar com alguma coisa. Você
pode seguir esse conselho rasgando a maioria deles, o
que lhe tomará um tempo enorme.<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Dizem
que não suportamos pensar no tempo porque nos sentimos insignificantes diante
do infinito. Conversa! No fundo ninguém dá a mínima bola para o infinito, pois
sabe que jamais chegará lá. O que nos angustia é mesmo o efêmero, o escoar
ininterrupto de tudo. Se digo “ai”, esse “ai” já passou, e se eu quisesse
recuperá-lo não conseguiria dizendo “ai” de novo. Este outro tem o mesmo som e
as mesmas letras, mas já não é o primeiro (o que também mostra como a linguagem
pode ser enganosa). Segundo Heráclito, “ninguém atravessa duas vezes as águas
do mesmo rio” – e acrescento: sobretudo se na primeira foi perseguido por um
jacaré.<o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-10766719996099902302023-12-24T05:47:00.000-08:002023-12-24T13:02:38.562-08:00Sinal dos tempos<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih8oDjHO7J1v2amF8jO9QDDCdD1IoMzeBqYsqP1ejrYnTR9kVFdry0CLZCaK5gWROenVzVDipCkv0-OPgc6dopgqxKNq6qlsURcadYWycWhlUjEfHjjUkffwCLuE5QTYGdTmmgHyj4fvgpgXG9SkBDmVssmNACgxBJ2acMUVMhtKYy1QA96YuZS_zNLlVA/s647/Papai%20Noel.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="647" data-original-width="647" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih8oDjHO7J1v2amF8jO9QDDCdD1IoMzeBqYsqP1ejrYnTR9kVFdry0CLZCaK5gWROenVzVDipCkv0-OPgc6dopgqxKNq6qlsURcadYWycWhlUjEfHjjUkffwCLuE5QTYGdTmmgHyj4fvgpgXG9SkBDmVssmNACgxBJ2acMUVMhtKYy1QA96YuZS_zNLlVA/s320/Papai%20Noel.jpg" width="320" /></a></div><br /> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele pensou em dar
à família um Natal diferente. Estava cansado de ver todo ano a mesma coisa: a
parentada em volta da árvore, comendo e bebendo, depois a entrega dos presentes
e por fim a ceia. Sentia que, a despeito de a festa existir para renovar os
espíritos, era preciso mudar um pouco o ritual. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Mas como fazer
para inovar num acontecimento que se alimentava da tradição? A mulher havia
anos armava a mesma árvore. Estava (a árvore, não a mulher) tão velhinha, que toda
a iluminação já fora trocada. Ele sentia um confortável prazer em ver a esposa
retirar do armário os objetos conhecidos e recolocá-los quase no mesmo lugar. Um
ano era muito tempo, o que sempre o fazia se surpreender com detalhes que não
observara em anos anteriores. A roupa do anjo Gabriel, por exemplo. Ou a barba
de um dos reis magos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Então lhe ocorreu
a ideia: contratar um Papai Noel para vir, em pessoa, entregar os presentes. A
família era pequena; dava para acomodar num saco os mimos que compraria para a
esposa, os três filhos, os sogros e as duas cunhadas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Ficou imaginando o
efeito: meia-noite, ele reunido com a família na sala, e todos estranhando nesse
ano não haver presentes. A sogra desapontada, pois esperava um novo modelo de toalha
de mesa. O sogro chateado, já que precisava de cuecas e deixara de comprá-las justamente
porque o Natal estava chegando. De repente, alguém bateria na porta. A filha
mais nova iria ver quem era e voltaria gritando, afogueada: “Mãe, é Papai Noel!”.
“O quê?!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Bolado o plano, tratou
de o pôr em prática. Não foi difícil contratar alguém. Nessa época muitos indivíduos
com o chamado “físico do papel” dão seus nomes a agências de emprego, que são
procuradas sobretudo pelos shoppings. Ele foi a uma delas. Depois de ver fotos e
fazer uma entrevista com o escolhido, contratou o serviço. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Comprou os
presentes e, na véspera do grande dia, deixou-os com o homem. Era um senhor
grisalho, bonachão, conforme convinha à personagem. Chamava-se Epaminondas e
tinha um Fiat velho, mas conservado, em que levaria os pacotes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Enfim, noite de Natal.
Para diminuir a perplexidade dos parentes, que não compreendiam a ausência dos presentes
em volta da árvore, ele disse que mais tarde haveria uma surpresa. Gerou-se uma
tensa mas benéfica expectativa, que só foi quebrada quando um carro parou quase
em frente à casa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Após uns dois
minutos, ouviram-se gritos de “Pega! Pega ladrão!”. Ele correu até a calçada e
viu Epaminondas desesperado. Apontava para dois rapazes que dobravam a esquina levando
o saco no qual estavam os presentes. O velho balançava a cabeça, em desalento,
e repetia como que se desculpando: “Chegaram de surpresa! Não pude fazer
nada...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">
Tratou de tranquilizar o pobre homem e o conduziu ao interior da casa. “Este
é Epaminondas”, apresentou, explicando em seguida o que acontecera. Houve de
início algum desapontamento, mas todos acabaram compreendendo. Nesse ano não teriam
presentes, no entanto ali estava Papai Noel! Se o despojaram da carga preciosa,
qual o remédio? Ninguém hoje tem segurança ao andar nas ruas, ainda mais à
noite... <o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">Abraçaram o Bom
Velhinho e, entre sorrisos, o convidaram para a ceia. Não contavam com o imprevisto
dessa noite, mas sentiram que ele concorreu para fortalecer, em cada um, o espírito
do Natal.</span></div></span>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-30489771706140886282023-12-23T11:48:00.000-08:002023-12-23T11:48:01.093-08:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0il5xqUY_CMLLeFXYc_H6cZKj_V2AdlvdvZbN83g141qlMV-3LgeypHSqmq4mmTRJvOVWXpEeSu4_PJBGjypj_gaaxUzFZd7M4KvW81AGX1NXnAL23MDuprUUlE4PXvQxzHJ8tYMampldRPwpuwfm-amd5l2FdPhfDHksu027cbFnA_aDjdoKinhQyamW/s3072/Soneto%20de%20Natal.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3072" data-original-width="3072" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0il5xqUY_CMLLeFXYc_H6cZKj_V2AdlvdvZbN83g141qlMV-3LgeypHSqmq4mmTRJvOVWXpEeSu4_PJBGjypj_gaaxUzFZd7M4KvW81AGX1NXnAL23MDuprUUlE4PXvQxzHJ8tYMampldRPwpuwfm-amd5l2FdPhfDHksu027cbFnA_aDjdoKinhQyamW/s320/Soneto%20de%20Natal.png" width="320" /></a></div><br /><p></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-52609890596964232132023-12-20T06:21:00.000-08:002023-12-21T10:15:43.202-08:00Conto de Natal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPj_DxKaS6UL7VKvKz7JUhxI0cWh1M9gscuUg6c08xmC2a-9PQoFDJkfp_Zj8C0dD5B0HQBAVM-x147APjyWDkj6oeflMHp7j4yXWJx-G4so5NKPjxerutr5vt_0Ay3I0a58DZZbgmhbYLaBrthLEb8z3Aw2GuvzGk3e4aOx98ctR5yQ2z2TWag_NbB8O-/s600/mam%C3%A3e%20noel.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPj_DxKaS6UL7VKvKz7JUhxI0cWh1M9gscuUg6c08xmC2a-9PQoFDJkfp_Zj8C0dD5B0HQBAVM-x147APjyWDkj6oeflMHp7j4yXWJx-G4so5NKPjxerutr5vt_0Ay3I0a58DZZbgmhbYLaBrthLEb8z3Aw2GuvzGk3e4aOx98ctR5yQ2z2TWag_NbB8O-/s320/mam%C3%A3e%20noel.webp" width="320" /></a></div><p><span style="text-align: justify;"> </span><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">Na </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">véspera</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> de </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">Natal</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">, Dª. Teresa desapareceu no shopping. </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">Ela</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> saíra de </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">casa</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">cedo</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">para</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> </span><st2:hm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">escapar</st2:hm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> dos </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">congestionamentos</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">comuns</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> nessa </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">época</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
do </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">ano</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">. Levava uma </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">lista</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">com</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> os inúmeros </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">presentes</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> pretendia </span><st2:hdm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">comprar</st2:hdm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">.
