domingo, 9 de outubro de 2011

O campeão que Campina perdeu

O primeiro concurso de que participei ocorreu no auditório da velha Rádio Borborema, em Campina Grande. Foi lá pela década de cinquenta. Havia por esse tempo um programa infantil chamado “Clube Papai Noel”, comandado por Eraldo César. Fui várias vezes a esse programa, no qual cheguei a me apresentar tocando acordeom. Um suplício, sobretudo pelo tamanho do instrumento, que eu a custo carreguei até o centro do palco. E ali toquei meio curvo, afogado pela dispneia do cansaço e da emoção.

A família me prognosticava um grande futuro musical, pois além da nordestina sanfona me fez também aprender violino. Entre o regional e o clássico, optei por nada, mas até hoje sinto a nostalgia daquelas notas mal tocadas. Por um instante cheguei a vislumbrar nelas um futuro de glória.
Eraldo César promovia em seu programa concursos de robustez. Crianças bem-nutridas eram levadas por pais vaidosos, que as exibiam como provas de saúde e bons cuidados. Não sei se havia um júri específico ou se todo o auditório votava. Sei que minha mãe costurou uma sunga especial e, num domingo, meu pai me fez participar da prova. Havia dezenas de garotos e garotas no palco, cada qual mais risonho e “saudável”. Era um tempo simples e bom, de poucos produtos industrializados, em que o mingau de araruta e a velha Maizena pareciam suficientes para nos deixar sãos e fortes.
Ao dizerem meu nome, fui conduzido ao centro do palco e exibido como um troféu eugênico. Depois me mediram a barriga, os braços, as coxas. Existe uma pequena foto que comprova isso. É um retrato em preto e branco, no qual sorrio como um bácoro inocente nos braços do meu pai. A fotografia semiapagada atesta que eu merecia ganhar. Com pouco mais de um ano, tinha a lustrosa redondez de um anjinho barroco.
Não houve suspense na divulgação do resultado. Fui escolhido por aclamação. Ignoro que prêmio me deram, ou mesmo se houve algum prêmio além do rótulo de “garoto robusto”; o fato é que a vitória se constituiu num prólogo irônico à asma que viria depois. O “puxado” destruiu-me o vigor. Não fosse ele -- quem sabe? --, Campina teria dado ao mundo um Mister Universo.

Um comentário:

  1. Ahhh, não sabia que o senhor era campinense... tsc, tsc, tsc. Ninguém é perfeito mesmo. =P

    hauahauahauahauha

    Coloca a foto do "bebê robusto"!! Queria ver se ganharia mesmo! =]]

    Bjoooos

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A esquecida