domingo, 22 de janeiro de 2012

Notas de Buenos Aires

Quando chega a Buenos Aires, o brasileiro fica eufórico ao trocar seus reais por pesos. O valor duplicado da nossa moeda o faz pensar que terá dinheiro para comer à farta e satisfazer alguns caprichos de consumo. O choque começa quando ele pede o primeiro cafezinho no aeroporto; podem lhe cobrar até 13 pesos, ou seja, cerca de seis reais e cinquenta centavos. Por menos da metade disso, toma no Brasil um expresso encorpado e acrescido dos mimos a que faz jus: biscoitos e um copinho de água mineral.
Nossa moeda tem mais valor do que a dos argentinos, mas eles acharam um jeito de compensar a defasagem aumentando o preço dos produtos e serviços. No fim das contas, sai uma coisa pela outra. O difícil é saber como suportam a inflação. Entendo muito pouco de economia, mas acho que a entrada dos reais (a cidade está cheia de brasileiros) os ajuda a fazer isso.
Mas deixemos de lado essas comezinhas questões econômicas (o importante é o espírito!) e falemos de outras coisas. A cidade é bonita mas bastante descuidada no centro, com prédios sujos e construções inacabadas. Como fiquei hospedado por ali, minha primeira impressão foi negativa. O que não estava maltratado pelo tempo sofrera a ação dos pichadores.
Para quem ia passar pouco tempo, uma das alternativas era aceitar as atrações oferecidas pelo pacote turístico. Foi o que fizemos, começando pelo tradicional City Tour. Tem gente que despreza esse tipo de passeio e prefere roteiros menos previsíveis. Não é o meu caso, e pelo menos desta vez não me arrependi. Um dos motivos foi o guia, um sujeito informado e espirituoso que me fez tomar contato com o bom humor portenho. Eles têm muito da nossa autoironia, sabem rir de si mesmos. Durante o trajeto não foram poucas as piadas que ouvi sobre Maradona, a presidente (lá ninguém fica discutindo se deve ser “ente” ou “enta”) e a situação econômica do país.
Fizemos uma parada em La Boca, bairro famoso que dá nome ao time de futebol. Como fazia um sol muito forte, passei a usar um boné com a logomarca do Boca Juniors. Parece que fiquei marcado por isso. Em alguns lugares eu era alvo de risinhos, pilhérias, às vezes uma velada repreensão. O tom geral era de brincadeira, mas suficiente para mostrar como entre eles é forte a rivalidade no futebol. Ao saber que éramos brasileiros (e percebiam isso de imediato), vinham com a pergunta inevitável. “Pelé ou Maradona?” E também: “Messi ou Neimar?”
No fim do passeio pedimos para saltar em Puerto Madero, região de bons restaurantes. Escolhemos um para o almoço, e fui então apresentado (sem muito prazer) ao tal bife de chouriço -- famoso espécime da gastronomia argentina. Ele bem que faz jus ao nome. A carne, de um aspecto sangrento, é envolvida por largas fitas de gordura que provocam um arrepio em nossas artérias. Deixei os que estavam comigo provarem aquilo e preferi truta. Essa veio envolvida em muito óleo, mas pelo menos era branquinha e aparentemente virgem do mau colesterol. Comi sem remorso, contemplando o cais em frente e pensando que à noite haveria tango.

Um comentário:

  1. Só quem pode fazendo viagem internacional! ^^

    Aproveite bastante, se é que ainda não voltou!

    Bjuusss

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O poder da frase