Li que a obesidade agrava a situação dos que são
infectados pelo coronavírus. Isso tem feito alguns países, como a Inglaterra, tomar
medidas duras para impedir que a população aumente de peso. Lá as lanchonetes
não podem mais fazer acréscimos gratuitos aos cardápios convencionais, por
exemplo. Nem é permitido, em alguns restaurantes, repetir os pratos.
O alerta dos médicos para os riscos de ser gordo e contrair
o vírus anda assustando os que estão acima do peso. Sempre se soube que o
sobrepeso faz mal por congestionar as artérias e sobrecarregar o coração. Mas dava
para conviver sem maiores angústias com essas ameaças. Se elas vinham a matar, era
de forma lenta, graças à conjunção dos maus hábitos alimentares com o
sedentarismo. Agora, não. A covid-19 mata em pouco tempo e de forma dolorosa.
Como a pandemia parece se alastrar, e não há sinais de
que perca força nos próximos meses, resta aos obesos agir rapidamente. É
preciso que obedeçam ao que mandam os epidemiologistas, evitando sobretudo o
contato social. Mesmo essa medida tem seus riscos, pois ficar em casa gera um
tédio enorme e para escapar a ele as pessoas acabam comendo mais do que devem (ou
podem) suportar. Além disso, o recolhimento domiciliar leva ao sedentarismo, o
que impede a queima de calorias (nem todo o mundo pode instalar uma academia na
copa, tem ânimo par fazer flexões no quarto ou está disposto a dar inúmeras idas
e vindas da sala à cozinha).
Há quem celebre a mortal suscetibilidade dos obesos à covid-19
por achar que a doença fará as pessoas comerem menos e se exercitaram mais. Ninguém
sabe, afinal de contas, quando um novo vírus vai aparecer (e talvez bem mais
nocivo aos que se empenham desbragadamente em satisfazer o apetite). A
obesidade é uma patologia e como tal deve ser tratada...
Não se pode contestar esse raciocínio. A obesidade é
de fato uma doença, tanto que comumente se aplica a ela o adjetivo “mórbida”.
Nunca ouvi falar de magreza mórbida, embora a esqualidez de certas pessoas
(penso nas modelos anoréticas, por exemplo) sugira um quadro clínico limítrofe
da morte. Mas a ideia de que o vírus fará as pessoas perderem peso e tornará
mais saudável a humanidade não deixa de refletir o velho preconceito contra os gordos.
E, com isso, de prestigiar o padrão de beleza exaltado pela sociedade de
consumo.
Sejamos
prudentes ao rejeitar os que estão acima do peso. Há quem se sinta bem com os quilos
a mais e contagie os outros com esse prazer. Ao gordo, com ou sem razão,
costumamos associar a tolerância e a bonomia. Poucos o ligam à maldade, tanto é
assim que raros são os vilões das histórias em quadrinhos que ostentam um largo
corpanzil. Parece que o excesso de peso tolhe a disposição para agredir os
outros. Sem falar que é para os gordos mais difícil correr da polícia.