quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Cinema e pipoca

Ir ao cinema e comer pipoca é hoje praticamente sinônimo. Comumente se veem nas filas de entrada pessoas com sacos ou mesmo caixas de pipoca, que tratarão de devorar enquanto assistem às sessões. De onde veio essa mania eu não sei, mas certamente ela se liga ao interesse dos donos dos cinemas por dinheiro. A venda desse tipo de guloseima, segundo li, tem feito pipocar os lucros.
Pipoca não é alimento e até faz mal à saúde. Entra em sua composição a tal gordura vegetal hidrogenada, que se impregna nas artérias mais do que a gordura animal. Quando vejo aqueles sujeitos sentados com um enorme pacote no colo, fico pensando se chegarão ao fim do filme sem terem um infarto. É muita gordura e muito sal ingeridos durante quase duas horas – e ainda mais numa postura sedentária. Quando algum deles se levanta não é para esticar as pernas, mas para comprar outro pacote – ou balde!
Mas, enfim, isso é lá com eles. Cada um sabe o que faz à saúde, e muitos preferem sacrificá-la a abdicar de um pequeno prazer. O problema é que a pipoca, se satisfaz o paladar de quem a come, pode ser um terrível inconveniente para os outros. Experimente assistir um filme ao lado de quem está comendo esses minúsculos objetos crocantes.   
A deglutição deles passa por etapas penosamente acompanhadas por quem está perto. Primeiro vem a trituração, que produz estalidos semelhantes aos de madeira sendo picotada (ou ao crepitar de faíscas numa fogueira). Depois vem a mistura do produto com a saliva, a qual não se dá facilmente pois muito do que parecia triturado tem ainda uns resíduos de milho e precisa ser quebrado de novo. Por fim vem a deglutição propriamente dita, que soa como um gorgolejo devido ao líquido a ela associado (pipoca sem refrigerante não tem graça).
Toda essa operação é acompanhada pelo vizinho, que tenta inutilmente acompanhar o filme e termina engolindo em seco. Não adianta olhar de lado e dar a entender que sente o incômodo, pois ninguém é mais indiferente aos outros do que alguém que come pipoca no cinema. A mastigação ritmada, o trabalho sucessivo com as mãos, o odor levemente acre da manteiga e do milho funcionam como um anestésico. A pessoa chega a se alhear do que passa na tela. A pipoca literalmente rouba a cena.
Às vezes deixo de ir ao cinema com medo de que, junto de mim, se abolete um desses comedores compulsivos. Nem sempre há cadeiras vazias para a gente sentar em outro canto, e ver o filme com tal vizinhança é uma prova de paciência pela qual poucos conseguem passar.    

Sei que deve haver mais pessoas como eu, por isso faço um apelo. Vamos lutar para que se aplique aos comedores de pipoca o que se aplica aos fumantes, ou seja, a destinação de um lugar específico. Eles ficariam separados por um revestimento acústico de quem entrou no cinema com o nobre e salutar objetivo de ver o filme. Afinal é para isso que se paga o ingresso, e não para suportar o incômodo dos estão ali não por razões lúdicas ou estéticas, e sim para satisfazer um tipo mais rudimentar de fome.   

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