Estudar português segundo a norma culta piora a vida das pessoas. Isso é o que sugere o livro “Para uma vida melhor”, recentemente distribuído pelo MEC em algumas escolas dos níveis fundamental e médio do país. A gente sempre soube que as regras gramaticais são uma chatice; quando mal explicadas, elas põem o pensamento numa camisa de força e podem tolher a criatividade verbal do aluno. Mas daí a piorar as nossas vidas...
Não há dúvida de que falar de acordo com a norma requer esforço. Dizer “nós vamos” pressupõe o conhecimento das pessoas gramaticais e dos mecanismos de flexão que devem adequar o verbo ao emissor. Dizer “nós vai” é mais simples. Muitos falam assim no dia a dia.
O conceito que o livro traz sobre o estudo da língua mostra que os tempos mudaram. Ouvi falar de variantes linguísticas quando estava no curso de Letras. No ensino médio aprendi que se devia usar a norma culta, pois precisaria dela para falar bem em público e, sobretudo, para redigir sem riscos o texto que me seria pedido no vestibular.
Se me tivessem ensinado que é correto dizer: "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado", conforme está na publicação, eu certamente ficaria confuso. Segundo Heloísa Ramos, autora da obra, numa frase como essa a presença do “os” já é suficiente para indicar o plural.
Por que apenas a do “os”? Suponhamos que esse artigo estivesse no singular e que os adjetivos, também determinantes do substantivo “livro”, estivessem no plural. De quantos e quais livros se estaria falando? Se a própria palavra “livro” está no singular, o lógico é pensar que se fala de apenas um. “Mas o verbo está no plural” -- dirão. Ora, com tanta arbitrariedade na flexão dos nomes, poderíamos pensar que houvera engano também na do verbo. Sobretudo porque cabe a ele concordar com o termo nominal, e não o contrário.
Para justificar a construção “Nós pega o peixe”, a autora afirma: “...quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe”. Evidentemente que sabe. Mas se o objetivo do falante é apenas se comunicar, independentemente da forma usada para isso, não precisa haver escola. A escola existe para orientar sobre certos mecanismos de ajuste que dão coerência formal ao texto.
Numa frase como essa que a professora citou, o desrespeito à norma não traz grande prejuízo. É possível entender a mensagem. Em outras, contudo, pode gerar confusão de sentido. Há inúmeras situações em que a concordância é o meio de identificar o sujeito, ou seja, de saber a quem (ou a quê) o verbo se refere.
O livro procura evitar que os alunos sejam preconceituosos. É discriminação rejeitar o registro coloquial nas situações em que ele se impõe. Mas isso também ocorre quanto à língua padrão; rejeitam-se aquelas pessoas que, nas situações em que se pede uma linguagem espontânea e mesmo “inculta”, aparece falando certinho. Nem por isso a escola deve orientar que se fale “errado” para se adequar a tais situações informais.
A melhor maneira de fazer ver a pertinência do registro coloquial, ou mesmo do popular, é apresentar os textos orais ou escritos em que eles ocorrem e mostrar aos alunos que não constituem infrações. Apresentá-los como “recomendáveis” ou nivelá-los aos que observam a língua padrão só tem um efeito: confundir os estudantes e, de certo modo, negar o papel da escola.
Não há dúvida de que falar de acordo com a norma requer esforço. Dizer “nós vamos” pressupõe o conhecimento das pessoas gramaticais e dos mecanismos de flexão que devem adequar o verbo ao emissor. Dizer “nós vai” é mais simples. Muitos falam assim no dia a dia.
O conceito que o livro traz sobre o estudo da língua mostra que os tempos mudaram. Ouvi falar de variantes linguísticas quando estava no curso de Letras. No ensino médio aprendi que se devia usar a norma culta, pois precisaria dela para falar bem em público e, sobretudo, para redigir sem riscos o texto que me seria pedido no vestibular.
Se me tivessem ensinado que é correto dizer: "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado", conforme está na publicação, eu certamente ficaria confuso. Segundo Heloísa Ramos, autora da obra, numa frase como essa a presença do “os” já é suficiente para indicar o plural.
Por que apenas a do “os”? Suponhamos que esse artigo estivesse no singular e que os adjetivos, também determinantes do substantivo “livro”, estivessem no plural. De quantos e quais livros se estaria falando? Se a própria palavra “livro” está no singular, o lógico é pensar que se fala de apenas um. “Mas o verbo está no plural” -- dirão. Ora, com tanta arbitrariedade na flexão dos nomes, poderíamos pensar que houvera engano também na do verbo. Sobretudo porque cabe a ele concordar com o termo nominal, e não o contrário.
Para justificar a construção “Nós pega o peixe”, a autora afirma: “...quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe”. Evidentemente que sabe. Mas se o objetivo do falante é apenas se comunicar, independentemente da forma usada para isso, não precisa haver escola. A escola existe para orientar sobre certos mecanismos de ajuste que dão coerência formal ao texto.
Numa frase como essa que a professora citou, o desrespeito à norma não traz grande prejuízo. É possível entender a mensagem. Em outras, contudo, pode gerar confusão de sentido. Há inúmeras situações em que a concordância é o meio de identificar o sujeito, ou seja, de saber a quem (ou a quê) o verbo se refere.
O livro procura evitar que os alunos sejam preconceituosos. É discriminação rejeitar o registro coloquial nas situações em que ele se impõe. Mas isso também ocorre quanto à língua padrão; rejeitam-se aquelas pessoas que, nas situações em que se pede uma linguagem espontânea e mesmo “inculta”, aparece falando certinho. Nem por isso a escola deve orientar que se fale “errado” para se adequar a tais situações informais.
A melhor maneira de fazer ver a pertinência do registro coloquial, ou mesmo do popular, é apresentar os textos orais ou escritos em que eles ocorrem e mostrar aos alunos que não constituem infrações. Apresentá-los como “recomendáveis” ou nivelá-los aos que observam a língua padrão só tem um efeito: confundir os estudantes e, de certo modo, negar o papel da escola.
Nossa, os tempos mudaram mesmo, hein, professor? hauahauahauaha
ResponderExcluirPrefiro a norma culta, embora eu ainda tenha muito o que aprender (e sempre terei!).
Abraços compreensivos! ^^
Luana (www.lu-diariodebordo.blogspot.com)