O esporte apareceu como uma conquista da civilização e existe para abrandar os instintos humanos. Na disputa esportiva não se precisa destruir o adversário, que necessariamente não constitui um inimigo.
Toda essa bela construção evolucionária perde o sentido no âmbito das “torcidas organizadas”. Tais grupos são um recuo à barbárie, um resgate do espírito de bando. Basta olhar com atenção esses torcedores para ver que eles têm no esporte um mero pretexto. Não se unem pelo time “do coração” (mesmo porque de coração têm muito pouco), mas pela possibilidade de destruir os que não vestem a mesma camisa. Pouco lhes importa, na verdade, que seu time ganhe ou perca. No fundo até se frustram com a vitória, pois ela lhes tira um bom motivo para odiar os oponentes.
Há poucos dias, um membro de uma dessas torcidas matou um garoto de 14 anos num estádio da Bolívia. Disparou um sinalizador em direção aos adversários como quem usa uma arma de fogo, sabendo que o projétil atingiria alguém. Mirando um alvo tão diversificado, não teria como errar. O problema era quem seria a vítima, e nisso o autor fez uma pequena concessão: deixou a escolha ao destino. Morreria quem o sinalizador atingisse. E assim como foi o garoto Kevin Espada, poderia ter sido um adulto com filhos ou uma mulher que cuida dos pais velhinhos.
Sabe-se agora que o autor do disparo é menor, e que nessa condição terá uma pena branda. Por uma misteriosa disposição do nosso Código Penal, assassinatos cometidos por menores são menos graves. O efeito é o mesmo, já que se tira a vida de alguém, mas um ou dois anos a menos em relação aos cruciais 18 anos tornam menos impuro o ato de matar. Mesmo que haja a intenção.
Independentemente do que aconteça ao infrator, penso que pouca coisa vai mudar para as torcidas organizadas. Elas continuarão frequentando os estádios, perseguido os adversários, assustando as famílias que vão aos jogos para sofrer ou exultar (tudo dentro do chamado espírito esportivo). Pouca coisa vai mudar porque essas torcidas ilustram e reforçam a “mística do futebol”. São o lado negro de um fenômeno que, além de servir aos interesses financeiros dos clubes, mostram que entre nós o futebol é uma espécie de religião. Um credo marcado por fanatismo e loucura.
Não é por acaso que os torcedores do Corinthians, time do qual faz parte o autor do disparo, são conhecidos como “um bando de loucos”. Foi assim que Ronaldo Fenômeno os reverenciou quando esteve por lá! Como os loucos não são responsáveis pelos seus atos, deles se espera tudo -- que gritem, arrebentem, matem. Ao fazer isso, não estão mais do que justificando seu desvario. Pôr limites a tal insanidade seria tirar-lhes um direito natural.
A verdade é que esse tipo de torcedores em nada espelha o significado do futebol entre nós. Em vez de prestigiá-los ou lhes dar divulgação, dirigentes e mídia deveriam boicotá-los e reduzir cada vez mais sua influência. Nada mais insensato do que os identificar com a paixão que o brasileiro tem por esse esporte -- uma paixão alegre e vital, que para se expressar não precisa da morte de ninguém.
Toda essa bela construção evolucionária perde o sentido no âmbito das “torcidas organizadas”. Tais grupos são um recuo à barbárie, um resgate do espírito de bando. Basta olhar com atenção esses torcedores para ver que eles têm no esporte um mero pretexto. Não se unem pelo time “do coração” (mesmo porque de coração têm muito pouco), mas pela possibilidade de destruir os que não vestem a mesma camisa. Pouco lhes importa, na verdade, que seu time ganhe ou perca. No fundo até se frustram com a vitória, pois ela lhes tira um bom motivo para odiar os oponentes.
Há poucos dias, um membro de uma dessas torcidas matou um garoto de 14 anos num estádio da Bolívia. Disparou um sinalizador em direção aos adversários como quem usa uma arma de fogo, sabendo que o projétil atingiria alguém. Mirando um alvo tão diversificado, não teria como errar. O problema era quem seria a vítima, e nisso o autor fez uma pequena concessão: deixou a escolha ao destino. Morreria quem o sinalizador atingisse. E assim como foi o garoto Kevin Espada, poderia ter sido um adulto com filhos ou uma mulher que cuida dos pais velhinhos.
Sabe-se agora que o autor do disparo é menor, e que nessa condição terá uma pena branda. Por uma misteriosa disposição do nosso Código Penal, assassinatos cometidos por menores são menos graves. O efeito é o mesmo, já que se tira a vida de alguém, mas um ou dois anos a menos em relação aos cruciais 18 anos tornam menos impuro o ato de matar. Mesmo que haja a intenção.
Independentemente do que aconteça ao infrator, penso que pouca coisa vai mudar para as torcidas organizadas. Elas continuarão frequentando os estádios, perseguido os adversários, assustando as famílias que vão aos jogos para sofrer ou exultar (tudo dentro do chamado espírito esportivo). Pouca coisa vai mudar porque essas torcidas ilustram e reforçam a “mística do futebol”. São o lado negro de um fenômeno que, além de servir aos interesses financeiros dos clubes, mostram que entre nós o futebol é uma espécie de religião. Um credo marcado por fanatismo e loucura.
Não é por acaso que os torcedores do Corinthians, time do qual faz parte o autor do disparo, são conhecidos como “um bando de loucos”. Foi assim que Ronaldo Fenômeno os reverenciou quando esteve por lá! Como os loucos não são responsáveis pelos seus atos, deles se espera tudo -- que gritem, arrebentem, matem. Ao fazer isso, não estão mais do que justificando seu desvario. Pôr limites a tal insanidade seria tirar-lhes um direito natural.
A verdade é que esse tipo de torcedores em nada espelha o significado do futebol entre nós. Em vez de prestigiá-los ou lhes dar divulgação, dirigentes e mídia deveriam boicotá-los e reduzir cada vez mais sua influência. Nada mais insensato do que os identificar com a paixão que o brasileiro tem por esse esporte -- uma paixão alegre e vital, que para se expressar não precisa da morte de ninguém.
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