Estavam na </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">relação</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> os </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">filhos</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">, </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">genros</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">,
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">noras</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">, o </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">porteiro</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
do </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">prédio</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">, as </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">empregadas</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">,
as manicures, o </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">professor</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> de </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">ginástica</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">,
o </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">terapeuta</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> comportamental, os </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">colegas</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> da </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">repartição</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
e </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">pessoas</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
a </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">família</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> ignorava </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">mas</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">,
de alguma </span><st2:dm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">forma</st2:dm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">, compunham o seu </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">círculo</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> de relações. Ela </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">sempre</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
se sentira no </span><st2:hm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">dever</st2:hm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;"> de </span><st2:hdm style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">presentear</st2:hdm><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">
a </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt; text-align: justify;" w:st="on">todos</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> O último
<st1:verbetes w:st="on">contato</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
a <st1:verbetes w:st="on">família</st1:verbetes> se dera <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">volta</st1:verbetes> das 13h30, <st2:dm w:st="on">via</st2:dm>
<st2:dm w:st="on">celular</st2:dm>. <st1:verbetes w:st="on">Quem</st1:verbetes>
atendeu foi Tancredo, o marido. A <st1:verbetes w:st="on">mulher</st1:verbetes>
estava numa das inúmeras <st1:verbetes w:st="on">filas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> teria de <st2:hdm w:st="on">enfrentar</st2:hdm>
naquele <st1:verbetes w:st="on">dia</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Quase</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> falou <st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">ele</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">tal</st1:verbetes>
o <st1:verbetes w:st="on">burburinho</st1:verbetes> na <st1:verbetes w:st="on">loja</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> teve <st1:verbetes w:st="on">tempo</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">para</st2:dm> o <st2:hdm w:st="on">prevenir</st2:hdm> de <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> chegaria <st1:verbetes w:st="on">tarde</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">muito</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">tarde</st1:verbetes>
(<st1:verbetes w:st="on">impressão</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ou</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> de Tancredo, <st1:verbetes w:st="on">quando</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">ela</st1:verbetes> disse “<st1:verbetes w:st="on">muito</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">tarde</st1:verbetes>” havia <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes>
<st2:dm w:st="on">cansaço</st2:dm> misterioso na sua <st1:verbetes w:st="on">voz</st1:verbetes>).
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> <st1:verbetes w:st="on">Como</st1:verbetes> Dª Teresa <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes>
voltava com o <st2:hm w:st="on">avançar</st2:hm> da <st1:verbetes w:st="on">noite</st1:verbetes>,
a <st1:verbetes w:st="on">família</st1:verbetes> foi ao shopping <st2:hm w:st="on">averiguar</st2:hm>.
Os <st1:verbetes w:st="on">vigias</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes>
sabiam de <st1:verbetes w:st="on">nada</st1:verbetes>. Tancredo e os <st1:verbetes w:st="on">filhos</st1:verbetes> resolveram <st2:hdm w:st="on">ligar</st2:hdm> <st2:dm w:st="on">para</st2:dm> os <st1:verbetes w:st="on">amigos</st1:verbetes>. Uma
das amigas <st1:verbetes w:st="on">vira</st1:verbetes> Dª Teresa, por <st1:verbetes w:st="on">volta</st1:verbetes> das 16h, mordiscando uma <st1:verbetes w:st="on">pizza</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">com</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">refrigerante</st1:verbetes>
na <st1:verbetes w:st="on">praça</st1:verbetes> da <st1:verbetes w:st="on">alimentação</st1:verbetes>.
<st1:verbetes w:st="on">Em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">volta</st1:verbetes>,
ocupando umas <st1:verbetes w:st="on">três</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">cadeiras</st1:verbetes>,
havia inúmeras <st1:verbetes w:st="on">embalagens</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">presentes</st1:verbetes>. A <st1:verbetes w:st="on">amiga</st1:verbetes>
pensou <st1:verbetes w:st="on">em</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">como</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">ela</st1:verbetes> conseguiria <st2:hm w:st="on">transportar</st2:hm>
<st1:verbetes w:st="on">tudo</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">aquilo</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">logo</st1:verbetes>
deixou de <st1:verbetes w:st="on">lado</st1:verbetes> a <st1:verbetes w:st="on">preocupação</st1:verbetes>;
Dª Teresa <st1:verbetes w:st="on">era</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">hábil</st1:verbetes>
nesse <st1:verbetes w:st="on">tipo</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">tarefa</st1:verbetes>.
Ia <st1:verbetes w:st="on">muito</st1:verbetes> ao shopping, estava acostumada
a <st2:hm w:st="on">transportar</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">pacotes</st1:verbetes>.
<st1:verbetes w:st="on">Até</st1:verbetes> circulara o <st1:verbetes w:st="on">rumor</st1:verbetes>
de <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ela</st1:verbetes>
fazia <st1:verbetes w:st="on">terapia</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">para</st2:dm>
se <st2:hm w:st="on">curar</st2:hm> da <st1:verbetes w:st="on">compulsão</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">fazer</st2:hm> <st1:verbetes w:st="on">compras</st1:verbetes>. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> A <st1:verbetes w:st="on">família</st1:verbetes> comunicou o <st1:verbetes w:st="on">desaparecimento</st1:verbetes>
à <st1:verbetes w:st="on">polícia</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes>
foi <st1:verbetes w:st="on">inútil</st1:verbetes>; <st1:verbetes w:st="on">ninguém</st1:verbetes>
sabia de pistas <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> levassem à <st1:verbetes w:st="on">mulher</st1:verbetes>. A <st1:verbetes w:st="on">polícia</st1:verbetes>
sugeriu <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> ela podia <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> <st2:hdm w:st="on">ter</st2:hdm> desaparecido no shopping,
<st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">fora</st1:verbetes>
dele. O <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">provável</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">já</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
levava <st1:verbetes w:st="on">um</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">monte</st1:verbetes>
de <st1:verbetes w:st="on">presentes</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">era</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> tivesse sido raptada na <st1:verbetes w:st="on">saída</st1:verbetes>. <st1:verbetes w:st="on">Mas</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">ela</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes> chegara
a <st2:hm w:st="on">sair</st2:hm>. <st1:verbetes w:st="on">Seu</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">carro</st1:verbetes> continuava no <st1:verbetes w:st="on">pátio</st1:verbetes>
do <st1:verbetes w:st="on">estacionamento</st1:verbetes> – e o <st1:verbetes w:st="on">mais</st1:verbetes> <st2:dm w:st="on">intrigante</st2:dm>: <st1:verbetes w:st="on">cheio</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">embrulhos</st1:verbetes>.
