domingo, 5 de fevereiro de 2017

Novos pecados poéticos

EM TEMPO  
O rio do tempo
como líquida estrada
vai tocando a vida    
rumo à foz do nada.

E nessa viagem
nada principia
que não se desfaça     
(tarde ou não o dia).

DÉBITO 
Quem quer e não faz
morre querendo,
e só o querer não salva.
O por fazer não preenche
o branco vazio da alma.
É um débito que se adia,
promessa que não se salda.

QUANDO EU NÃO FOR MAIS
Quando eu não for mais,  
não terei saudade alguma de ter sido.
Não sentirei a falta, nem a morte,
pois para senti-las é preciso estar vivo.

Apenas os que me conheceram
saberão que fui (mas não quem fui:
esse mistério morrerá comigo).

Saber-se ausente é impossível.
Quem sabe de alguma forma está presente
(do contrário, não teria como saber).
Ser ausente é ter a inconsciência de não estar
(no mundo ou em qualquer outra esfera)
e nada sofrer com isso,
pois consciência e dor
são faces do mesmo signo.

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O silêncio do inocente