Admiro
quem tem o hábito de tirar um cochilo durante o dia. Comigo isso é difícil, e
presumo que o motivo seja a falta de hábito. Segundo os médicos, tirar a soneca
diária faz bem e – o mais curioso – não atrapalha o sono noturno. Entre as suas
vantagens, pelo que li numa rápida consulta à internet, estão a melhora da
atividade intelectual, a redução do estresse, a maior eficiência dos batimentos
cardíacos e o aumento do bom humor.
Esse
último efeito é o que mais aprecio, tendo em vista o mau humor que atualmente
impera, sobretudo, entre os habitantes das grandes cidades. A violência, as
dificuldades econômicas e o atropelo urbano vêm espicaçando os nervos das
pessoas, que tendem a se tornar intolerantes e agressivas. Não lhes faria mal
parar por alguns instantes e se deixar embalar por Morfeu, cujas virtudes hipnóticas
são ressaltadas na mitologia.
A
hora ideal para isso é depois do almoço, pois nesse momento o processo da digestão
ajuda. Sabe-se que, após as refeições, aumenta o nível de potássio no organismo.
Esse mineral, segundo li, “pode influenciar o sono de forma indireta ao
contribuir para o relaxamento muscular e a regulação da pressão arterial”.
Segundo ainda a matéria, isso “é parte de um mecanismo homeostático que busca
manter o equilíbrio eletrolítico do organismo”. Coisa séria e necessária, como
veem. Do aumento desse mineral não se escapa, bem como do efeito sedativo que ele
provoca.
O
governo deveria então estimular o hábito da sesta, instituindo algo como o Auxílio-Cochilo
ou oferecendo dedução no Imposto de Renda a quem provasse que tira uma soneca
de pelo menos meia hora depois de almoçar. Não era preciso que o País parasse,
como ocorre em certas partes da Europa, mas a medida concorreria para uma melhor
convivência entre seus habitantes – vários deles com o inevitável déficit de
sono decorrente das inúmeros exigências da vida moderna.
Mas
é preciso ponderar que, para fazer bem, o cochilo tem que ter hora e, sobretudo,
ser voluntário. Cochilar na hora errada, e quando não se quer, pode ser
prejudicial à pessoa. O povo, que sabe das coisas, traduz essa verdade no
conhecido ditado de que “cochilou, cachimbo cai”. O sentido é um tanto metafórico,
eu sei, mas não deixa de se aplicar aos que literalmente adormecem e se
subtraem aos deveres impostos pela realidade.
Nas
estradas, por exemplo, o cochilo pode ter consequências letais. São muitos os
acidentes provocados por quem dirige tresnoitado ou depois de uma gorda refeição.
Em nível de menor gravidade, não são poucos
os indivíduos que dormitam no cinema e perdem as melhores partes do filme. O fato
de suas mulheres beliscá-los quando começam a roncar não resolve em definitivo
o problema; algum tempo depois, o potássio os leva a embarcar no sono de novo.
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