quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Domingueiras

É melhor casar do que viver só. Casamento é solidão assistida.
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Uma tarde, caminhando pelo Largo do Machado, li num muro esta paródia do famoso verso de Vinícius sobre o amor: “Mas que seja infinito enquanto duro”.
A paródia é grosseira, mas não deixa de ter seu grau de verdade.
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Solidão que não se escolhe é abandono.
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Geralmente, quem lê bem signos não lê bem fatos nem pessoas. O grande leitor de livros aprimora sua capacidade de ler livros, mas pode se revelar um tolo ao interpretar o mundo real. Se a leitura se torna um vício, alheia-nos da realidade como outro vício qualquer.
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Dia desses visitei o escritor Ascendino Leite e o encontrei abatido, recuperando-se de uma inflamação no maxilar. Ascendino atribui todos os males por que vem passando à velhice, mas não teme a morte.
Quando falamos sobre o assunto, ele me disse que fazia suas as palavras de Leon Bloy sobre o enigma do “outro lado”: “Nenhuma angústia ou sobressalto, apenas uma grande curiosidade”.
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Foi professor, morreu pobre. Mas pelo menos teve uma vida de classe.
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Quando eu tinha 30 anos, sonhava em me aposentar com 50 para vestir bermudas e me embalar numa rede depois do almoço. Cheguei a essa faixa de idade e não pude, nem quero, realizar esse sonho. Atribuo a mudança de planos ao espírito da época, que é determinante para a forma como encaramos a vida. Há 20 anos, nossa grande fantasia era não fazer nada. Hoje, tudo nos encoraja a não parar.
O que se perde com isso? Talvez a disposição contemplativa, própria dos que envelhecem no ócio. Mas também a barriga, o reumatismo e aquele tédio que é uma espécie de ante-sala da morte.
**** Solidão não é ir dormir sozinho. É não sonhar com ninguém.

Um comentário:

  1. Belos pensamentos e engraçados trocadilhos. Bom saber da existência deste blog. Sempre que puder, lerei as coisas aqui escritas.

    Grande Abraço!

    Rafael Fernandes

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A esquecida