Tomando um cafezinho num quiosque de Tambaú, ouço a
conversa de dois sujeitos. Um deles diz:
-- Quando eu morrer, vou me enterrar no seu buraco.
Que promessa estranha!
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Entre as minhas leituras de férias, estão “Sodoma e
Gomorra” (Marcel Proust), o terceiro volume de “Em busca do tempo perdido”; e “Guia
de escrita” (Steven Pinker), um excelente roteiro para quem quer escrever com “clareza,
precisão e elegância”.
Proust nas primeiras páginas do seu livro faz uma
caracterização exaustiva do homossexualismo, buscando entender (e explicar) a
psique do que chama de “homens-mulheres” e “mulheres-homens”.
Uma pílula retirada da página 29: “Toda criatura busca
seu prazer, e, se essa criatura não é por demais viciosa, busca-o num sexo
oposto ao seu. E para o invertido o vício começa (...) quando (...) busca o seu
prazer nas mulheres.” Ele usa mesmo o termo “vício” , que hoje pode soar politicamente
incorreto. Mas usa-o como Freud usa “perversão”, ou seja, com um propósito mais
descritivo, ou analítico, do que moral.
O livro de Pinker é das melhores coisas que li sobre a
arte de redigir. Com base em postulados da neurolinguística, o autor nos
apresenta os princípios do chamado “estilo clássico”.
Entre as diretrizes desse estilo está o emprego da ordem direta, a fuga às abstrações (“O estilo clássico minimiza as abstrações, que não podem ser vistas a olho nu”), a preferência por verbos, a recusa ao emprego dos chamados “substantivos zumbis”, que tendem a “esconder” os responsáveis pelas ações (corrijo muito essa prática nas redações dos vestibulandos, que escrevam frases do tipo: “É preciso mudança e renovação no nosso sistema de ensino”, sem informar quem deve fazer tais mudanças e, sobretudo, em que elas consistem).
Entre as diretrizes desse estilo está o emprego da ordem direta, a fuga às abstrações (“O estilo clássico minimiza as abstrações, que não podem ser vistas a olho nu”), a preferência por verbos, a recusa ao emprego dos chamados “substantivos zumbis”, que tendem a “esconder” os responsáveis pelas ações (corrijo muito essa prática nas redações dos vestibulandos, que escrevam frases do tipo: “É preciso mudança e renovação no nosso sistema de ensino”, sem informar quem deve fazer tais mudanças e, sobretudo, em que elas consistem).
Há também no livro ótimas observações sobre o uso da
voz passiva (às vezes injustamente estigmatizada) e sobre os perigos da
“maldição do conhecimento”, que consiste em achar que o leitor é capaz de entender
conceitos ou nomenclaturas de determinadas áreas. Esse mal acomete muito os intelectuais e não
raro os leva à obscuridade, que no fundo disfarça um falso saber.
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Outro
dia na televisão ouvi alguém dizer que é preciso entender “o psicológico” dos
jovens. Alto lá! “Psicológico” é adjetivo, e não substantivo. Aparece bem em
locuções como “nível psicológico” “distúrbio psicológico” etc. O que é preciso
é entender “a psique”, “a mente”, “o psiquismo”, “a psicologia” dos jovens.
Lembrei-me agora de um aluno que, numa redação, referiu-se ao “psico” dos adolescentes! Essa também não dá. “Psico” é forma presa, só aparece em compostos (psicoativo, psicolinguística etc.).
Lembrei-me agora de um aluno que, numa redação, referiu-se ao “psico” dos adolescentes! Essa também não dá. “Psico” é forma presa, só aparece em compostos (psicoativo, psicolinguística etc.).
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