Esse é o
título do livro em que James Geary, editor na Europa da revista Time, faz um estudo
sobre os aforismos ao longo do tempo. Ele mostra a evolução desse gênero desde quando que era praticado por sábios e profetas até os dias de hoje.
Seu interesse é estabelecer a trilha
de uma jornada do espírito em que se revela algo de comum a todos os homens. Segundo
ele, “os aforismos nos reafirmam que alguém passou por ali antes”. Como animais
filosóficos que somos, de um modo ou de outro sempre participamos dessa viagem
– alguns com refinamento, lendo os grandes autores; outros com o que é possível aproveitar
na literatura miúda que atualmente recheia
as estandes das livrarias.
Aforismos, como lembra Geary, não se
confundem com provérbios. Enquanto estes são genéricos, “batidos”, os aforismos
preservam a nota pessoal. Neles se deposita não apenas um saber, mas também um
estilo, que traz as marcas de um temperamento e de um caráter. Para mostrar
isso, o autor acrescenta à abordagem sobre cada autor um breve comentário
biográfico. E procura mostrar o quanto as
características físicas, a condição social, o sucesso ou sobretudo o fracasso na
vida determinam a visão de cada um.
O livro é erudito e ao mesmo tempo
leve, graças ao bom humor com que os tópicos são apresentados. A leveza também
se deve ao que há nele de autobiográfico, pois de tão “viciado” em aforismos o
autor começou, ainda jovem, a produzir os seus. Foi em encontros improvisados na
universidade, quando então escrevia frases do tipo: “Não confie em um animal –
não importa quantas pernas ele tenha.” Ou: “Há certos erros que apreciamos
tanto que estamos sempre desejando repeti-los.” Graças a uma dessas frases ele conheceu
aquela que seria sua esposa.
Em alguns aforistas o forte é o estilo;
noutros o que conta é mesmo a engenhosidade dos conceitos. O exagero de uma ou
outra tendência, como observa o autor, pode ter efeitos negativos. Joubert, por
exemplo, se esmera em “produzir, da grande de verbosidade no mundo, algumas
sentenças simples e cintilantes” e talvez por isso nunca tenha publicado um
livro; obcecado pela forma ideal, jamais se dava por satisfeito. Já Nietzsche “pula de pensamento em
pensamento, mas cai e pega fogo sempre que chega ao outro lado”.
Apreciações breves e certeiras como essas não
nos deixam largar o livro. Nele aprendemos muito sobre esse gênero de “todas as
épocas” e sobre alguns dos autores que nas mais variadas circunstâncias o
cultivaram. Se o homem se define pelo saber que produz ao longo do tempo, os
aforismos são trilhas privilegiadas para entender esse percurso. São
instrumentos pelos quais o ser humano procura, com o farol da razão, desfazer as
brumas da ilusão e da ignorância.
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