Causou muita polêmica o gesto do goleiro argentino Martínez na cerimônia de
premiação da Copa do Mundo. Diante de câmeras do mundo inteiro, ele levou à
altura do pênis o troféu que tinha acabado de receber e o exibiu de maneira
ofensiva. Era, segundo disse, uma resposta aos torcedores franceses que o haviam
provocado.
A
atitude foi inoportuna e se transformou na nota negativa do espetáculo. Mesmo porque
no palanque estavam o emir, o presidente da Fifa e autoridades como Emmanuel
Macron, primeiro mandatário da nação derrotada na final. A destinação fálica dada
à estatueta não deixou de ser um desrespeito a todos eles.
Martínez
foi fundamental para a vitória da Argentina, como se sabe, e pode ser que a consciência
disso tenha lhe subido à cabeça. Talvez achasse que “podia tudo” na cerimônia
que coroava seu time. Se foi esse o caso, ele deixou que a arrogância tomasse o
lugar da modéstia, que é a marca dos grandes vitoriosos.
Li
recentemente que o técnico da equipe na qual ele joga quer mandá-lo embora. Para
o atleta, enquanto profissional, isso não vai ser problema; muitos times da
Europa pensam em contratá-lo. Mas o repúdio por parte de quem o orienta no seu
próprio país não deixa de representar um abalo moral.
A
inconveniência do goleiro não se limitou ao gesto de fazer do troféu um falo. Durante
as cobranças das penalidades máximas, ele provocou os jogadores franceses com
dancinhas e trejeitos. Em momento crucial da partida, deixou de lado o decoro e
partiu para o desrespeito aos adversários. Isso levou a que o craque Mbbapé viesse
a chama-lo de “o maior f.d.p do futebol”.
O
gesto de Martinez remete à velha questão do contraste que por vezes existe
entre o artista e o homem. O dom e o caráter. Nem sempre o talento espelha quem
uma pessoa é, e não são raros os casos de exímios praticantes de uma arte ou
ofício que se revelam maus-caracteres. Nesse aspecto, a natureza não está
preocupada em promover um equilíbrio.
Mas
os casos em que esse equilíbrio existe demonstram uma virtude rara – a integridade,
que eleva o indivíduo a um patamar poucas vezes superado. Entre os exemplos
raros, está o recém-falecido Pelé. Ele tinha suas falhas pessoais, talvez seus
deslizes familiares, mas em campo nunca demonstrou um comportamento
desrespeitoso para com o público nem para com os adversários.
Certamente
por isso a sua morte foi tão lamentada. Os minutos de silêncio e o piscar de letreiros
luminosos em vários estádios do mundo homenageavam tanto o atleta quanto o
homem. Lembravam alguém que, na vitória
ou na derrota, portava-se com uma dignidade proporcional ao seu talento. Era
inimaginável que, numa cerimônia de premiação, ele transformasse o objeto que lhe
atestava a glória num reles apetrecho de pornografia.
Martínez
é um goleiro como poucos, mas por uma atitude sumamente deseducada manchou para
sempre a sua imagem. Ele bem que podia ter “segurado essa”.
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