As
academias viraram moda. Digo “moda” porque nem sempre os que as procuram pensam
na saúde; isso fica para o pessoal mais velho, que já não tem por que expandir
ou tornear partes do corpo. Os novos frequentemente vão para lá em obediência
ao narcisismo que impera em nossa época.
Desse
narcisismo faz parte o culto da imagem, a que não raro o indivíduo sacrifica a saúde
física e psicológica. Vez por outra a mídia noticia o caso de alguém que, na busca
pelo corpo ideal, se excede na prática de exercícios e mesmo na ingestão de anabolizantes
que terminam por lhe comprometer funções essenciais do organismo.
Para
ter o corpo “malhado”, muitos se exercitam vários dias na semana ou até a
semana inteira. As academias, que antes contavam apenas com instrutores
humanos, hoje dispõem de máquinas sofisticadas que trabalham os músculos
conforme a necessidade e o gosto – mais o gosto do que a necessidade – do
freguês.
Há
alguns meses frequento uma delas para tentar suprir ou pelo menos moderar os
estragos que o tempo fatalmente produz em nosso corpo. Sou um dos poucos coroas
entres rapazes atléticos e garotas “saradas”, que com a ajuda de seus personal
trainers buscam adquirir, se não o corpo perfeito, pelo menos um que os torne
atraentes ou, por que não?, invejados.
Lá
me deparo com latagões de tórax volumoso e garotas envolvidas em seus leggings
de compressão para modelar quadris e bumbuns. Stanislaw Ponte Preta as chamaria
de “certinhas”, já que no tempo dele não se falava em “malhadas”. É
impressionante a intensidade com esse pessoal se entrega aos exercícios. Alguns
não escondem a expressão de sofrimento no afã de realizar mais flexões e levantar
mais pesos.
É
claro que adquirem beleza, se com esse termo queremos nos referir a vigor. Mas
às vezes o excesso desfigura o corpo, promove uma espécie de deformação que
lembra muito pouco o padrão narcísico que muitos perseguem. Beleza é medida, proporção,
e nem sempre o inchamento de bíceps e glúteos propicia tais características.
Outro
dia eu observava duas garotas que costumam se esfalfar na flexão com os halteres
e no levantamento de pesos. Olhando-as, não pude deixar de pensar em Rubem
Braga. Em muitos de seus textos, o Sabiá da Crônica descreve com lirismo e encantamento
as mulheres. Neles destaca a leveza e a doçura como atributos da feminilidade.
Que diria o velho Braga diante de espécimes como aqueles, que por força de exercícios
estrênuos dão ao corpo um aspecto viril?
Sei
que isso pode soar preconceituoso em tempos nos quais as mulheres adotam uma
série de práticas antes associadas aos homens, como por exemplo jogar futebol. Tudo
bem, é o progresso. Mas que nesse afã igualitário elas cuidem de não perder certos
atributos que tradicionalmente as distinguem, como a delicadeza e a graça. É neles
que está a sua força.
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