domingo, 2 de outubro de 2011

A volta do rabo

As possibilidades da engenharia genética são ilimitadas. Li que num futuro próximo será possível fazer clonagens retrospectivas e, ativando a memória do DNA, recobrar determinadas características que as espécies perderam. Veio-me então à cabeça a possibilidade de readquirirmos nosso rabo.
O rabo nos traria inúmeras vantagens neste mundo regido pelo consumo. Quantas vezes, no supermercado, não deixamos de comprar mais coisas porque só temos duas mãos? O rabo funcionaria como uma terceira. Além disso nos tornaria mais sociáveis; um efusivo aceno de rabo seria a melhor forma de demonstrar apreço por alguém.
Na vida amorosa o rabo também se mostraria muito útil. A começar de que daria um sentido literal à palavra “enrabichado”, que hoje usamos como vaga e deseducada metáfora. Em vez de olhar para as pernas e o bumbum das mulheres, os homens olhariam para seus rabos, que logo se tornariam irresistíveis símbolos sexuais. No jogo da conquista a aquiescência às insinuações de um pretendente não se expressaria por um olhar ou um sorriso -- mas por um sugestivo balançar de rabo.
Conscientes do poder do rabo, as pessoas tratariam de mantê-lo não apenas saudável como também bonito. Isso levaria a indústria a lançar no mercado produtos especialmente voltados para ele. Haveria salões (os Rabo Coiffures) especializados em penteá-lo, rinçá-lo, tingi-lo, pois um rabo bem apresentado indicaria status e melhoraria a autoestima do seu dono. A publicidade ajudaria na disseminação dessa ideia, criando slogans como: “Um homem se conhece pelo rabo”, ou: “Você é sobretudo o rabo que tem”.
Tanta importância dada a ele geraria conflito entre as pessoas, e a psicanálise acabaria descobrindo um complexo fundado na “inveja do rabo” (que, ao contrário da “inveja do pênis”, atingiria homens e mulheres). Os terapeutas penariam muito para convencer os rabicurtos de que os rabilongos não viviam no melhor dos mundos.
O rabo teria opositores, claro. Seus adversários condenariam a clonagem por considerá-la um retrocesso. Os defensores contra-atacariam dizendo que a volta do rabo confirmava a lei do “eterno retorno”. E os religiosos, sabiamente, veriam nele a indicação de que o homem devia abdicar da vaidade e da soberba, pois era um animal como outro qualquer. A prova disso é que, tal como os cachorros e os macacos, tinha rabo.

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O poder da frase