sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Lição de aprender

      O magistério não deixa de ser um teatro. Um teatro sem drama nem tragédia, pois nele não há personagens sofrendo as penas decorrentes de suas faltas. O professor é um ator calmo e às vezes impessoal, mas não pode dispensar a ênfase, o élan que lhe possibilite dominar a turma.

        O termo “dominar” sugere disputa. Na classe há um jogo de forças em quem e o professor, por mais que não goste, representa a autoridade e a norma. Os alunos seriam a rebeldia natural a ser domada. Por isso eles o veem com desconfiança e têm um secreto prazer em contestá-lo. 

        Nem sempre se vai ao mestre com carinho. O mais das vezes, o que se destina ao professor é o espinho de um dito cortante, uma pergunta desafiadora, uma molecagem que provoca risos. 

        A disputa a que me refiro, entendam-me, faz parte da dramatização da sala de aula. Não quero dizer que, no fundo, o aluno não admire o bom professor e um dia não chegue a amá-lo. Como esse amor só nasce depois, sendo fruto de um reconhecimento que pressupõe maturidade, é bom que o mestre esteja preparado para enfrentar a fúria barulhenta dos rebeldes.

        Com alguma psicologia tudo acaba dando certo. O primeiro passo é evitar as tediosas e ineficazes lições de moral. Elas eram, no meu tempo de estudante, o que mais me divertia. Primeiro porque não passavam de um discurso óbvio, que terminava realçando a distância entre quem ensina e quem aprende.

        Segundo, porque geralmente vinha daqueles que não ensinavam bem. Era como se precisassem daqueles discursos ribombantes, às vezes coléricos, para compensar a fraqueza didática e o pouco domínio das disciplinas que lecionavam.

       Aprendi a partir daí que a lição mais eficaz não é a de moral. Nada melhor, para manter a turma quieta, do que mostrar-lhe o quanto ela precisa aprender.

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