Esse filme trata da relação conturbada entre o romancista
Thomas Wolfe e o editor Max Perkins. Perkins, que já editara livros de Hemingway
e Scott Fitzgerald, parecia ter a experiência e o tirocínio adequados para
lidar com o novato ansioso que lhe aparece com um calhamaço de centenas de
páginas manuscritas. A relação entre os dois, contudo, não é fácil. Desenvolve-se como uma parceria e um duelo que
revelam muito sobre a atividade literária.
O
filme toca dois pontos fundamentais no trabalho do escritor -- o da autoria e o
da revisão. Até que ponto as modificações determinadas por um editor retiram do
autor a legitimidade do trabalho? Em certa passagem, depois da incansável poda
que Max faz em seus escritos, o romancista lhe pergunta até que ponto o romance
já não seria dele, Max, e não do próprio Wolfe. Haverá algum exagero nisso, mas é sem dúvida
impossível reduzir a um quinto o número de páginas de uma obra sem alterá-la
profundamente (escrever, enfim, é cortar). Levem-se também em conta as correções
estilísticas que simplificaram uma escrita cheia de rodeios e preciosismos.
Vendo as mutilações feitas pelo editor, Wolf sofria como se os cortes ocorressem em sua própria alma. “Eu penei para escrever isso, agora você vem e corta!” Eis outra lição que o filme nos dá: nem sempre mais sofrimento corresponde a mais valor artístico. O autor sabia o que lhe custara cada palavra, cada confissão, cada lembrança associada à figura do pai, mas isso não queria dizer que tudo que escrevera valia a pena. Talvez o que viesse da maior dor fosse pouco eficaz do ponto de vista literário.
Vendo as mutilações feitas pelo editor, Wolf sofria como se os cortes ocorressem em sua própria alma. “Eu penei para escrever isso, agora você vem e corta!” Eis outra lição que o filme nos dá: nem sempre mais sofrimento corresponde a mais valor artístico. O autor sabia o que lhe custara cada palavra, cada confissão, cada lembrança associada à figura do pai, mas isso não queria dizer que tudo que escrevera valia a pena. Talvez o que viesse da maior dor fosse pouco eficaz do ponto de vista literário.
Outro
problema que o filme aborda diz respeito à entrega do escritor ao seu ofício.
Uma entrega obsessiva e radical, que leva Wolfe a deixar de lado a família e desprezar
a mulher. Com suas naturais cobranças, elas tendiam a roubar-lhe os momentos
que pretendia (e precisava) dedicar ao trabalho. Só lhe interessava como
companhia o editor, com quem se envolvia em discussões intermináveis. O preço
do abandono familiar foi alto; custou ao romancista o ódio da mulher, levando-o
à solidão e certamente precipitando a doença que o mataria.
Wolfe e Max representam as duas dimensões que todo escritor de algum modo tem dentro
de si. Um é a fantasia; o outro, a ponderação. Um se excede, o outro limita. O primeiro é o artista com seus interesses, fragilidades e ambição de glória. O segundo é o mercado com as suas leis. Os dois precisam estar em equilíbrio, pois o excesso de um ou de outro pode levar ao devaneio da imaginação ou à paralisia criativa – ambos inimigos da arte.
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