O
uso do celular, do iPhone, do iPad ou artefatos semelhantes virou uma obsessão.
Hoje praticamente todos se grudam nesses aparelhinhos, mas o hábito (ou vício) é
bem mais comum entre os adolescentes. Pais, mães, professores sabem disso. Nas
minhas aulas exijo que eles sejam desligados, mas vez por outra surpreendo um aluno
observando o visor ou tentando passar mensagens. Parece difícil permanecer algumas
horas sem fazer isso.
Entende-se
o fascínio que essas maquininhas provocam. Elas exercem uma atração irresistível
devido não só aos múltiplos recursos que possuem, como também ao desenho
funcional e anatômico. Sopesá-las é como apertar uma varinha mágica. A um mero
toque é possível se comunicar com amigos e familiares – e não apenas se
comunicar por escrito, como nas velhas cartas, mas também ver a imagem das
pessoas. É possível ainda jogar e saber as novidades. Neste mundo globalizado
há fartura de estímulos, que nos convocam ininterruptamente; os iPhones e
similares são os condutos pelos quais toda essa agitação chega até nós.
O apelo
é tão grande que não nos desgrudamos deles nem quando estamos com outras
pessoas. O que mais se vê hoje em bares ou restaurantes é cada um fixado em seu
aparelho. Acompanhar o que ele mostra interessa mais do que ver ou ouvir os que
estão ao nosso redor. Em razão disso morre a conversa, acaba o contato interpessoal.
E ninguém se ressente nem protesta, pois todos fazem a mesma coisa.
Essa
indiferença pelos interlocutores físicos, como se sabe, traz um grande prejuízo
à vida social. Psicólogos dizem que ela tende a afastar os indivíduos uns dos
outros. Mas esse não me parece o efeito mais grave do uso de tais aparelhos. O mais
preocupante é que eles acabam afastando as pessoas de si mesmas.
Precisamos
de solidão para refletir sobre nós e o que nos cerca. A solidão torna possível
a arte, a filosofia, a religião e as intuições que levam às descobertas científicas.
Nem todos têm algo de novo a revelar ao mundo, é certo, mas o ser humano necessita
de concentração para alimentar o crescimento interior. Precisa de momentos em
que nada acontece, mas em silêncio o inconsciente trabalha. É deles que vêm novas
percepções sobre o que somos e novas alternativas para o que queremos ou podemos
ser.
Como
obter esses instantes de germinação interior se estamos o tempo todo ocupados em
interagir com dispositivos eletrônicos? Eles são hoje uma alternativa ao tédio,
ao silêncio, à falta do que fazer. Mantêm nossa atenção continuamente ocupada,
o mais das vezes com coisas repetitivas e irrelevantes que nos prendem no mesmo
círculo de ideias. De tão absorventes não dão espaço a outras fontes de
estímulo, como a leitura.
É triste imaginar que esses jovens, ao se
deitar à noite, não têm como se entregar à meditação e ao devaneio. Em vez de
começar ou continuar a ler um livro, fixam-se nos mesmos conteúdos que os torpedearam
durante todo o dia. E na manhã seguinte a primeira coisa que fazem, como os fumantes
que se apressam em pegar o primeiro cigarro, é ligar os aparelhos para ver se
há novas (ou velhas!) mensagens.
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