A Justiça não tem religião, pois independe de crenças.
Seu referencial deve ser a verdade, e não o dogma. A consciência de um juiz não
pode estar comprometida pelos apelos subjetivos e emocionais implícitos na
escolha desta ou daquela religião. Não pode ser toldada por uma visão de mundo
particular, que vê com reservas e às vezes com hostilidade outras visões.
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Quando se quer criticar alguém de
direita, diz-se que é de “extrema direita”. Quando se quer criticar alguém de
esquerda, diz-se que é de “extrema esquerda”. Ser esquerda ou direita,
tão-somente, parece que não é problema. O mal ocorre quando se agrega a um
desses rótulos o adjetivo “extremo”. Daqui a pouco, para criticar um moderado,
vão chamá-lo “extremista de centro”.
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Não acredito em Deus, mas sei que Ele me
perdoa por isso. Minha descrença é um modo de afirmá-lo, pois ninguém se dá ao
trabalho de negar o que não existe. O problema não é saber se Deus existe ou
não, mas sim em que medida a crença ou descrença nele determina o nosso
comportamento.
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Viver é fazer. Não necessariamente para “ficar”, mas para justificar a
existência e dar ao tempo um emprego — vale dizer: um sentido. A vida tem
sentido para os que, fiéis a si mesmos, empregam seu tempo em realizar aquilo
para o qual vieram ao mundo.
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Sempre que me sento para escrever,
me sinto desafiado. Escrever requer muita responsabilidade. Tem um dimensão
ética, pois implica respeito pela língua. É preciso senti-la, sondar as suas
possibilidades, conhecer e seguir determinadas regras — mas às vezes
transgredi-las. A língua tem uma verdade que se expressa por meio de uma
retórica. A retórica guia o pensamento (ou melhor, coreografa-o) e disso
resultam não só efeitos estéticos, como também novas revelações sobre o homem e
o mundo.