terça-feira, 9 de outubro de 2018

Petelecos eleitorais (2)


Candidato que usa santinho como panfleto não merece salvação.
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Partidários de Dilma, inconformados com a derrota da ex-presidente, estudam entrar na Justiça para contestar o resultado da eleição. A alegação seria de que houve “golpe”. Um golpe dado pela própria democracia. Pela lógica dos militantes, não se concebe que a vontade do povo vá de encontro ao “partido do povo”. Consultado, Dirceu ergueu o punho e disse que em breve se vai desfazer esse paradoxo.
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A bandeira mais desfraldada nestas eleições tem sido a do combate à corrupção. É possível que ela defina a escolha do novo presidente, confirmando assim que as “revelações” têm mais potencial para mudar o quadro político do que as revoluções.
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Há quem veja no primeiro lugar de Bolsonaro a ameaça de o país voltar à Idade da Caserna. Para desfazer essa impressão, o candidato vem procurado melhorar sua imagem. Recentemente, por exemplo, acenou à comunidade LGBT (mas recolheu logo a mão para não dar margem a interpretações maliciosas) e disse que não ia mais detonar (epa!) o feminismo.
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A televisão orientou incansavelmente o eleitor em trânsito sobre como justificar a ausência. O difícil para mim foi justificar a presença.
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Haddad encarregou alguns assessores de vasculhar o comércio em busca de um removedor potente que o ajude a se descolar da imagem de Lula. Caso não encontre o produto, o candidato deve tatuar o corpo com alguns símbolos do capitalismo, como uma garrafa de Coca-Cola ou um par de tênis Adidas (por sinal, alguns eleitores que não conseguem dizer seu nome o têm chamado pelo nome dessa marca). Haddad cogita também de insistir no apoio de Ciro Gomes, que é bem-visto pelo mercado. Seu medo é que nenhuma dessas alternativas dê certo e ele acabe sem Ciro nem tatoo.
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A Lei da Ficha Limpa representou um inestimável progresso na moralidade da nossa prática política. O Brasil não pode, nestas eleições, dar marcha a réu.
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Após a derrota, Marina levantou-se da Rede e foi consolar seus eleitores. Explicou que o motivo do fracasso é que o Partido Verde, ao qual se aliara, ainda não estava maduro para exercer o poder. A candidata chegou a ser chamada de Submarina, mas não se chateou; prometeu fazer jus ao apelido e reemergir daqui a quatro anos. Dessa vez para não afundar mais.
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A democracia é um regime tão eficaz que permite ao eleitor escolher o autoritarismo que o deve governar.
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Não nos esqueçamos de que toda ditadura é um regime fardado ao esquecimento.

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O silêncio do inocente