quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A beleza requer medida

 

As academias viraram moda. Digo “moda” porque nem sempre os que as procuram pensam na saúde; isso fica para o pessoal mais velho, que já não tem por que expandir ou tornear partes do corpo. Os novos frequentemente vão para lá em obediência ao narcisismo que impera em nossa época.

          Desse narcisismo faz parte o culto da imagem, a que não raro o indivíduo sacrifica a saúde física e psicológica. Vez por outra a mídia noticia o caso de alguém que, na busca pelo corpo ideal, se excede na prática de exercícios e mesmo na ingestão de anabolizantes que terminam por lhe comprometer funções essenciais do organismo.

          Para ter o corpo “malhado”, muitos se exercitam vários dias na semana ou até a semana inteira. As academias, que antes contavam apenas com instrutores humanos, hoje dispõem de máquinas sofisticadas que trabalham os músculos conforme a necessidade e o gosto – mais o gosto do que a necessidade – do freguês.   

Há alguns meses frequento uma delas para tentar suprir ou pelo menos moderar os estragos que o tempo fatalmente produz em nosso corpo. Sou um dos poucos coroas entres rapazes atléticos e garotas “saradas”, que com a ajuda de seus personal trainers buscam adquirir, se não o corpo perfeito, pelo menos um que os torne atraentes ou, por que não?, invejados.

Lá me deparo com latagões de tórax volumoso e garotas envolvidas em seus leggings de compressão para modelar quadris e bumbuns. Stanislaw Ponte Preta as chamaria de “certinhas”, já que no tempo dele não se falava em “malhadas”. É impressionante a intensidade com esse pessoal se entrega aos exercícios. Alguns não escondem a expressão de sofrimento no afã de realizar mais flexões e levantar mais pesos.

É claro que adquirem beleza, se com esse termo queremos nos referir a vigor. Mas às vezes o excesso desfigura o corpo, promove uma espécie de deformação que lembra muito pouco o padrão narcísico que muitos perseguem. Beleza é medida, proporção, e nem sempre o inchamento de bíceps e glúteos propicia tais características.

Outro dia eu observava duas garotas que costumam se esfalfar na flexão com os halteres e no levantamento de pesos. Olhando-as, não pude deixar de pensar em Rubem Braga. Em muitos de seus textos, o Sabiá da Crônica descreve com lirismo e encantamento as mulheres. Neles destaca a leveza e a doçura como atributos da feminilidade. Que diria o velho Braga diante de espécimes como aqueles, que por força de exercícios estrênuos dão ao corpo um aspecto viril?

Sei que isso pode soar preconceituoso em tempos nos quais as mulheres adotam uma série de práticas antes associadas aos homens, como por exemplo jogar futebol. Tudo bem, é o progresso. Mas que nesse afã igualitário elas cuidem de não perder certos atributos que tradicionalmente as distinguem, como a delicadeza e a graça. É neles que está a sua força.

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