domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal e presentes

Suponhamos que se faça uma pesquisa para saber qual o personagem mais importante do presépio. A maioria, claro, dirá que é o Menino Jesus. A festa natalina justifica-se por Ele. Sua vinda ao mundo, marcada por sacrifícios e exemplos, significou para o homem a Salvação.
Outros vão dizer que é a Virgem Maria. Não tanto pelo que faz ali, envolvendo o Menino com o desvelo materno, mas pelo sofrimento que a aguarda. Ver o filho ser morto com tanta crueldade, aninhar o cadáver no colo, conduzi-lo ao sepulcro -- haverá tormento maior do que esse para uma mãe?
Também não faltará quem aponte José, que sofreu calado as suspeitas de infidelidade da esposa. Não deve ter sido fácil para o carpinteiro saber que a mulher estava grávida e aceitar que essa gravidez não se dera pela via da carne, mas por intercessão do Espírito Santo. Sabemos por nossa cultura machista o que isso significa. Mas o compassivo homem, lutando contra as evidências, acreditou na virgindade de Maria e lhe deu o amor de que ela precisava para realizar sua missão
Haverá, por fim, quem ache mais importantes os Reis Magos. Não estranhe o leitor essa escolha; ela atualmente é a que melhor se sintoniza com o espírito do Natal. Os Magos inauguraram o gesto que hoje simboliza a Festa -- dar presentes. O ato de levar ouro, incenso e mirra foi o precursor das levas de gente que invadem os shoppings em busca de enfeites, roupas, objetos de decoração.
Longe de mim criticar os que presenteiam ou os que são alvo de nosso pendor para presentear. O problema é o exagero com que nos cobram isso. Um exagero que não disfarça, por trás da cortina de generosidade, a regência ávida e insaciável do mercado.
O resultado é que acabamos em alguma medida nos falsificando. Para não destoar dos outros presenteamos indiscriminadamente, a torto e a direito, sem que muitas vezes nosso coração eleja os destinatários. O difícil nesse jogo é saber o quanto há de sinceridade e o quanto há de pose. Qual a distância entre intenção e convenção.
No fim da maratona, que envolve intermináveis horas entre prateleiras e caixas registradoras, nossa alma sofre uma espécie de cansaço aquisitivo. Já não sabemos o que demos, nem a quem. E fica difícil distinguir nessa profusão de coisas os traços do verdadeiro afeto.

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