Geralmente são os alunos que
julgam o professor. Eles
quase sempre
o veem como um
símbolo de poder
e não perdem a oportunidade
de lhe apontar
manias, trejeitos,
falhas físicas
ou morais.
Mas
o oposto também
é verdadeiro. O professor
observa com espírito
crítico seus
alunos, conhece-lhes as virtudes e as mazelas.
De tanto vê-los ao longo
dos anos (pois,
no fundo, eles
são sempre
os mesmos), sente-se até capaz de elaborar uma tipologia.
E quais são
os tipos mais
comuns?
Há o aluno
esforçado, que não
deve ser confundido com
o inteligente. O esforçado é cuidadoso com
as tarefas, copia tudo
que é dito
na classe e geralmente
se senta na primeira fila. Faz questão da proximidade com o mestre, como se
deste emanasse um fluido
que lhe
aprimorasse o espírito.
O esforçado procura
superar com aplicação o que lhe falta em brilho. E por vezes se
sai melhor do que
o inteligente, que
termina relaxando os deveres. Grande parte
dos médicos, políticos
e funcionários de carreira
é feita de esforçados. Eles
quase sempre
vencem na vida, enquanto
o inteligente pode chegar
a extremos de sucesso
ou fracasso.
Seu destino, como o da mulher
muito bonita,
é uma incógnita.
Outro tipo
interessante é o desafiador. Ele não está na classe para aprender, mas para encarar
um duelo
pessoal com
o mestre. Por
um ressentimento que
só Freud explica, tende a contestar
tudo o que
o professor diz. Talvez
a origem dessa rivalidade
seja complexo de Édipo mal resolvido; o desafiador tende a projetar
em quem
lhe ensina
seus conflitos
com o pai.
Há o sossegado, para não dizer preguiçoso, que
assiste às aulas pensando noutra coisa. Na balada do fim
de semana, por
exemplo. Ele
estira as pernas e quase
se deita na cadeira. Faz questão
de conforto, pois é preciso compensar no corpo os penosos
sacrifícios infligidos à mente.
Há os tímidos, que são quase todos. Esses enrubescem até
quando respondem “presente”.
A diferença é que
uns enfrentam o olhar crítico
dos colegas e dizem o que precisa ser dito, enquanto outros
penosamente se deixam emudecer.
(Em “A rosa fenecida”, p. 98)
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