Dª Teresa cumprira o <st1:verbetes w:st="on">seu</st1:verbetes> <st2:hm w:st="on">dever</st2:hm>,
comprara o <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">tinha</st1:verbetes>
de comprar, depois viera <st1:verbetes w:st="on">até</st1:verbetes> o <st2:dm w:st="on">automóvel</st2:dm> e guardara os <st1:verbetes w:st="on">presentes</st1:verbetes>.
<st1:verbetes w:st="on">Por</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>,
<st1:verbetes w:st="on">então</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">não</st1:verbetes>
voltou <st2:dm w:st="on">para</st2:dm> <st1:verbetes w:st="on">casa</st1:verbetes>?
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="tab-stops: 45.8pt 91.6pt 137.4pt 183.2pt 229.0pt 274.8pt 320.6pt 366.4pt 412.2pt 458.0pt 503.8pt 549.6pt 595.4pt 641.2pt 687.0pt 732.8pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> Desalentados,
os familiares não sabiam mais o que fazer. Foi <st1:verbetes w:st="on">quando</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">alguém</st1:verbetes> teve a ideia de <st2:hm w:st="on">examinar</st2:hm>
os <st1:verbetes w:st="on">manequins</st1:verbetes>. A <st1:verbetes w:st="on">proposta</st1:verbetes>
parecia <st1:verbetes w:st="on">absurda</st1:verbetes>, <st1:verbetes w:st="on">mas</st1:verbetes>
foi aceita <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">falta</st1:verbetes>
de <st1:verbetes w:st="on">alternativas</st1:verbetes>. Policiais, familiares e
amigos iam de vitrine em vitrine olhando os bonecos, <st1:verbetes w:st="on">nus</st1:verbetes>
<st1:verbetes w:st="on">ou</st1:verbetes> vestidos, <st1:verbetes w:st="on">que</st1:verbetes>
posavam <st1:verbetes w:st="on">por</st1:verbetes> <st1:verbetes w:st="on">trás</st1:verbetes>
das <st1:verbetes w:st="on">paredes</st1:verbetes> de <st1:verbetes w:st="on">vidro</st1:verbetes>.
<o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">De </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">repente</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> Leninha, uma das filhas, deu </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">um</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">berro</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">que</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> reverberou </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">por</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">todo</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> o shopping. “</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">Não</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
é </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">possível</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">! </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">Mamãe</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">!”.
Correram </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">todos</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">. E viram! Viram que Dª
Teresa </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">tomara</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> o </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">lugar</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
de </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">um</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st2:dm style="font-size: 14pt;" w:st="on">manequim</st2:dm><span style="font-size: 14pt;">
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">masculino</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">vestido</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
de </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">Papai</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> Noel. </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">Dura</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">,
</span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">imóvel</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">, </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">ninguém</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
sabia se estava </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">viva</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">ou</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">morta</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">. </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">Tinha</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> o </span><st2:hm style="font-size: 14pt;" w:st="on">olhar</st2:hm><span style="font-size: 14pt;"> parado, </span><st2:dm style="font-size: 14pt;" w:st="on">perplexo</st2:dm><span style="font-size: 14pt;">, e na </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">fisionomia</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
uma </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">expressão</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">artificial</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
de </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">riso</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">. A </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">família</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
deu </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">por</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> encerrado o </span><st2:dm style="font-size: 14pt;" w:st="on">mistério</st2:dm><span style="font-size: 14pt;">
e tratou de levá-la </span><st2:dm style="font-size: 14pt;" w:st="on">para</st2:dm><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">casa</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">.
Dª. Teresa foi carregada, </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">como</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">um</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st2:dm style="font-size: 14pt;" w:st="on">presente</st2:dm><span style="font-size: 14pt;">, </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">sem</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> </span><st2:hm style="font-size: 14pt;" w:st="on">despregar</st2:hm><span style="font-size: 14pt;"> do </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">rosto</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;"> o </span><st1:verbetes style="font-size: 14pt;" w:st="on">sorriso</st1:verbetes><span style="font-size: 14pt;">
enigmático.</span></div></span>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-10276372056492740312023-12-16T04:46:00.000-08:002023-12-16T11:27:04.091-08:00A volta do boêmio<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgySdYbKapF9WABzKfkLt03lY4obNDOCbLznaqp2gj75aKEGjsky0LswWX-HPCA8kkEveoNWR8Pf7k5KBJ-lJd_IT-wY9Tw595S-UGbRmj3MoxFZogYdh6d7Ez15rW-Uwtv7vDXo-IiRmAbMMiKF4-BrHA3cFspvsaAhApr4IG2v8YUF-WUmTb6kjrzpleV/s856/boemia.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="638" data-original-width="856" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgySdYbKapF9WABzKfkLt03lY4obNDOCbLznaqp2gj75aKEGjsky0LswWX-HPCA8kkEveoNWR8Pf7k5KBJ-lJd_IT-wY9Tw595S-UGbRmj3MoxFZogYdh6d7Ez15rW-Uwtv7vDXo-IiRmAbMMiKF4-BrHA3cFspvsaAhApr4IG2v8YUF-WUmTb6kjrzpleV/s320/boemia.jpeg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">O
velho boêmio voltou. Sentiu que as coisas mudaram quando foi informado de que
deveria procurar o Setor de Readmissões. Dirigiu-se ao responsável:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Aqui me tens de regresso, e suplicando eu te
peço a minha nova inscrição. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Preencha esta ficha em três vias. É preciso
também pagar uma taxa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Uma taxa? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– O pessoal aqui era muito instável, vinha e
voltava quando queria. A gente tinha que se garantir, por isso criou um fundo
de reserva. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Mas pra que essa formalidade? Voltei pra rever os amigos que, um dia, eu deixei
a chorar de alegria...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Acho você não vai mais encontrar quase nenhum. A maioria hoje dorme cedo e come
comida natural. Muitos frequentam nossa academia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Está brincando!? Sabendo que andei distante, vai agora ironizar? Certamente
quer me punir por ter deixado a noite. Eu, que fazia serenatas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Serenata? Nos dias de hoje? Você ia cantar para o prédio todo, e terminaria
tendo que se explicar à polícia. Se quer paquerar alguém, deixe seu nome aqui
no nosso cadastro. Coloque também endereço, profissão, além de preferências
gastronômicas, artísticas e culturais. A gente compara com as fichas de outras
pessoas e, se for o caso, faz a aproximação via rede social. Basta acrescentar
à mensalidade uma pequena taxa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Não
preciso disso. Já tenho alguém que floriu meu caminho. Por sinal, estou aqui
por causa dela, que aceitou me dividir com vocês. Vendo a tristeza em que eu me
encontrava, ela chegou pra mim e disse: “Meu amor, você pode partir; não
esqueça o seu violão...” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Uma amélia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Amélia não, Otília. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Digo que sua mulher é uma amélia, uma tola.
Deixar você se divertir com os amigos enquanto fica sozinha em casa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Mas ela sabe que eu sempre voltarei. Até reconheceu, antes de me deixar partir:
“Pois me resta o consolo e a alegria de saber que, depois da boemia, é de mim
que você gosta mais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Depois
da boemia?! Mulher nenhuma hoje aceita ficar em segundo plano. Por isso
desenvolvemos um setor para receber também as esposas, ou assemelhadas.
