domingo, 26 de julho de 2009

À Lua, de novo

Vejo comemorações discretas a propósito dos 40 anos da chegada do homem à Lua. “Discretas” é eufemismo; a maior parte da imprensa relembra o fato com alguma decepção. Destaca o contraste entre a grandiosidade da conquista e a insignificância do que se seguiu.
Esperava-se que quatro décadas depois o homem tivesse voltado ao nosso satélite mais vezes ou até pousado em Marte. Como nada disso aconteceu, parece que o feito de Armstrong e seus colegas foi inútil.
Não falta quem se alegre com esse pífio resultado. Nem todo o mundo acredita nas imagens que mostram a descida do módulo lunar naquela superfície arenosa e o passeio do primeiro homem em solo extraterrestre. Considera tudo isso montagem, “mentira” dos americanos.
A Lua e os demais astros seriam territórios de Deus, e querer conquistá-los equivaleria a desafiar o Criador. Nosso lugar é a Terra; pretender sair dela seria uma transgressão semelhante à que nos tirou do reino da natureza para nos lançar no domínio do pensamento. Até hoje pagamos caro por isso...
A maior parte das pessoas, contudo, ressente-se da pasmaceira que se seguiu à viagem da Apolo 11. A Lua sempre nos pareceu um trampolim intergalático; a partir dali seria possível pular para outras luas, planetas, constelações.Se nessas quatro décadas nem conseguimos voltar a ela, como esperar algum um dia chegar a outros mundos?
Precisamos do sonho das viagens espaciais, mesmo que ele nunca passe mesmo de sonho. Nada nos garante que exista vida em outros planetas - e que, existindo, isso possa de alguma forma alterar a nossa realidade. Mas nos faz bem imaginar que seres longínquos, mentalmente superiores a nós, detêm a resposta para alguns de nossos enigmas.
Essa é uma das razões pelas quais a Nasa promete uma nova volta do homem à Lua (as outras, bem mais fortes, ligam-se aos interesses da ciência). A viagem ocorrerá a daqui a 10 anos, e dessa vez os astronautas não se limitarão a caminhar sobre areia e pedra. Vão morar por algum tempo lá. Em vez de um passo, uma longa estada, a fim de avaliar o comportamento do organismo humano num meio tão diferente do nosso.
A humanidade estará de olho na missão. E dessa vez o comandante vai precisar de mais do que uma boa frase para nos convencer de que a aventura terá sentido e, sobretudo, sequência.

PALAVREANDO

Ficou famoso por ter vivido no mais completo anonimato.
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O pior do preconceito é que ele é um pecado sem remorso. Não passa pelo crivo da consciência e toma a aparência de naturalidade. Vencer um preconceito é vencer a si mesmo.
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Sou capaz de renunciar à vaidade, desde que isso chegue ao maior número de pessoas.
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“Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.” Machado, como sempre, certeiro. O orgasmo é uma sensação, é um nada -- mas nós o perseguimos como se nele houvesse um além, um sentido.
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Quem já beijou não é virgem. O primeiro beijo é o defloramento da alma.
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Nem todas as partes do corpo são bonitas, por isso a nudez precisa de ângulo. Um bom ângulo é o que faz a diferença entre erotismo e anatomia. Já o que separa erotismo e pornografia é a linguagem. As coisas são bonitas ou feias de acordo com a forma como as nomeamos.
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Tudo é possível, inclusive a felicidade.

2 comentários:

  1. Chico, adoro você! apareça, menino!

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  2. "Nosso lugar é a Terra; pretender sair dela seria uma transgressão semelhante à que nos tirou do reino da natureza para nos lançar no domínio do pensamento. Até hoje pagamos caro por isso..."

    Caramba, fantástico! Isso me fez lembrar de uma caricatura de Caulos, onde há um homem com uma faca atravessada na cabeça e um balãozinho que diz: " Só dói quando eu penso."



    "(...)a aventura terá sentido e, sobretudo, sequência."

    É, a sensação de falta de sentido é perturbadora, talvez pelas conclusões e interrogações que deixam. E penso muitas vezes que isso incomoda mais no que vemos por fora, a despeito do que constatamos por dentro.


    Abraços, Chico!


    Luiza Iolanda

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O poder da frase