Affonso Romano de
Sant’Anna aliava o conhecimento da literatura ao talento para a criação
literária (foi ensaísta, cronista, poeta).
Como estudioso, pesquisou
as matrizes de dois procedimentos que se refletiram em muito da nossa produção –
a paráfrase e a paródia. Esta última categoria, trabalhada em alguns dos seus
textos e brilhantemente explorada nas aulas, levou-nos a compreender melhor a
obra de um Oswald de Andrade, um Drummond ou um Mário Quintana (para citar
alguns exemplos).
Politicamente, preferia
questionar “que país este” a propor estratégias de engajamento social, fazendo
desse questionamento um estímulo para que se pensasse além do simplismo das
ideologias.
Os cursos que fiz com ele
na Pós-Graduação da UFRJ ajudaram-me a entender a literatura como um continuum
no qual as rupturas são muitas vezes retomadas de procedimentos anteriores. Num
deles, sobre literatura e carnavalização, escolhi apresentar na avaliação final
monografia sobre o romance “A verdadeira estória de Jesus”, de Waldemar Solha,
inserido no corpus a ser analisado.
Não deixa de ser curioso
que ele tenha morrido durante o Carnaval, tema que abordava em suas aulas sobre
a “sátira menipeia” – protótipo da “inversão” presente nos festejos dessa festa
pagã e profana que realça a feição contraditória do nosso espírito.
Evoé, Affonso, misto de
gentleman e disfarçado folião! Se outro mundo existe, foste recebido não por
um coro angelical, mas por uma trupe de mascarados que escondem sob o disfarce
o que há de intensamente humano em nós.
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