Trabalhamos nisso de olho na otimização dos serviços. Com o acréscimo de 30% na
mensalidade, você pode inscrever Otília. Ela vai conhecer seus amigos e as
mulheres deles. Depois que fizemos isso, os casais passaram a brigar menos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Sabe de uma coisa? Vou embora. Pode rasgar a ficha que acabei de lhe entregar.
Eu queria tudo como era antes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–
Mas isso não é problema! Nas sextas à noite, temos uma sessão nostalgia. Os
homens vêm sós e podem percorrer antigos becos de ruas estreitas, onde há casas
com janelas para fazerem serenatas. Tudo em ambiente virtual, claro, por isso o
preço... amarga um pouco. Mas lhe garanto que é compensado pela doçura de
voltar aos velhos tempos. <o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-30475678307751948502023-12-13T04:57:00.000-08:002023-12-13T05:00:37.738-08:00O abismo de Clarice<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjATaxlqL4U37OAD02GTAgHBqAqvC8I1zc29hqwo25YpY-g1pFPA1JT6kirlRhkkpQ91SCRhhxhgLvYv3GKkRTZCy8ZKSZOxN-NqjjtUvdjsGzmdqaHB_EkVSGE6a120PByiYIh1FxACsySGAVI4HoRZoW8i5Rk49lhXBMHg5QeSKTIxSBoKeV4vUvTJWTq/s747/Clarice.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="620" data-original-width="747" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjATaxlqL4U37OAD02GTAgHBqAqvC8I1zc29hqwo25YpY-g1pFPA1JT6kirlRhkkpQ91SCRhhxhgLvYv3GKkRTZCy8ZKSZOxN-NqjjtUvdjsGzmdqaHB_EkVSGE6a120PByiYIh1FxACsySGAVI4HoRZoW8i5Rk49lhXBMHg5QeSKTIxSBoKeV4vUvTJWTq/s320/Clarice.png" width="320" /></a></div><br /> <span style="font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px;">A linguagem é a trama que engendra o ser. </span><p></p><p class="p2" style="font-family: sans-serif; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; line-height: normal; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Veio Clarice e puxou um fio, estendendo-o até o limite do silêncio e da agonia. </span></p><p class="p2" style="font-family: sans-serif; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; line-height: normal; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Clarice clareia o caos ou o aprofunda, devassando a fenda que há entre o homem e o verbo ? </span></p><p class="p2" style="font-family: sans-serif; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; line-height: normal; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">É sombra em nosso espírito, ou luz?</span></p><p class="p2" style="font-family: sans-serif; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; line-height: normal; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Muitos sentidos se camuflam e se desvelam na inquietação com que, juntando palavras, ela mergulha na interminável busca de si mesma.</span></p><p class="p2" style="font-family: sans-serif; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; line-height: normal; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;">Fez do abismo seu chão nessa estranha aventura de pensar com o coração.</span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-91568892148996521852023-12-09T10:29:00.000-08:002023-12-09T10:29:57.831-08:00Amor e perdão<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibrvrcZbRMjAmsLq7z_OuCXPnjEDDF4T4g1OJW2DcBn9_ntocI2XaZ9IC8PBEQ436OrlhoJrMGG4BLrvlFOdYYMsoukvASEMdvCoW5fqTKXjox_f4pyD_oPJ9iPpN6hPYmejqfOCHUWTxApwN76bklS7qaylgGXKexHLnXBM3BlWVhyphenhyphenkjJFq_dJE62-T4b/s434/Love%20Story.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="266" data-original-width="434" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibrvrcZbRMjAmsLq7z_OuCXPnjEDDF4T4g1OJW2DcBn9_ntocI2XaZ9IC8PBEQ436OrlhoJrMGG4BLrvlFOdYYMsoukvASEMdvCoW5fqTKXjox_f4pyD_oPJ9iPpN6hPYmejqfOCHUWTxApwN76bklS7qaylgGXKexHLnXBM3BlWVhyphenhyphenkjJFq_dJE62-T4b/s320/Love%20Story.png" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Morreu Ryan O’Neal, que fez par
romântico com Ali MacGraw em “Love Story”. O filme estreou em 1970 e foi
sucesso mundial entre adolescentes com a história de amor que envolvia os dois
protagonistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Quando ele foi exibido por aqui,
eu estava em começo de carreira e lecionava no 2001. Publicava nesse cursinho
um jornal intitulado “O Radar”, onde escrevia crônicas, comentários críticos e
umas frases que imitavam o estilo de Millôr. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">O filme tinha um slogan que bem
resumia o seu espírito, “Amar é não ter jamais que pedir perdão”, e num dos
números do jornal fiz um texto criticando a estupidez dessa sentença. Eu
defendia que amar é justamente ser capaz de perdoar e que o embuste do conceito
veiculado na frase pressupunha um idealismo que nada tinha de humano. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Por que fiz isso?! Umas garotas,
que tinham chorado muito vendo o filme, vieram para cima de mim com quatro
pedras na mão (acho que até mais). Acusavam-me de insensível, incapaz de
reconhecer o “verdadeiro amor”. Felizmente escapei ileso do protesto (e talvez
de ser demitido).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Passou o tempo; hoje as que me
acusavam já devem ter se apaixonado e, quem sabe, vivido o amor verdadeiro.
