quinta-feira, 30 de julho de 2020

Notas sobre a pandemia (28)

Semana passada fomos eu e Denise dar um passeio de carro pela orla. Era pouco para quem precisava tirar o enfado da quarentena. A ida à praia pede caminhada na areia, água de coco e banho de mar. Mas como, no atual momento, se entregar a tais excessos? O jeito era se contentar com a burocrática excursão automobilística e limitar aos olhos o que, em outros tempos, constituía uma aventura de todo o corpo. O que nos impressionou foi a quantidade de pessoas que, na areia e nas calçadas, manifestavam um alegre e ostensivo desrespeito ao que as autoridades preconizam como medidas de segurança. Gente aglomerada e sem máscaras; atletas de rua, também desmascarados, soprando seu grosso bafo em quem cruzava com eles. Atitudes desse tipo explicavam a posição do nosso estado no mapa da pandemia. Nele a Paraíba se coloria de vermelho, o que indicava um nível ascendente de infecção (esse nível passou recentemente ao amarelo, que indica a estabilização do número de casos). O combate à pandemia deve ser um compromisso de todos. Não adianta falar do mau exemplo presidencial e se comportar de forma irresponsável, concorrendo para que a infecção se alastre ainda mais.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

Notas sobre a pandemia (27)

 

Toda crise propicia mudanças, e não seria diferente com esta. É necessário mudar muita coisa para se adaptar à quarentena, e os hábitos domésticos estão entre os que prioritariamente devem ser transformados. O resultado dessa metamorfose pode nos surpreender. Eu e minha mulher tivemos a prova disso na cozinha. Cozinhar juntos deu um novo tempero à relação. Para ser honesto, ressalto que ela é quem detém as habilidades culinárias. Eu fico ao lado para dar um reforço psicológico e lavar a louça. O melhor da cozinha ocorre fora dela, na hora de degustar o que ali foi diligentemente preparado, por isso encaro com bom humor o trabalho duro. Deparar-se com pratos untados de óleo e panelas graxentas ajuda a valorizar o que é servido à mesa. Outro aspecto que merece o máximo de atenção é o sanitário. Há que desinfetar os sacos plásticos e lavar as máscaras na volta do supermercado. Sou meio avesso a esse ritual (tenho até levado algumas broncas por causa disso), mas acabei me compenetrando. Afinal, tudo pela vida. E bom apetite!

sexta-feira, 10 de julho de 2020

"Homemade"

         Na globalização promovida pelo coronavírus, o medo é a mensagem. “Homemade” ilustra isso com humor, emoção e muita criatividade. Disponível na Netflix, a série se constitui de 17 curtas-metragens cuja temática abrange a experiência de viver o confinamento provocado pela atual pandemia.

        São filmes, como o nome diz, feitos em casa (e não poderia ser diferente!) por diretores de várias nacionalidades. Neles nos deparamos com situações comuns (com as quais facilmente nos identificamos) e bizarras ou mesmo surreais, que apontam para o sonho como válvula de escape.

          Há o velho que, numa casa de repouso, tenta pela internet conquistar mulheres que outrora o rejeitaram; a garotinha que busca preencher a solidão imaginando cenas de um monólogo só entendido por ela; o homem que, cheio de remorso, imagina como se desculpar por ter um dia abandonado a mãe; a mulher que passeia de bicicleta por uma Los Angeles tão vazia que nem parece o cenário onde, na calçada da fama, se glorificam ícones de Hollywood. Há, enfim, uma série de tipos e situações que ilustram o tédio, o desespero (e por vezes a surpreendente euforia) de viver confinado num mundo de tantos apelos às compras e às diversões.

          A pandemia nos aproxima por representar uma experiência comum a todos. Ela reitera que estamos no mesmo barco (quais pequenos ulisses que nem podem voltar para casa) e continuamos suscetíveis a infecções vindas até do espaço intergalático (como sombriamente sugere um dos curtas).

          Como reagir a esse estado de coisas? Num dos melhores documentários da série, sugere-se a necessidade de criar “novas perspectivas para a vida”. Isso inclui fortificar os vínculos afetivos e cultivar o prazer proporcionado pela arte, que distrai mas sobretudo liberta. “Homemade é uma prova disso” e deve ser visto pelos buscam um espelho em que se reconhecer no atual momento.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Notas sobre a pandemia (26)


Estão criticando os jovens que se aglomeram em frente aos bares recém-abertos. Uma das razões é que eles não usam máscaras. Ora, como podem fazer isso se estão bebendo e comendo? Em vez de condenar os jovens, deve-se condenar quem autoriza a abertura daqueles locais.

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Os cinemas vão reabrir, mas os espectadores devem se sentar com uma distância de pelo menos três poltronas uns dos outros. Isso também vale para os namorados.

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          Usar ou não máscaras? O assunto parece que virou questão de Estado, pois grande parte dos governantes faz questão de não usá-las. É como se esse pequeno tapume em seus rostos lhes tirasse a dignidade – ou fosse a prova de que têm que se submeter a uma autoridade maior. Com isso, mostram arrogância e estupidez. No enfrentamento do coronavírus, a última palavra só pode ser dada por especialistas da área médica. Atender aos que eles dizem demonstra compromisso com o bem-estar de todos.

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         Pela forma como vem tratando a covid-19, o Governo pratica uma espécie de “genocídio passivo”. Não mata, mas deixa morrer.

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       As agressões domésticas (sobretudo dos homens contra as mulheres) vêm aumentando no período da quarentena. Isso não causa estranheza. Manter as pessoas juntas por muito tempo potencializa ressentimentos e reforça a agressividade que existe em cada um de nós. Além disso, com a reclusão forçada, muitos concentram no espaço doméstico a violência que comumente praticam na rua (por meio de xingamentos, insultos, provocações). Não basta então pedir que as pessoas fiquem em casa. É preciso também apelar a que façam isso com paciência e boa vontade.


O poder da frase