sexta-feira, 15 de agosto de 2014

As marcas

                      Recolhida no quarto, a mãe pensava:  
                      “Acho que nasceu velho esse menino.”
                      Bem poucas vezes ele demonstrava    
                      gestos de rebeldia ou desatino.

                      Ensimesmado, quase nunca ria,    
                      no cuidado de sempre andar correto.    
                      Como se lhe refreasse a alegria  
                      o triste olhar de alguém que estava perto.

                     Sem que ela o veja, o menino se acerca
                     e a surpreende (olhando pela fresta)
                     entregue mais uma vez à solidão.

                     Foi desse quadro -- ele nunca o disse --
                     que lhe vieram as marcas de velhice  
                     há muito impressas no seu coração.

                    (Da série "Meus pecados poéticos") 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O silêncio do inocente