Caso isso tenha ocorrido, certamente se depararam com inúmeras situações em que
é preciso perdoar (ou ser perdoado) para manter vivo tal sentimento. E podem
concordar, enfim, com quão mentirosa e superficial era a frase.<o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-1094371396198993022023-12-02T04:32:00.000-08:002023-12-02T04:32:00.426-08:00Compulsões<p style="text-align: left; text-indent: 0px;"><span class="s1" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjfEI-2j90K-NDuOmfdno6cU_Pj9WJobn1oegAY1DjeKQ4kAMTKKwLHnXRnRMVgKsICHH4fKtqzorYXPNAOCr57ylEZwf1cPmYaiETBE3vHnhsWSeOH-dXNUCv_ZwD6YYKNzz5rU7QheBk43EUfF7Lle4v0vhAmvpYlbmrKDVfMmK1O9ASPsSkZEpNiYS7a" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="554" data-original-width="828" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjfEI-2j90K-NDuOmfdno6cU_Pj9WJobn1oegAY1DjeKQ4kAMTKKwLHnXRnRMVgKsICHH4fKtqzorYXPNAOCr57ylEZwf1cPmYaiETBE3vHnhsWSeOH-dXNUCv_ZwD6YYKNzz5rU7QheBk43EUfF7Lle4v0vhAmvpYlbmrKDVfMmK1O9ASPsSkZEpNiYS7a" width="320" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: left; text-indent: 0px;"><span class="s1" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"> Vejo
uma reportagem na TV sobre compulsão. </span></span><span class="apple-converted-space" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"> </span></span><span class="s1" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">A
repórter entrevista alguns compulsivos, que falam sem pudor de suas manias. Uma
mulher só se sente feliz quando faz compras. Mostra no guarda-roupa uma porção
de vestidos, blusas, sapatos que jamais irá usar. </span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-stretch: normal; text-indent: 35.4pt; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Um homem expõe sua monumental coleção de CDs, que se
empilha por vários cômodos da casa. Ele não dará conta disso nem que passe o
resto da vida ouvindo música. E será que gosta mesmo de música? Quem gosta
elege seus compositores preferidos e os ouve repetidas vezes, sem esse afã de
substituí-los por outros. Gostar é resumir, selecionar. Mas o compulsivo não
avalia méritos, qualidades; o que o motiva é a satisfação mecânica de seus
impulsos. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-stretch: normal; text-indent: 35.4pt; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">A psicologia cognitivo-comportamental associa os
gestos compulsivos a obsessões de que o indivíduo procura se libertar. O
pensamento obsessivo aponta para um perigo a que a pessoa fica exposta caso não
pratique os rituais de repetição. Neste sentido, comprar sem motivo ou fazer
ginástica sem limites seriam pequenas mortificações para afastar uma ameaça
ilusória. Ou para apaziguar uma consciência culpada. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-stretch: normal; text-indent: 35.4pt; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Essa cadeia de mortificações constitui no limite um
distúrbio sério, em que os gestos compulsivos ganham uma espécie de autonomia
que faz a pessoa esquecer o que está querendo purgar. É como no tique nervoso,
ou no cacoete, que são caricaturas de prece. O indivíduo ritualiza, com
trejeitos corporais, uma reza sem sentido. Ou uma reza que, pelo menos no
início, só tem sentido para ele. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-stretch: normal; text-indent: 35.4pt; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Quem não tem suas compulsões? Aquele que não as tiver
atire a primeira pedra (os escritores têm as frases feitas, que são compulsões
linguísticas). Alguns as disfarçam em atividades nobres, como a arte ou a
política. Outros as sublimam nos rituais religiosos. Outros por fim as
vulgarizam em jogos, vícios, exercícios físicos. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-stretch: normal; text-indent: 35.4pt; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Minha tese (nada original) é que o excesso de
atividade física é uma tentativa de afastar o medo da morte. A consciência de
que está exercitando coração e músculos, e com isso combatendo o exército mau
de triglicérides e ácidos graxos, dá à pessoa uma ilusão de plenitude. Ou de
inexpugnabilidade. Alguns dizem que o que leva a tal excesso é o efeito da
endorfina, mas isso não invalida a tese. As preces são uma endorfina da alma, e
também se justificam por nossa recusa em morrer.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">As compulsões mostram
que é tênue o limite entre sanidade e doença mental. Mesmo o indivíduo normal
tem, como diria Machado, seu grau de sandice. Curar os compulsivos seria curar
o mundo, e quem tentasse fazer isso teria o destino de Simão Bacamarte – aquele
personagem machadiano que, ao buscar distinguir os doidos dos sãos, termina
sozinho em um hospício.</span></span>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-51381042458367556882023-11-30T04:05:00.000-08:002023-11-30T04:18:56.028-08:00Máximas saturninas (sobre a melancolia)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA6moviEZx_Twi67CZrF2-7c_TcJ0gSkzOz4rEygDWkx2VWhifenkxyU9V5BqKTHrmr6Mp1Hc4PypKHBHJ7k3ybuqIX7ulbjrfr46RLcSHTHkazwepb65yHhBYd2wU_XCiC2uF6ZZ778jodXMNnSvAHcGv_mew8kyoLCiX-R_LxH5RD_5LjMJE-PwPjTSL/s225/melancolia.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="224" data-original-width="225" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA6moviEZx_Twi67CZrF2-7c_TcJ0gSkzOz4rEygDWkx2VWhifenkxyU9V5BqKTHrmr6Mp1Hc4PypKHBHJ7k3ybuqIX7ulbjrfr46RLcSHTHkazwepb65yHhBYd2wU_XCiC2uF6ZZ778jodXMNnSvAHcGv_mew8kyoLCiX-R_LxH5RD_5LjMJE-PwPjTSL/s1600/melancolia.jpeg" width="225" /></a></div><p style="text-align: justify; text-indent: 47.2px;"><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;">A melancolia é a tristeza pelo que radicalmente nos falta.
Cura-se por dispositivos simbólicos (a crença em Deus é uma de suas terapêuticas),
e não por remédios. O que se cura por medicamentos é a depressão, que pode inclusive
afetar os não melancólicos. </span><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Quem descobriu que a Terra é chata não foram os
astrônomos. Foram os melancólicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">O melancólico tem uma relação paradoxal com o tempo.
Lamenta que ele passe, mas precisa dele para sair do estado em que se encontra.
Uma das sensações mais comuns nele, por sinal, é a de que o amanhã não chega
nunca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Dizem que o melancólico não tem fé. Isso não é
verdade. Ele pode não ter crença, mas não lhe falta a fé. O corpo lhe assegura
a esperança de triunfar sobre o vazio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">O melancólico pensa lento e profundo. Deixem-no seguir
seu ritmo, pois a pressa o exaspera ou mata.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">O otimista acha que o pouco é muito; o pessimista, que
o muito é pouco; o melancólico, que “tanto faz”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> ****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt;">Um pouco de melancolia faz bem; modera a euforia
improdutiva. Tem dias em que “se produz” mais ficando na cama.</span> <o:p></o:p></p><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"></span>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-47662560535666339622023-11-29T07:16:00.000-08:002023-11-29T07:22:32.940-08:00Dos males de não morrer<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFyzuM_Do7DuwRs39z5KaOB0RJfqugHYc8C3clrNA90RhSnIQycsCZfUF3I6unsC1WEx7IwQAK4gSfqq7eNiIn1xZ_TZ6VMyz6UKDpNglhxhcz4ssZ-Pem7k9xCDzSuOYm6XqSnv2VWxEnhryi2miml51S_oUEMlJm4jwrrKP54TQGK_rP0EaeBJBctrYZ/s626/Tempo.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="626" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFyzuM_Do7DuwRs39z5KaOB0RJfqugHYc8C3clrNA90RhSnIQycsCZfUF3I6unsC1WEx7IwQAK4gSfqq7eNiIn1xZ_TZ6VMyz6UKDpNglhxhcz4ssZ-Pem7k9xCDzSuOYm6XqSnv2VWxEnhryi2miml51S_oUEMlJm4jwrrKP54TQGK_rP0EaeBJBctrYZ/s320/Tempo.webp" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Li que o
bilionário Jeff Bezos tem investido um dinheirão numa startup que pesquisa a imortalidade.
Bezos, que já foi ao espaço, parece insatisfeito com a possibilidade de o homem
explorar os domínios extraterrestres. Quer mais. Seu sonho é que no futuro
possamos escapar de um evento que por excelência confirma a nossa condição
animal – o fim da vida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Há quem se
empolgue com essa ideia do criador da Amazon e anteveja um futuro no qual,
enfim, nos libertaremos do fardo de nos sabermos mortais. Estou longe de pertencer
a esse grupo. Para mim, a morte é o que dá sentido à vida. A perspectiva de que
um dia deixaremos de “ser” é que nos mobiliza a construir por aqui algo de
valor, aproveitando bem o tempo. Tudo que nasce morre, e o homem não está imune
a essa inevitável lei biológica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Mas deixemos de lado
a biologia e nos fixemos nas implicações pragmáticas da proposta do bilionário.
