Quem não gosta de frases? Tudo o que lemos ou escrevemos ao longo da vida vai se resumir a algumas delas. O resto não vale a pena ser lembrado e não será lembrado nem que valha a pena, pois nossa memória é limitada. A frase existe para nos dispensar de recordar o livro todo, já que permite apreender a essência da obra. E não apenas a essência, como num resumo frio em que o que interessa é a ideia; a frase é também ou sobretudo forma.
No nosso mundo rápido e pragmático, é mais fácil ler frases do que ler livros.
Estes são longos e tomam muito do nosso tempo mesmo que saltemos algumas
páginas. Já as frases são breves e nos liberam logo para atividades essenciais
como ir ao supermercado, visitar o shopping ou investir na Bolsa.
Pode-se
objetar que não há como evitar os livros, pois é neles que as frases estão.
Para contornar esse problema, lembro que existem no mercado várias coletâneas
só de frases. Pode-se comprá-las como quem compra comida sintética, dessas que
vêm em pílulas e concentram na medida exata os nutrientes fundamentais para o
corpo.
A frase é um concentrado do
espírito, com a vantagem de não ter prazo de validade nem efeitos colaterais (a
não ser que se trate daqueles arabescos barrocos justificadamente chamados de
“cerebrinos”, pois podem dar dor de cabeça. Mas para isso há cura, basta ler um
bom autor clássico).
Uma frase como: “Os homens se distinguem pelo que aparentam e se
assemelham pelo que escondem”, de Paul Valéry, concentra um saber para cuja
apreensão seria necessária a leitura de vários romances e tratados de psicologia.
O mesmo se diga de: “Por delicadeza, perdi a minha vida” – um verso de Rimbaud
que substitui com vantagem muitos livros de autoajuda sobre a necessidade de se
dizer “não” ainda que isso pareça indelicado.
Alguém já escreveu que tudo
existe para terminar em livros. Retifiquemos: tudo existe para terminar em
frases. Tanto é assim que antigamente as pessoas procuravam caprichar em seus
epitáfios, que eram uma síntese da visão que tiveram da vida. O epitáfio podia
ser crente ou cético, otimista ou pessimista, progressista ou reacionário , mas
devia aparecer em bom português.