A vaidade e a presunção são defeitos sociais graves. Quem é modesto obtém com mais facilidade a aceitação dos outros.
Não me refiro obviamente à modéstia falsa, que não passa de um disfarce para mascarar a soberba. Falo de uma modéstia sincera e desarmada – esse traço gentil do espírito. Ela é um atributo dos simples, que segundo a Bíblia herdarão o reino dos Céus.
É verdade que, nestes tempos de ceticismo e muita ânsia aquisitiva, talvez a muitos não interessem os latifúndios celestes. Eles prefeririam algo mais concreto e próximo, como um terreno em Intermares ou um apartamento no Cabo Branco.
Enquanto não chegam esses bens (e sobretudo na falta deles), vale a pena ser cordato para transitar melhor entre os semelhantes.
A modéstia é sobretudo uma questão de linguagem. A gente se revela presunçoso menos pelo que faz do que pelo que diz. E quando diz o que não faz o indivíduo peca duplamente, acrescentando à arrogância a mentira. É preciso, então, muito cuidado com o discurso.
Como ser humilde lingüisticamente? A grande estratégia é usar pouco o eu. Cada um é o principal personagem da sua vida, claro, mas para que ilustrar isso o tempo todo?
A armadilha do “eu” é tão perigosa que, no registro formal da língua, sugere-se para escapar a ela o uso do plural da modéstia. “Vimos”, em vez de “venho”. “Solicitamos”, em vez de “solicito”.
Fale pouco de si e, ao fazê-lo, não abuse dos adjetivos. Deixe aos outros a tarefa de enumerar seus atributos. Com alguma prática é possível fazer da vida um texto ameno, em que a impessoalidade generosa se sobrepõe ao individualismo excludente.
sábado, 19 de janeiro de 2008
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