O fato de não morrermos inviabilizaria a continuidade dos empreendimentos
humanos na Terra. A morte justifica diversas práticas que, sem ela, não teriam
razão de ser. Há toda uma indústria, e um vasto comércio, que se alimenta da
perspectiva da nossa finitude. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Fico imaginando algumas
possibilidades. Por exemplo: se não viéssemos a morrer, os bancos e as seguradoras
faliriam (para não falar, claro, das casas mortuárias). Muita gente tem o cuidado
de investir parte da sua renda em planos de previdência privada, ou semelhantes,
a fim de ao fechar os olhos não deixar ao desamparo a mulher e os filhos. Não haveria,
é óbvio, nenhum sentido em uma pessoa fazer isso sabendo que vai viver eternamente.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Por falar em eternidade,
como sem a perspectiva da morte ficaria a crença religiosa? O que a sustenta é
justamente o pavor que temos não apenas de morrer mas de, morrendo, ir para um
lugar pior do que este. Para evitar isso frequentamos cultos, missas e rituais
semelhantes, levando para eles nossa esperança e por vezes nosso dinheiro. Em
troca disso nos fortificamos com a ideia de que algo sobreviverá ao corpo perecível.
Qual o sentido de tais celebrações caso nos fosse concedida uma imortalidade realmente
física, e não a de um incorpóreo espírito a pairar em nebulosas dimensões
siderais?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">A exclusão da
morte afetaria também as relações entre os casais apaixonados. Quantas paixões
não se alimentam da promessa, feita pelos amantes, de dar a vida pelo outro? Paixão
e morte são aliados históricos, conforme se vê na literatura e na arte em
geral. A tragédia de Romeu e Julieta está aí para demonstrar a verdade dessa
antiga aliança. Sem a disposição mesmo retórica para o sacrifício supremo, que
é o de morrer por amor, as promessas dos amantes perderiam muito da sua credibilidade.
Isso terminaria inviabilizando as ligações e por extensão os casamentos,
ameaçando a existência da instituição familiar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Arrisco-me a dizer
que pensar na ausência da morte é pior do que cogitar da sua existência. Para
muitos ela é repouso, lenitivo, possibilidade de se livrar de uma vida inútil e
sem graça. Se a gente mal nasce começa a morrer, como diz o poeta, é porque o
espectro da morte nos acompanha desde o início. Seu papel é nos mostrar que, a despeito
das clamorosas diferenças que há neste mundo, o fim será o mesmo para todos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Só mesmo a avidez
e a presunção de um bilionário para querer nos privar dessa igualitária e confortadora
evidência.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-57456956159153807002023-11-14T16:44:00.000-08:002023-11-14T16:57:30.571-08:00As cartas<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMg-eOJmCpdqpXdQ0oTQKzn5GTLYOdUlJUgOJ89Y4-gyrT_r0JHWocLyO1fKlt2b9KxSBPuoskiyC7j3-QZN5BffyAl_BmI2X1aFSyRsHQYLm6c0qtLGhiVPJ6zuVQ6Twzh9M7U-VF7xpTV0Jib-EfRkthNyhDkVWTWGj552OlgJkKGR1c5bEUOukuuNTu/s626/cartomante.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="626" data-original-width="417" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMg-eOJmCpdqpXdQ0oTQKzn5GTLYOdUlJUgOJ89Y4-gyrT_r0JHWocLyO1fKlt2b9KxSBPuoskiyC7j3-QZN5BffyAl_BmI2X1aFSyRsHQYLm6c0qtLGhiVPJ6zuVQ6Twzh9M7U-VF7xpTV0Jib-EfRkthNyhDkVWTWGj552OlgJkKGR1c5bEUOukuuNTu/s320/cartomante.webp" width="213" /></a></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Ela estranhou quando
o carro parou em frente à sua casa tão cedo. Não costumava receber clientes naquela
hora do dia. O homem que desceu do veículo tinha o semblante assustado e, ao
vê-la no alpendre, lhe fez um aceno. Ela foi até o portão; antes de abrir,
notou as olheiras de quem parecia não ter dormido. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Entre, moço –
falou, sem perguntar de que se tratava. Não era preciso. A fama que acumulara fazia
com que a procurassem sobretudo por uma razão: desfazer algum temor ligado ao
futuro. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Ela o fez
atravessar o pequeno alpendre rumo a uma saleta onde havia uma mesa forrada com
um pano verde sobre o qual estava um baralho já gasto. Sentou-se e fitou o rapaz
com um ar doce e compreensivo. Aprendera, com o tempo, que essa expressão
acalmava os que a vinham procurar. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– O que o atormenta,
meu jovem? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Ele baixou a vista
e, com algum esforço, falou as primeiras palavras: <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Daqui a pouco
vou encontrar alguém. Quero saber se corro algum risco. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Disse e ficou
mudo. Ela esperou que continuasse. Depois ponderou que, se lhe desse uma ideia
de que adivinhava o motivo da sua inquietação, despertaria nele mais confiança.
<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– O que é que no
comportamento dele lhe provocou tanto medo? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">“Dele”. Então ela
sabia que se tratava de um homem! E, de fato, era o marido da colega de
trabalho com quem vinha saindo há alguns meses.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Como sabe que é
“ele” e não “ela”? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– “Ela” ocupa sua
mente, mas de outro modo – respondeu com um olhar malicioso, dando à expressão
um ar conivente que o confortou. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">A senhora é perspicaz
– ele disse, com um suspiro que fez os olhos dela brilharem ainda mais. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Explicou-lhe então
que vinha se encontrando com uma mulher casada. Os encontros ocorriam com a máxima
discrição, claro. Chegara a ponderar que o que fazia não estava certo, mas se
sentia incapaz de resistir. Desejava-a, tinha paixão por ela, e sabia que era
correspondido.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Fez uma pausa, levemente
emocionado com o que acabara de dizer. Em seguida explicou que mal conhecia o
marido, por isso estranhou o telefonema pedindo-lhe um encontro para falar “da
situação profissional da esposa”. Ficou com a mosca na orelha. E se ele soubesse
de tudo e pretendesse lhe fazer algum mal? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Depois de ouvi-lo,
a mulher pegou o baralho e começou a misturar as cartas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Vamos ver o que elas
dizem. As cartas não mentem jamais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Esse lugar-comum lhe
soou como uma verdade profunda. As cartas pareceram infalíveis e certamente o
orientariam sobre o que deveria fazer. A mulher pediu que tirasse uma delas,
depois outra, juntou as duas e olhou por cerca de meio minuto a combinação.
