sexta-feira, 24 de março de 2017

Divagando se vai longe (6)

    Há três tipos de posicionamento diante dos atuais escândalos de corrupção: o dos que querem a punição para todos os envolvidos, sejam eles de direita ou de esquerda; o dos que só admitem punição para os opositores; e o dos que não desejam punição alguma. Para esses deve-se passar uma borracha nos delitos e recomeçar do zero, pois crimes como o Caixa Dois faziam parte do sistema. Se todos pecaram, ninguém pecou (não é essa a perspectiva do pecado original...).
      Essa divisão do Brasil é antiga e me faz lembrar os meus tempos de Liceu paraibano. Deles ficaram lições.  Uma delas é que a lei da História é o ressentimento (ligado ao nietzschiano desejo de poder). A esquerda, tanto quanto a direita, quer o poder. O que a move não é propriamente a solidariedade com os que não têm, e sim o ódio aos que têm.
         Agir por ódio ou ressentimento turva o senso de justiça e abre espaço à vingança. Quem cultiva o senso de justiça quer que a punição se estenda a todos; os que agem por vingança desejam que se fechem os olhos aos erros dos pensam como eles. É como se a coloração ideológica fosse um álibi perene, que imuniza o indivíduo de todas as falhas morais (passadas e futuras). 
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O importante não é a sua opinião ser verdade, mas existir verdade na sua opinião.

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Nada como invocar Machado (sempre ele!) para explicar o Brasil. O país está me lembrando a Itaguaí do conto “O alienista”. Com adaptações, claro (e para pior). Onde na novela se lê doudo (grafia machadiana), leia-se corrupto.
Janot seria Simão Bacamarte, que pretende colocar os doudos da cidade na Casa Verde (um hospício, por sinal, bem mais salubre do que os atuais). Mas eram tantos os doudos que, com o tempo, havia mais deles dentro do que fora do hospício.
A solução? Mudar os critérios, claro, pois a maioria é que firma o consenso. Elaborou-se então um equivalente à lei do “abuso de autoridade” para enquadrar o Dr. Aristarco e os que ele considerava sãos (honestos). Funcionou. Os doudos deixaram a Casa Verde, e os que estavam fora acabaram trancafiados nela. 
Itaguaí é uma espécie de microcosmo, e nada impede que o que houve lá ocorra por aqui. Janot que se cuide!
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      O exame mais difícil é o de consciência. Devemos fazê-lo todo dia, mesmo sabendo que nunca seremos aprovados. 

domingo, 19 de março de 2017

Aforismos brasileiros (8) -- Moacyr Scliar

                         "Não se justifique nem se queixe."

Justificar-se e se queixar são duas atitudes perigosas. Muitos as praticam por uma espécie de automatismo, sem perceber o mal que fazem a si e aos outros. O excesso de justificativas supõe um eu carregado de culpa. Quem tem o tempo todo que se explicar vive sob a tirania alheia. Por medo de julgamentos negativos, procura sempre “dar satisfação” dos seus atos. A queixa, por sua fez, é uma forma de recriminação. Mais do que lamentar a vida, o queixoso busca agredir aqueles que seriam a causa do seu desconforto, ou da sua infelicidade. O maior problema da queixa é que ela não leva a lugar nenhum. Esgota-se nela mesma, pois no fundo o queixoso não quer mudar as coisas. Se quisesse, trocaria suas lamúrias pela ação.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Não é bem isso

                    (atualizando alguns clichês machistas)     

- Toda mulher gosta de apanhar (os objetos que os homens deixam pelo chão).  
- Mulher não sabe dirigir (quando é o homem que orienta o tráfego).
- Mulher não entende de futebol (jogado por certos pernas de pau).
- Onde há confusão, tem mulher (buscando moderar os ânimos). 
- Mulher fala demais (já que os homens não querem escutá-las).
- Lugar de mulher é na cozinha (ensinando o homem a vestir o avental)
- A mulher se aliou à serpente para expulsar o homem do Paraíso (mas se ela não tivesse feito isso os dois ainda estariam lá, curtindo um tédio infinito).

quarta-feira, 1 de março de 2017

Diálogos (17)

-- Querido, precisamos nos casar. 
-- Está bem, vou tratar dos papéis.
-- E eles estão doentes?...
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-- Filho, um bom diálogo é aquele em que ambos escutam.
-- Mas se ambos escutam, quem é que fala?
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-- Viu? Querem aproveitar a beleza e o carisma da primeira-dama para transformá-la numa espécie de “mãe dos pobres”.
-- Evita!
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-- Amigo, a vida é um circo.
-- Sei bem disso. Vivo na lona....
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Indignada, ela se queixou ao colega:
-- Aquele professor bota nota pela cara.
-- Acho difícil.   
-- Por quê?
-- Se fosse assim, você só tirava zero.

Dizer pelo excesso