domingo, 22 de abril de 2018

Divagando se vai longe (11)

Muitos tendem a julgar a opinião de quem escreve como “a última palavra”. Acham que ele é um porta-voz da “verdade”. Quem pensa assim esquece que o compromisso do escritor é sobretudo com a linguagem e que  a verdade do discurso não é necessariamente o discurso da verdade.
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Tem gente que nos manda convite para um evento e pede para “confirmar a presença”. Confirmar como, se ainda não estivemos lá?
Pior são os que nos pedem para “confirmar a ausência”!
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    Há quem diga “tinha chego”. Essa mania de criar particípios irregulares preocupa os que zelam pela língua. Imaginem um dia a gente ouvir, por exemplo, uma mulher dizer que “tinha pinto”... Não ia pegar bem!
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        Fala-se muito na beleza ideal, mas pouco se comenta sobre a feiura ideal. Até nesse aspecto, coitados, os feios sofrem preconceito. Deve ser porque diante dos feios levamos o que se convencionou chamar “choque de realidade”. Nesse caso a feiura seria, digamos, mais sincera, enquanto que na beleza haveria muito de miragem. A beleza é uma promessa de felicidade, como diz Flaubert, e promessas nem sempre se cumprem.
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Nelson Rodrigues escreveu que não se faz nada de valor sem uma ideia fixa. Com isso ele antecipou em algumas décadas a recomendação de “manter o foco”, que hoje é recorrente nos manuais de aconselhamento para o sucesso.
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Todo homem é mais do que “seu” personagem, por isso evite se confundir com o personagem que você é (palhaço, juiz, cínico, piedoso...). Esse tipo de confusão tipifica e estigmatiza. E sobretudo impede que emerjam outros traços da sua personalidade, pois ninguém é uma coisa só.

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O poder da frase