Depois levantou a vista e o fitou com um sorriso entre cúmplice e triunfante. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Tranquilize-se,
meu filho. Ele não sabe de nada. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Tem certeza de
que ignora o que há entre nós? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Absoluta. Siga
em paz e viva com intensidade essa paixão, pois a vida é curta. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Sorriu, aliviado,
e lhe perguntou quanto devia. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">– Dê o que o seu
coração mandar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Abriu a carteira e
lhe passou uma quantia generosa. O alívio que as palavras dela lhe trouxeram
não tinha preço. Ao se despedir, apertou a mão da mulher e agradeceu com uma
humildade que a surpreendeu. Ela é que devia se mostrar humilde diante daquele
homem elegante e de uma classe social bem superior à sua. Mas o que dá a cada
um a medida da sua importância é a situação que está vivendo, e ele se sentia
frágil em razão da dúvida que o afligia. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Depois que saiu,
ela contou as notas. Era um montante considerável, que lhe permitiria consertar
o ar-condicionado e comprar uns objetos com que vinha sonhando. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Depois do jantar,
sentou-se diante da TV para assistir ao noticiário local. Ficou curiosa ao se
deparar com a primeira manchete: um marido que se soubera enganado matou com
três tiros o amante da esposa. Em seguida vinham detalhes do crime e a foto da
vítima. Tomou um susto ao ver que era o homem que tinha vindo consultá-la pela
manhã. A mesma roupa, o mesmo cabelo, e nos olhos vidrados um ar de
perplexidade. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Por um instante
sentiu remorso, mas logo tratou de banir do espírito esse sentimento. Qual fora
a sua culpa? Não tinha concorrido para o crime. Deixara o rapaz confortado como
podia ter feito o oposto. Se confirmasse as suspeitas dele e estivesse errada,
poderia pôr fim à vivência de uma grande paixão. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Pensando bem, foi melhor
que ele ignorasse o que estava por acontecer e marchasse tranquilo para o fatídico
encontro. A sentença já fora providenciada pelo destino, e quem era ela para interferir
nos seus desígnios? O que fez, no final das contas, foi dar um pouco de ilusão a
quem já se condenara pelos seus próprios atos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Com esse pensamento
recontou o que o morto tinha lhe dado, antecipando os pequenos luxos que iria
comprar.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-87544024721865235402023-10-31T18:23:00.006-07:002023-11-04T06:16:06.767-07:00Notas de Amsterdã<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0M4sWQA00AzvrKJ1Bjuj1WtYl38NQrPPCm-MkA_G_wWouXBUoQqhxMghJpcQLWiTmNwtfj73EwrMiU2BJixjot2QYPxecH3Pzaeel8xsakmCDHuuGmPBQgD6v_V1QuKKIHT1Etfg7e0U0KqORqkvhqbwMeZBiUlNRe9kSp3eV2MGDNRaeyc61OvE86JA2/s1086/Amsterd%C3%A3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1086" data-original-width="828" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0M4sWQA00AzvrKJ1Bjuj1WtYl38NQrPPCm-MkA_G_wWouXBUoQqhxMghJpcQLWiTmNwtfj73EwrMiU2BJixjot2QYPxecH3Pzaeel8xsakmCDHuuGmPBQgD6v_V1QuKKIHT1Etfg7e0U0KqORqkvhqbwMeZBiUlNRe9kSp3eV2MGDNRaeyc61OvE86JA2/s320/Amsterd%C3%A3.png" width="244" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Amsterdã
é um caos ordenado. Caminhões da limpeza urbana invadem as calçadas, mas não nos
deixam chateados com isso. O pessoal está fazendo com educação um trabalho que
vai ajudar o trânsito dos pedestres em seu embate com as bicicletas.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">É
mais fácil ser atropelado por uma delas do que por um Tram, que afinal tem um
trajeto predefinido. As bicicletas, não. Existem as ciclovias, que praticamente
cortam a cidade, mas essas nem todos os ciclistas respeitam (muito menos os
turistas, que são muitos).</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Como
estivemos por lá em tempo chuvoso e frio (cerca de 8° C), não deu para apreciar
a beleza dos canais. O escuro das águas e a densa neblina impediam isso.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Concentramos
então o passeio na Praça Dam e seus arredores. Apesar do clima, a praça estava
cheia de turistas e daquela “fauna” característica da cidade (destaque para os jovens
estilosos com suas tatuagens e para os religiosos vestidos a caráter). </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Vez
por outra uma revoada de pombos respondia ao perfurante barulho de uma
ambulância que levava alguém para o hospital. Não fosse pelos pombos, que
ofereciam um belo espetáculo visual e auditivo, talvez ninguém notasse.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Uma
das marcas de Amsterdã é a liberdade, que se expressa, por exemplo, no
reconhecimento profissional da prostituição. Enquanto circulava por ruas do
Bairro da Luz Vermelha (acompanhado da minha esposa, ressalto!), pude ver as
mulheres que se exibiam em janelas ou vitrines – algumas bonitas, outras não;
algumas jovens, outras perto de dar entrada no pedido de assistência que o
Estado oferece às já desprovidas de encantos para exercer o ofício. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">O
que senti circulando no Bairro da Luz Vermelha foi um movimento pouco
condizente com a natureza do comércio que se realiza por lá. Sou um romântico e
acho que, mesmo no amor pago, deve-se preservar uma nota de discrição e um tom
de meia-luz. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Millôr
escreveu que “turismo é prostituição”, tendo em vista que por meio dessa atividade
se vendem a estrangeiros alguns dos valores mais caros e íntimos de um
lugar. Caminhando por aquela zona de Amsterdã, ocorreu-me uma inversão da
frase: “prostituição é turismo”. Enquanto acompanhava os curiosos, eu me perguntava
se aquela ostensiva exposição da mais antiga das profissões não subtraía o que
nela deveria haver de atraente e misterioso. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">O
comportamento dos jovens é outro dado que atesta a liberdade dos costumes na
capital da Holanda. Um dos símbolos disso é a propaganda da cannabis, que não
se encontra apenas nos cigarros. Aparece também em pastilhas, biscoitos,
pirulitos, prometendo aos degustadores relaxamento e um pouco de paz. Uma “brisa”,
como eles costumam dizer.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">O
problema é que, por falta de medida, essa “brisa” pode se transformar em
vendaval. Foi o que vimos quando voltávamos para o hotel, à noitinha, e nos
depararmos com uma cena patética e dolorosa: num grupo de três adolescentes,
uma delas procurava segurar a colega que bambeava e acabou, apesar dos esforços
também da terceira, se esborrachando no chão. Afastamo-nos um pouco assustados,
vendo as duas tentando reanimar a mais inebriada.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">Enfim,
coisas de uma cidade que, além da erva, tem tulipas e moinhos. As primeiras não
conseguimos ver agora, pois só florescem no mês de abril, mas há delas
reproduções nas inúmeras tendas que se estendem pelas calçadas; as mulheres do nosso
grupo compraram algumas. Quanto aos moinhos, ficou deles a lembrança de outra
estada, em 2018, quando pudemos apreciá-los num bate e volta para Zaanse
Schans. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Meu sonho é que as duas experiências se
repitam.<o:p></o:p></span></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-36898031312024918962023-10-06T11:08:00.005-07:002023-10-06T11:15:54.528-07:00Crises<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihDgHRiE4X9gfD6Xbc2goStv9SsFwa4_OdnfnegbfzgT-I58mMautE-3IvJMkCLLlMjwcrXV2uwKAmv0uA1xpihVedC6KBr9PoUDbLvkJWmwuiw2SLoUsHcnJHg6vSPXviV2opYW8DAmW0_8350huADaFaa88pY-Aeb9hUQ7qXtd4T3Io2Xkmb30AQVMw3/s626/crises.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="626" data-original-width="626" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihDgHRiE4X9gfD6Xbc2goStv9SsFwa4_OdnfnegbfzgT-I58mMautE-3IvJMkCLLlMjwcrXV2uwKAmv0uA1xpihVedC6KBr9PoUDbLvkJWmwuiw2SLoUsHcnJHg6vSPXviV2opYW8DAmW0_8350huADaFaa88pY-Aeb9hUQ7qXtd4T3Io2Xkmb30AQVMw3/s320/crises.webp" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"> As crises são produtivas
e mesmo desejáveis. Precisa-se delas para crescer. Isso é verdade tanto para a História
quanto para os indivíduos. Historicamente, a períodos de crise sucedem outros de
euforia e progresso (os pós-guerras atestam essa verdade). No que diz respeito às
pessoas, há relatos de crises que ensejaram profundas mudanças existenciais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O problema é quando elas se tornam frequentes
e mesmo viciosas. Há quem se acostume a viver em conflito consigo mesmo e cultive
com certa morbidez o mal-estar que isso traz. Para gente assim, os momentos
críticos não são estágios para o amadurecimento pessoal; persistem como uma
espécie de segunda natureza.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tenho um amigo assim. Sempre que
conversamos, ele diz que está insatisfeito com a vida e se preparando para mudanças
radicais. Ora pretende largar o emprego, ora se dispõe a deixar a mulher (que
nunca deixa, por medo de ficar sozinho). Quando lhe pergunto quais seriam os
novos planos, ele não sabe responder. Quer dar uma guinada na vida, mas ignora em
que direção. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As conversas com ele me lembram o adolescente
que fui – cheio de dúvidas e temeroso do futuro. Com quem namorar? Que carreira
seguir? Que amigos cultivar? Questões como essas não raro me tiravam o sono,
mas na adolescência isso é natural. Está-se numa encruzilhada quanto a escolhas
que vão repercutir no restante da vida – e sabendo muito pouco do que a vida é.
