sábado, 18 de julho de 2009

Palpite infeliz

Em sua última coluna na revista “Veja”, Diogo Mainardi afirmou que Chico Buarque era uma fraude. Fiquei espantado e, ao mesmo tempo, com uma sensação de logro. Desde a adolescência ouço Chico; já cantarolei muito “A banda”, “Carolina”, “Olê, olá”, “Partido alto” e tantos outros sucessos dele.
Também já trabalhei com letras de suas músicas em classe, e o resultado sempre foi bom. Nem de longe me passava pela cabeça que naqueles versos inspirados e tecnicamente perfeitos houvesse alguma intenção de ludíbrio. Agora fiquei sabendo que havia, e devo essa intrigante revelação ao colunista de “Veja”.
“Intrigante” porque Chico sempre foi considerado unanimidade nacional. Dizia-se que ele estendeu um olhar agudo tanto ao subúrbio quanto à metrópole. Rastreou e descreveu o percurso do “malandro”, substituído aos poucos pela picaretagem dos meliantes profissionais, e fez a crônica dos amores e da miséria comum no asfalto. Sua obra demonstra uma rara conciliação entre o lírico e o social.
Era isso o que mais ou menos se falava do compositor, mas agora sabemos que estávamos enganados. Mainardi veio nos tirar do escuro. Até então estávamos como Pedro Pedreiro, esperando inutilmente o trem; ou como Carolina, postada à janela sem ver o tempo nem a banda passar. Agora despertamos. E se antes apenas escutávamos o dono da voz, agora podemos escutar a voz do dono. E a voz do dono, engrossada pela opinião de uma escritora estrangeira (tinha que ser!), não admite outra designação a não ser “uma fraude”.
Pode-se objetar que Diogo não se referiu a todo o Chico, mas apenas ao Chico romancista. Menos mal, mas essa ressalva não desfaz a contundência do julgamento. Ninguém é falsificado pela metade; uma meia falsificação (se é que existe isso) é já uma falsificação inteira. Sabemos que o autor de “Trocando em miúdos” não é um grande ficcionista, mas daí a considerá-lo um embuste vai uma grande distância. Talvez isto se explique pelo ciúme de quem também é um romancista sofrível e não tem para contrabalançar essa carência um talento excepcional em outros domínios -- como tem o Chico na música.
Mas é possível que nas palavras de Mainardi exista um elogio. Não há nada mais glorioso para um artista do que se identificar com o seu país e o seu povo; e quem acompanha os textos do acrimonioso jornalista sabe qual o conceito que ele tem do Brasil e dos que nele moram.
Segundo a visão mainardiana do mundo, nossa arte, nossos hábitos, nossa mentalidade não passam de um grande engodo. É natural, por esse raciocínio, que um artista da dimensão de Chico seja também uma fraude.
Mas eu ainda prefiro um Chico Buarque fraudulento a um Diogo Mainardi legítimo.

2 comentários:

  1. Nossa, eu amo as músicas do Chico também, embora a maioria das pessoas da minha idade não gosta nem de ouvir uma única nota de suas músicas... hauahauhauah
    Vou procurar essa matéria do Diogo para ver o que tanto ele disse, na íntegra.
    Será que ele têm argumentos suficientes para me convencer?
    Acho improvável... hehehe

    Bjooos

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  2. AMO O CHICO, PENA QUE OS ALUNOS , ATUALMENTE, NÃO CURTEM ANALISAR SUAS LETRAS.BONS TEMPOS ANTIGOS, QUANDO EU LEVAVA AS MÚSICAS PARA A SALA E A AULA ERA UMA FESTA! BEIJOS, CHICO, GOSTO MUITO DO c, MENINOOOOOOOOOO

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