Terminado o almoço ele se aproxima do pai, que está quase adormecendo no sofá.
– Pai!
–
Hum.
–
A gente pode conversar um pouco?
–
Hum.
–
“Hum” quer dizer que pode ou não?
–
Pode. Mas fale logo, que eu quero tirar minha soneca.
– Tem coisas que eu gosto em você...
no senhor, e tem outras que não gosto.
–
Por exemplo...
–
Gosto quando me leva pro cinema ou compra gibis pra mim. Não gosto quando me
bota de castigo ou não me deixa jogar futebol com a turma. E sobretudo não
gosto quando o senhor briga com a mamãe, como agora.
– Eu não brigo com ela. Ela é que briga
comigo.
– Dá no mesmo. Fico triste de ver os dois
discutindo pelos mesmos motivos. E quase sempre ela está com a razão.
–
Você acha? Às vezes sua mãe exagera...
–
Não é exagero. É cuidado. Ela pensa muito na casa, na família, em nós dois.
–
E eu não penso?! Você é muito pequeno para entender isso. Agora me deixe
dormir.
–
Só se o senhor prometer que não briga mais com ela.
–
Por que essa conversa agora?
–
Porque domingo é seu dia, eu vou ter que lhe dar um presente e não quero fazer isso
de má vontade.
–
“Vai ter”?
–
Não se preocupe. O presente já está comprado e vou lhe dar de qualquer maneira.
Mas a gente precisava, antes, ter essa conversa. De homem para homem.
–
De menino para homem, você quer dizer.
–
Está vendo? O senhor não me respeita. “Menino”! O que tem demais ser menino?
–
Nada, contanto que não se meta em assuntos de adulto. Com o tempo você vai
compreender que brigas de casal não são o fim do mundo. Acontecem em todo
casamento. Isso não quer dizer que os dois não se gostem. Pergunte à sua mãe
pra ver se não é verdade. Agora vá, que já está passando a hora do meu cochilo.
O
menino se afasta e volta depois de alguns minutos.
–
Pai...
–
O que é agora?!
–
Perguntei a ela. Brigas de casal acontecem, mesmo, em todo casamento.
–
Eu não lhe disse?
–
Mas não precisam durar tanto tempo. Por que não aproveita, que domingo é seu
dia, e faz as pazes?
–
Isso deve partir de sua mãe.
–
Não acho. Esse tipo de decisão deve partir do pai, que é o chefe. Ele é quem
toma a iniciativa.
–
Está bem. Vou pensar.
Era
uma promessa, mas o menino ficou aliviado. Sabia que ele não era de quebrar
promessas. Tudo indicava que teria um ótimo Dia dos Pais.
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