Vivenciar tal paradoxo, convenhamos, precipita qualquer um no torvelinho da
crise.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Às vezes esse emaranhado de indecisões
persiste em estágios posteriores, chegando à idade adulta e se projetando na
velhice. Geralmente quem passa por isso diz que ainda não se encontrou (é tão
longo esse “ainda”, que faz pensar em “nunca”). Quando enfim se dará esse
encontro, para o qual a pessoa parece não estar (ou não ser) preparada?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Meu amigo fez análise, mas depois de
algum tempo desistiu. Espirituoso, me disse que seu problema não é o
inconsciente, mas excesso de consciência. Esse diagnóstico pode ser interessante
como jogo de palavras, mas encobre um ceticismo que beira a desesperança. Se
ele rejeita a análise mas não consegue se livrar do pessimismo renitente, que
procure outra alternativa. No limite, mesmo autojuda pode servir – desde que
seja com fé.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Faz dias que não nos vemos, mas sei
que ao reencontrá-lo vou me deparar com o mesmo semblante sombrio e as velhas queixas.
Ele me falará de suas novas deliberações e me pedirá que opine sobre elas. De
que adiantaria opinar? Quem não consegue ouvir a si mesmo não vai querer ouvir
os outros. Mas serei complacente quando ele começar, como das outras vezes: “Rapaz,
agora é sério! Nunca estive tão mal...”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-63531287292960899032023-10-06T11:04:00.001-07:002023-10-06T11:04:47.384-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1-QppBWOKo4a0oBUquHdvsFPuGra9dasgHxju8-MNPavJoCRBimf1yAvL-yiQ4V7VUgr85gXHhi_XecJFjWgNON6UOMX5DCJWLbS9ydcVUIytIcrtpfqF8-XHLR57z7wivH2K_Qie-laMBP8DNqakH1atIw7vcG-clcwPTZeJLaZibXS56v66l8zsMwk-/s560/Recordar.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="560" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1-QppBWOKo4a0oBUquHdvsFPuGra9dasgHxju8-MNPavJoCRBimf1yAvL-yiQ4V7VUgr85gXHhi_XecJFjWgNON6UOMX5DCJWLbS9ydcVUIytIcrtpfqF8-XHLR57z7wivH2K_Qie-laMBP8DNqakH1atIw7vcG-clcwPTZeJLaZibXS56v66l8zsMwk-/s320/Recordar.webp" width="320" /></a></div><br /> <p></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6576252501150562001.post-45611697543564745552023-10-03T06:50:00.002-07:002023-10-03T06:50:17.241-07:00A busca de ser lembrado<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBEqdOG6V6EtMGXrum2ekHIzMPa1i87zSEC_celVtjKH2LzckNkXXbq74xeEuzKizGvSXgeET16FvU5HsMKmsM_WpIxDKcL6gcVtj8U5F6M_psNwc7-ZfgBjNweSRfo6t4rK97IVrUiDaUYezHYazyRahL6GPzfeqT5P82j1mk4ZMn_Bkl1uSRbrhfumO/s1280/Lembran%C3%A7a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="848" data-original-width="1280" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBEqdOG6V6EtMGXrum2ekHIzMPa1i87zSEC_celVtjKH2LzckNkXXbq74xeEuzKizGvSXgeET16FvU5HsMKmsM_WpIxDKcL6gcVtj8U5F6M_psNwc7-ZfgBjNweSRfo6t4rK97IVrUiDaUYezHYazyRahL6GPzfeqT5P82j1mk4ZMn_Bkl1uSRbrhfumO/s320/Lembran%C3%A7a.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Gosto do termo “brumas” para figurar o esquecimento. O
que vivemos se perde numa massa brumosa que dissipa as impressões do que passou.
Não se revive nada, toda lembrança é o registro de uma perda. Ainda assim
insistimos em lembrar, pois disso depende em grande parte a nossa identidade. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">
</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> </span></span><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Outro
vocábulo que também representa o que na memória se perdeu é “oblívio” – mas
desse ninguém se lembra. É um vocábulo erudito e um tanto assustador. Por
também significar repouso, tem alguma ligação com a morte. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">
</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> “</span></span><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Amnésia”,
sim, é patológico. Sugere uma perda temporária das lembranças devido a lesão
cerebral ou à ingestão de determinadas substâncias. Seu radical evoca
Mnemosine, a deusa que para os gregos determinava a lembrança e o esquecimento.
Segundo a mitologia, os mortos que bebiam da água do seu poço relembravam suas
vidas. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O esquecimento é o que mais tememos na morte, por isso
o tema da memória provoca de forma tão intensa o nosso interesse. Quando se
pensa em não morrer, ficar “para sempre”, pensa-se na verdade em permanecer na
memória das pessoas. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A morte se consuma, não quando perdemos a vida, mas
quando o que fomos desaparece por completo da lembrança dos vivos. Daí o
empenho em que fique registrado o nosso nome nas obras de arte ou no acervo de
instituições como academias, confrarias religiosas, associações de notáveis – que
às vezes nem são tão notáveis assim, mas fazem questão do registro; o importante
é que o nome esteja lá. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nesse esforço de ser lembrado há quem desconheça a
fronteira entre o bem e mal. Pouco importa se o recordam como um monstro ou um
psicopata, desde que seus atos imprimam uma marca indelével na memória dos
outros. Nesse grupo se enquadram os assassinos de celebridades ou os que,
no exercício de funções delicadas como a de pilotos de aviação, produzem
tragédias que levam à destruição de inocentes. </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Muitos fazem tudo pela glória póstuma esquecidos de
que o essencial mesmo é “permanecer”<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>enquanto
estiverem vivos. Isso significa atuar, comprometer-se, ser determinante na vida
dos que deles dependem ou com os quais mantêm vínculos de afeto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="s1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Quem falha nessa tarefa, muitas vezes em prol de uma
duvidosa notoriedade aos olhos dos pósteros, está condenado ao esquecimento em
vida (um esquecimento que por vezes se confunde com desprezo). E deve amargar
para sempre os efeitos da escolha errada. <o:p></o:p></span></span></p>Chico Vianahttp://www.blogger.com/profile/02196927483779993921noreply@blogger.com2