Meu time foi rebaixado para a Série B do Campeonato
Brasileiro. Não digo isso para provocar a solidariedade nem a pena de ninguém.
Digo-o como quem constata um fato, por sinal previsto em razão da péssima
campanha que ele fez. Como geralmente ocorre nessas situações, o clube passou
por graves problemas administrativos e financeiros. Mal dirigido, acabou
atrasando o salário dos jogadores.
Como se não bastasse, vendeu profissionais de talento,
e o que restou do plantel não tinha condições de superar os craques de outros
times. Mesmo assim nós, torcedores, mantínhamos a esperança. Imaginávamos que o
amor à camisa supriria a lacuna dos bolsos vazios. Esquecemos que jogadores
atuam por profissionalismo, não por amor. Agora só resta amargar o ignominioso
rebaixamento.
Ignominioso? Nem tanto. Ignomínia é desonra, e
torcedor nenhum deve se envergonhar com a desclassificação do seu time. Ele
nada tem a ver com os desmandos de uma diretoria relapsa; não concorreu
objetivamente para o desastre da campanha. Tudo que fez foi sonhar e sofrer –
além, é claro, de pagar o ingresso. E como “o sofrimento edifica”, deve
aproveitar esse momento para um exercício de humildade e compreensão das
alternâncias da vida.
No início fiquei abatido, mas depois fui recobrando o otimismo.
Espelhei-me na reação de torcedores que vi pela TV, de olhos marejados,
empunhando cartazes em que havia inscrições do tipo: “Não importa. Continuamos
com vocês!” Ou: “Na vitória ou na derrota, para sempre Botafogo!”
Isso me fez lembrar o clássico juramento dos noivos,
que diante do padre prometem permanecer juntos na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na opulência e na miséria. Estamos, sim, maritalmente
envolvidos com o nosso time do coração, e com a vantagem de entre nós não haver
o risco do divórcio. Tenho um amigo que está no terceiro casamento, mas
permanece Flamengo! E nessa condição, como diz o hino do clube, vai ficar até
morrer.
Outra coisa que me consolou foi a situação dos baianos
que lamentam o rebaixamento de Bahia e Vitória. As duas equipes caíram juntas,
e se isso foi bom por impedir que a torcida rival espezinhasse a outra, foi
ruim por ter deixado o estado sem nenhum representante na elite do futebol
brasileiro. Muito triste para quem até o momento tinha dois. Imagino que em
Salvador choraram os atabaques, multiplicaram-se as oferendas a Iemanjá e as
promessas a Santa Bárbara. Ano que vem,
na série B, a minha “estrela solitária” terá que fazer muita força para superar
o brilho dessa corte celestial.
Prefiro dizer que meu time caiu a dizer que ele foi
rebaixado. Rebaixamento dá ideia de humilhação, descrédito, sentidos esses que
o termo “queda” não tem. Tropeços, afinal de contas, fazem parte da vida. Todos
em algum momento caímos para nos levantarmos de novo. Vejam o Vasco: acaba de
retornar ao clube dos grandes cheio de brio e esperança. E como vem “de baixo”,
lutará encarniçadamente para se manter onde agora está. Com o Botafogo
acontecerá o mesmo. Palavra de torcedor!
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