A paixão é uma doença.
Disso quem é que duvida?E quanto mais forte, ela
mais deixa em perigo a vida.
E não é doença tola,
dessas que fácil se cura -
mas uma síndrome, um complexo,
pois com as outras se mistura.
Tem da gripe, o lacrimejo;
da asma, a falta de ar;
da neurose, o medo mórbido;
da artrite, o latejar.
Do diabetes, o “açúcar”
que não se metaboliza;
da psicose, a angústia
que deforma e tiraniza.
Da rinite, a persistência;
da urticária, o calor;da diarreia, a urgência;
da febre alta, o rubor.
Do herpes, tem o contágio
que se reforça no beijo. E da otite, o zumbido;
da rouquidão, o arquejo.
Da paranoia, a tendência
a ser sempre vigiadoou a vigiar o outro
(tão querido e odiado!).
Tem da enxaqueca, a aura,
que o parceiro diviniza. Do tétano, a convulsão,
que o prazer mimetiza.
E tendo, assim, a paixão
sintomas tão variados,
por que então desse mal
ninguém quer ficar curado?
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