domingo, 14 de dezembro de 2014

Para sempre Botafogo!

Meu time foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. Não digo isso para provocar a solidariedade nem a pena de ninguém. Digo-o como quem constata um fato, por sinal previsto em razão da péssima campanha que ele fez. Como geralmente ocorre nessas situações, o clube passou por graves problemas administrativos e financeiros. Mal dirigido, acabou atrasando o salário dos jogadores.
Como se não bastasse, vendeu profissionais de talento, e o que restou do plantel não tinha condições de superar os craques de outros times. Mesmo assim nós, torcedores, mantínhamos a esperança. Imaginávamos que o amor à camisa supriria a lacuna dos bolsos vazios. Esquecemos que jogadores atuam por profissionalismo, não por amor. Agora só resta amargar o ignominioso rebaixamento.
Ignominioso? Nem tanto. Ignomínia é desonra, e torcedor nenhum deve se envergonhar com a desclassificação do seu time. Ele nada tem a ver com os desmandos de uma diretoria relapsa; não concorreu objetivamente para o desastre da campanha. Tudo que fez foi sonhar e sofrer – além, é claro, de pagar o ingresso. E como “o sofrimento edifica”, deve aproveitar esse momento para um exercício de humildade e compreensão das alternâncias da vida. 
No início fiquei abatido, mas depois fui recobrando o otimismo. Espelhei-me na reação de torcedores que vi pela TV, de olhos marejados, empunhando cartazes em que havia inscrições do tipo: “Não importa. Continuamos com vocês!” Ou: “Na vitória ou na derrota, para sempre Botafogo!”
Isso me fez lembrar o clássico juramento dos noivos, que diante do padre prometem permanecer juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na opulência e na miséria. Estamos, sim, maritalmente envolvidos com o nosso time do coração, e com a vantagem de entre nós não haver o risco do divórcio. Tenho um amigo que está no terceiro casamento, mas permanece Flamengo! E nessa condição, como diz o hino do clube, vai ficar até morrer. 
Outra coisa que me consolou foi a situação dos baianos que lamentam o rebaixamento de Bahia e Vitória. As duas equipes caíram juntas, e se isso foi bom por impedir que a torcida rival espezinhasse a outra, foi ruim por ter deixado o estado sem nenhum representante na elite do futebol brasileiro. Muito triste para quem até o momento tinha dois. Imagino que em Salvador choraram os atabaques, multiplicaram-se as oferendas a Iemanjá e as promessas a Santa Bárbara.  Ano que vem, na série B, a minha “estrela solitária” terá que fazer muita força para superar o brilho dessa corte celestial.
        Prefiro dizer que meu time caiu a dizer que ele foi rebaixado. Rebaixamento dá ideia de humilhação, descrédito, sentidos esses que o termo “queda” não tem. Tropeços, afinal de contas, fazem parte da vida. Todos em algum momento caímos para nos levantarmos de novo. Vejam o Vasco: acaba de retornar ao clube dos grandes cheio de brio e esperança. E como vem “de baixo”, lutará encarniçadamente para se manter onde agora está. Com o Botafogo acontecerá o mesmo. Palavra de torcedor!

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O silêncio do inocente