segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nova entrevista com Propinildo Caixadois

Propinildo Caixadois, para quem não se lembra, é aquele primo de Justo Veríssimo que se elege deputado há várias gerações. Ele já perdeu a conta de quantas vezes se candidatou (mas não de quanto ganhou durante os mandatos) e vai novamente pleitear uma vaga no Legislativo.
Conversamos na sacada da sua nova cobertura de cinco quartos, todos suítes, inclusive o da empregada (“É preciso tratar bem os pobres.”). O apartamento foi caríssimo, e ele não sabe se conseguirá quitá-lo (“Isso vai depender da vontade do povo...”). Começo a entrevista:
- Deputado, qual a sua filosofia de campanha?
- Como ninguém ganha estas eleições sem alguma ligação com o atual presidente, meu marqueteiro procurou manter o apelo socialista do seu governo -- mas com uma ligeira adaptação. Transformou o “Tudo pelo social” em “Tudo pelas socialites”.
- Pelas socialites? E com que objetivo?
- Enaltecer o valor dessas bravas e caridosas mulheres. Os chás, almoços e jantares beneficentes que elas promovem melhoram as condições de vida de muita gente.
- Mas elas pouco se preocupam com o regime!
- Aí é que você se engana. Regime é a maior preocupação delas. A maioria vive em dieta. E não são poucas as que arriscam a vida em cirurgias de lipoaspiração para melhorar a silhueta.
- Qual a sua plataforma para a educação? O senhor é a favor, por exemplo, do ensino a distância?
- Plenamente a favor. Para mim, os alunos devem ficar o mais distantes possível do ensino. Livro demais prejudica a inteligência e faz pensar besteira.
- E quanto ao nepotismo? Qual a sua opinião?
- Essa prática tem sido mal compreendida e injustamente criticada. O nepotismo é uma virtude. Ele confirma o apreço que nós, políticos, temos pela família -- a começar da nossa. Todo o mundo destaca a importância da instituição familiar, mas estranha quando a gente nomeia um parente para trabalhar conosco.
- Mas o senhor nomeou vinte!
- Para evitar conflagrações internas. Ou você é a favor de brigas na família? Esse tipo de discórdia é o pior de todos, pois ocorre entre pessoas do mesmo sangue.
- Mas precisava colocar sua esposa na chefia de gabinete?
- Houve incoerência da mídia na interpretação desse episódio. Primeiro eles disseram que eu ia pouco ao Congresso, só “trabalhava” em casa. Depois criticaram a nomeação da minha mulher. Ora, quem melhor do que ela para supervisionar o meu local de trabalho?
- Por sinal, dizem que o senhor é muito bem-casado. O que o atraiu em sua esposa?
- Ela me conquistou com uma declaração.
- Ah!... Então sob essa casca de político escolado pulsa um coração romântico, que não resistiu a uma declaração de amor!
- Que de amor! De bens! Fui tocado pela relação patrimonial do pai dela. Essa foi a minha “flecha de Cupido”.
- E quanto à causa ecológica? O senhor pretende fazer alguma coisa para combater o efeito estuda?
- Na verdade, já estou fazendo. Diminuí a quantidade de cerveja semanal, pois notei que ela estufava meu estômago e levava à emanação de gases que prejudicam a qualidade do ar. Aqui em casa, pelo menos, todos passaram a respirar melhor.

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