Cresci ouvindo dizer queBrigitte Bardot era a uma figura pecaminosa, imagem da luxúria e da devassidão. Isso faz muito tempo, claro, e tinha a ver com o propósito de incutir na criança o temor ou mesmo a abominação do sexo.
Cresci mais e, em filmes como “E Deus criou a mulher” (título provocativo por sugerir para a mulher uma matriz divina, e não demoníaca), tive uma mais adequada percepção da figura da atriz.
Bardot inaugura uma nova versão da Femme Fatale. Ela não maltrata nem humilha Michel (personagem de Jean- Louis Trintignant) por querer destruí-lo, como ocorre com as versões tradicionais desse mito, mas por ser extremamente livre para os padrões sociais do lugar onde moram.
É malvada não por cálculo ou estratégia, mas por natureza. Seu comportamento aparece como uma resposta a quem aparentemente tenta domesticá-la por meio do casamento e da submissão às normas sociais.
Daí se dizer que o filme de Roger Vadim (marido da atriz à época) “inventou” o mito Bardot — uma espécie de símbolo da quebra dos valores tradicionais e da liberação sexual dos anos 1950.
Na visão do diretor, que chocou os redutos conservadores, a liberdade física de Bardot aparece como um desafio à moralidade burguesa.
Por extensão, o filme usa a liberdade feminina como uma força que busca desestabilizar a autoridade masculina tradicional
A Igreja Católica e grupos conservadores condenaram o filme, o que concorreu para fixar a imagem da estrela como uma mulher perigosa, mesmo demoníaca — tal como me pintavam quando eu era menino.
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