quarta-feira, 23 de maio de 2018

Divagando se vai longe (12)

        “Rouba, mas faz” (que a gente tem ouvido muito nos últimos tempos) sugere uma resignação cúmplice. O primeiro passo para vencer a corrupção é instituir o “Faz, mas rouba” e dar o maior peso possível à adversativa. Quem faz e rouba acaba desfazendo o que fez.
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        A rigor, não existe renúncia. Toda renúncia é troca, e muitas vezes a alternativa ao que renunciamos nos gratifica mais.
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       Toda queixa é agressão. O queixoso invoca a própria infelicidade para provocar culpa nos outros. Ao atribuir aos outros a responsabilidade por seu sofrimento, exime-se de resolvê-lo por si. Ele cultiva uma espécie de narcisismo masoquista, que só faz perdurar a aflição. Mas não se importa de sofrer, contanto que torne visível aos outros o espetáculo da sua dor.
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        Sei que sou lento e, quando “vou”, os outros já “estão voltando”. É justamente por ver a cara deles que eu não sinto vontade de me apressar.
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      A preocupação com o Além não leva a lugar nenhum. Distorce o essencial do problema, que é saber de onde viemos. Só descobrindo isso é que saberemos para onde vamos (se é que vamos a algum lugar). O mistério está na origem, e não no fim. O fim é o que imaginamos que será; o início é o que realmente foi. O homem pode fantasiar hipóteses sobre o final, em função de suas crenças, mas não pode escapar da matriz de que proveio — a natureza e o que a engendrou.
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        Você diz que é capaz de dar uma festa e não filmar os convidados? Duvídeo!

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O silêncio do inocente