sábado, 1 de fevereiro de 2025

Pouco substancioso


 “A substância” pretende fazer uma crítica à obsessão que muitas mulheres têm com a beleza e a preservação da juventude. 

Conta a história de Elisabeth Sparkle, uma ex-atriz que vira apresentadora de ginástica e, ao perceber o seu declínio físico, aceita se submeter a uma experiência radical: administrar uma droga que a transformaria numa versão bem mais nova de si mesma. 

O experimento funciona, mas de uma forma surpreendente. Em vez de melhorar o seu aspecto, promove na mulher uma espécie de heterofetação; faz sair do seu corpo uma “outra”, com a qual ela passa a alternar a própria existência. 

Em vez de se deter no autoquestionamento sobre a velhice, discutindo os motivos da não aceitação e as implicações existenciais dessa recusa, o filme passa a expor o conflito que se instala entre as duas. 

Uma quer se sobrepor à outra, numa disputa tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde, e nesse confronto a velha atriz começa a se deformar fisicamente. Adquire aos poucos um aspecto monstruoso, que lhe impede os mínimos movimentos e a transforma num estorvo para si mesma. 

Parece estar nessa hipérbole a “mensagem” a ser transmitida pelo roteiro, já que são cada vez mais frequentes na mídia os “monstrinhos” que têm os rostos desfigurados por procedimentos como harmonização facial e outros do gênero. 

O horror físico aparece como o preço pago pela insatisfação que a personagem tinha consigo. A ênfase nessa transformação, contudo, ao mesmo tempo que constitui a nota original do filme, tira-lhe um pouco da verossimilhança. 

Embora envolva um tema sério como a passagem do tempo e os seus efeitos, A substância” se oferece mais à vista do que à reflexão. Impacta mais pelo que mostra do que pelo que suscita ante o melancólico reconhecimento, por parte de Elisabeth, de que está ficando velha. 

Merece destaque o trabalho das atrizes que encarnam os dois momentos da personagem — sobretudo o de Demi Moore, como Elisabeth. À medida que vai sendo preterida (e derrotada) por Sue (brilhantemente interpretada por Margaret Qualley), ela deixa transparecer um rancor e um desespero cuja intensidade se justifica pelo reconhecimento de que têm como alvo ela mesma. Afinal, como o roteiro faz questão de frisar, uma é a outra. 

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