Conviver entre quatro paredes é duro, e se
torna pior quando descuidamos da imagem – deixando, por exemplo, crescerem os
cabelos. Nesse caso o equilíbrio familiar fica literalmente por um fio (ou
melhor, por fios demais). O fechamento de barbearias e salões de beleza afeta
as relações porque constitui um golpe no narcisismo. Diminui a autoestima, e
sem ela ninguém pode se relacionar bem com os outros. É fácil acompanhar pela televisão
dicas de dança, relaxamento, exercícios físicos, enfim, todo um conjunto de
atividades que facilitam o dia a dia na quarentena. Mas como orientar as
pessoas sobre a maneira de desbastar a montanha pilosa que se acumula em seu crânio?
Além de feia, ela ainda oferece o risco de dar guarida aos piolhos. E que dizer
das mulheres, privadas de frequentar os salões de beleza? Tirem-lhes o cinema,
o restaurante, os passeios, mas não as impeçam de adentrar essas pequenas
catedrais da vaidade. Toda mulher tem a beleza como primeira religião, e privá-las
dos salões redunda em neurose e sentimento de culpa. E quando se instala esse
pathos, nós homens é que pagamos pato.
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