A devoção conforta independentemente do objeto a que se
destina. Subtrai-nos à gratuidade, que sempre é motivo de inquietação. A entrega
a uma crença, um projeto, uma pessoa dá-nos a sensação de que possuímos a nós
mesmos. Peregrino da liberdade, o homem parece que só se tranquiliza quando a
ela abdica. Mas é preciso escolher muito bem em prol de quem fazemos isso.
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O humor
comporta alguma dose de sadismo (ri-se de algo ou de alguém). Mas é um sadismo
benigno, que aponta falhas e desproporções para corrigi-las, e não para
satisfazer a perversão. O sádico inflige dor a outrem visando unicamente ao
próprio prazer. O humorista quer que os outros riam.
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No jogo da nossa vida, chega o dia em que o “tempo
regulamentar” esgota e ficamos... por conta do juiz. Só nos resta torcer para
que ele vá esquecendo o apito.
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Os livros que nos marcaram são por nós
continuamente reinterpretados. Não precisamos relê-los para lhes atribuir novos
sentidos. À medida que deles nos distanciamos no tempo, mais os sentimos
próximos. A maturidade nos faz descobrir o que não tínhamos percebido em
leituras anteriores. Os bons livros são sementes que em nós se multiplicam e
nos fazem crescer.
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Falar dos outros é
catártico. Quando fazemos isso, nos compensamos do que não conseguimos fazer (e
ser). Alguém já se referiu à utilidade psicológica da fofoca, que nem sempre é verdadeira (mas se for, melhor). A fofoca mostra que o ser humano vive em
competição com os outros. Saber de um traço negativo deles tem um sabor de
triunfo.