quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A promessa

  


Terminado o almoço ele se aproxima do pai, que está quase adormecendo no sofá.

– Pai!

– Hum.

– A gente pode conversar um pouco?  

– Hum.

– “Hum” quer dizer que pode ou não? 

– Pode. Mas fale logo, que eu quero tirar minha soneca.

          – Tem coisas que eu gosto em você... no senhor, e tem outras que não gosto.

– Por exemplo...

– Gosto quando me leva pro cinema ou compra gibis pra mim. Não gosto quando me bota de castigo ou não me deixa jogar futebol com a turma. E sobretudo não gosto quando o senhor briga com a mamãe, como agora.

 – Eu não brigo com ela. Ela é que briga comigo.  

 – Dá no mesmo. Fico triste de ver os dois discutindo pelos mesmos motivos. E quase sempre ela está com a razão. 

– Você acha? Às vezes sua mãe exagera...

– Não é exagero. É cuidado. Ela pensa muito na casa, na família, em nós dois.

– E eu não penso?! Você é muito pequeno para entender isso. Agora me deixe dormir.

– Só se o senhor prometer que não briga mais com ela.

– Por que essa conversa agora?

– Porque domingo é seu dia, eu vou ter que lhe dar um presente e não quero fazer isso de má vontade. 

– “Vai ter”?

– Não se preocupe. O presente já está comprado e vou lhe dar de qualquer maneira. Mas a gente precisava, antes, ter essa conversa. De homem para homem.

– De menino para homem, você quer dizer.

– Está vendo? O senhor não me respeita. “Menino”! O que tem demais ser menino?

– Nada, contanto que não se meta em assuntos de adulto. Com o tempo você vai compreender que brigas de casal não são o fim do mundo. Acontecem em todo casamento. Isso não quer dizer que os dois não se gostem. Pergunte à sua mãe pra ver se não é verdade. Agora vá, que já está passando a hora do meu cochilo.

O menino se afasta e volta depois de alguns minutos.

– Pai...

– O que é agora?!

         – Perguntei a ela. Brigas de casal acontecem, mesmo, em todo casamento.

– Eu não lhe disse?

– Mas não precisam durar tanto tempo. Por que não aproveita, que domingo é seu dia, e faz as pazes?  

– Isso deve partir de sua mãe.

– Não acho. Esse tipo de decisão deve partir do pai, que é o chefe. Ele é quem toma a iniciativa.  

– Está bem. Vou pensar.    

          Era uma promessa, mas o menino ficou aliviado. Sabia que ele não era de quebrar promessas. Tudo indicava que teria um ótimo Dia dos Pais.


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O silêncio do inocente