quarta-feira, 12 de julho de 2023

Barbárie no futebol

 


Gabriela tinha 23 anos. As imagens da TV mostram-na brincalhona, rindo entre os colegas, naquela descuidada alegria própria das pessoas da sua idade. 

Essa alegria foi tragicamente interrompida no último sábado, quando a garota se preparava para entrar num estádio de futebol. Iria torcer pelo Palmeiras, seu time do coração, mas os estilhaços de uma garrafa jogada por um torcedor do Flamengo acabaram lhe tirando a vida. 

Gabriela foi mais uma vítima do fanatismo a que comumente se entregam os membros das torcidas (organizadas ou não), muitos dos quais usam o esporte como um pretexto para pôr em prática seus maus instintos. Esses vão aos estádios não para assistir aos jogos, mas para irritar, agredir ou mesmo matar os torcedores adversários.

Ninguém gosta de que seu time perca, mas para esses fanáticos a derrota é uma provocação que o adversário perpetra e que deve ser reparada, se possível, com sangue.

Esse modo de ver quebra o pacto existente no esporte, que se constituiu como uma alternativa à guerra. Seu papel é suprir o primitivo impulso dos humanos para submeter os opositores nas disputas por terras, poder, dinheiro e tudo mais que lhes permita afirmar seu egoísmo. Espera-se que nele, a despeito do desejo de ganhar, prevaleça o que de nobre e elevado nos trouxe a civilização. 

Atitudes como a do assassino de Gabriela frustram essa possibilidade. Mostram que, na falta de quem limite tais descalabros, o esporte é um terreno em que se podem cometer atrocidades capazes de ceifar a vida de inocentes. 

A TV mostrava os pais da moça desolados; traziam estampadas no rosto a dor e a desesperança. Com a perda se foi não apenas a filha, mas toda uma perspectiva de futuro a ela associada. E com esse vazio seria difícil para eles preencher a velhice…

Quando enfim eventos como o que tirou a vida de Gabriela deixarão de manchar com sangue e coroar com luto o nosso futebol? 

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O silêncio do inocente