segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diálogos (3)

- Doutor, acho que estou louco.
- Deixe de tolice. Quem lhe disse isso?
- Uma voz...

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- Maricota, como é mesmo o nome daquela doença que eu tenho?
- Amnésia!

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- Professor, diga uma frase de espírito.
- “Hoje à noite venho lhe assombrar!”

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- Meu marido só pensa em sexo.
- Pois o meu pensa, e também faz.
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- Só sei que nada sei.
- Pois eu, nem isso.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Humor e linguagem

O texto de humor é excelente material para o estudo da língua. Isso porque os recursos que levam ao riso decorrem de uma relação muito peculiar entre significante e significado. O efeito humorístico vem de uma ruptura que, como no texto poético, promove uma desautomatização do sentido. Espera-se uma coisa, e aparece outra. Primeiro, o ouvinte/leitor se depara com o imprevisto; depois, constata que esse imprevisto aponta para outro sentido, portador de uma intenção crítica ou irônica.

Vejamos três exemplos, todos do que se poderia chamar “piadas de casal” (casais comumente são fontes de narrativas humorísticas; em Shakespeare e nos românticos em geral aparecem também como alvos de tragédia, sublimidade, ou as duas coisas juntas).

Eis o primeiro exemplo. Conversam marido e mulher, e de repente ela diz: “ -- Querido, tive uma ideia.” E ele: “Teve?” A resposta do marido à declaração da mulher é despropositada. Esperava-se que ele quisesse saber qual fora a ideia. Ao surpreender com a indagação um tanto exclamativa “Teve?”, o homem emite um juízo sobre o intelecto da sua esposa; sugere que ela ter ideias é no mínimo algo muito raro. Rimos não da resposta impertinente, mas do sentido para o qual essa resposta aponta.

O segundo e o terceiro exemplos assentam na ambiguidade, que é um manancial de piadas. A palavra nesses casos tem mais de um sentido, dos quais um é convencional e pertinente -- e o outro “não cabe” na situação, aparece como intruso. Por força dessa intrusão abre-se uma clareira semântica, propõe-se um nexo associativo surpreendente, que promove o riso.

Vamos ao segundo exemplo, também um diálogo. Desta vez quem fala primeiro é o homem: “ - Querida, acho que nascemos um para o outro.”

“- É verdade. Difícil vai ser encontrar esse outro.”

A piada ironiza o velho clichê da retórica amorosa “nascer um para o outro”. O efeito humorístico decorre da ambiguidade do pronome “outro”, que na fala do homem tem um caráter menos neutro e mais definido (“o outro” é cada um dos dois). A mulher, contudo, interpreta o outro como “alguém”, “outra pessoa”. Mas não rimos disso. Rimos do que se revela na “troca”, ou seja, que o homem com quem ela está ainda não é aquele por quem seu coração espera. Coloquei “troca” entre aspas, pois freudianamente a mulher não faz confusão alguma. O aparente engano reflete uma verdade que seu inconsciente conhece muito bem.

Agora o terceiro exemplo. Terminada a cerimônia, o homem diz à mulher com quem acabou de se casar: “- Agora devemos nos transformar em um só corpo e um só espírito. Proponho que sejam os meus.”

Essa é uma piada machista, tanto que a mulher não tem voz; só o homem fala. A figura que promove o efeito humorístico é a antítese entre a ideia de igualdade, presente no primeiro período (devemos ser “um só”), e a locução “os meus” do segundo, que destaca apenas a figura masculina. O humor não seria possível sem a ambiguidade presente em “um só”, que dá ideia tanto de fusão (promovida pelo casamento) quanto de exclusão (traduzida no propósito do homem de se superpor à mulher).

Dizer pelo excesso