domingo, 8 de abril de 2012

Do baú

Semana Santa é tempo de reflexão, por isso resolvi retirar do baú alguns escritos. Se não têm valor, conto com o espírito cristão do leitor para me perdoar. Aí vão:

O homem nasce duas vezes. A primeira, quando chora; a segunda, quando ri. O primeiro nascimento é biológico; o segundo, espiritual. Já se disse que o riso é uma forma de afastar a dor. De não se entregar a ela e, ao mesmo tempo, perdoar o que existe de errado, impróprio, impossível na Criação. O riso sela um pacto entre o homem e Deus, que certamente não gosta de quem o recrimina com o desespero. O desespero nega o sentido da vida. O riso o reconhece da única forma como é possível reconhecê-lo -- acolhendo sem protesto o absurdo. É o estágio máximo da compreensão.
Podemos viver sem chorar, mas não podemos viver sem rir. Para isto seria preciso não ver nem avaliar o mundo, que é risível porque se desenvolve num infindável jogo de tentativas e erros. As derrotas mostram que o homem está sempre aquém de seus propósitos e refletem a má avaliação que ele faz de si e dos outros. A única forma de reagir a isso é com o humor.
****
Perdoar Deus é a primeira condição para merecê-Lo. Deus não se dá a quem o responsabiliza pelo mundo.
****
Sartre diz que se escreve por vingança. Faz sentido, pois o que somos decorre em grande parte do que fizeram conosco. A escrita é uma forma (das mais brandas, por sinal) de dar o troco.
****
A pergunta mais importante que toda pessoa deveria se fazer é: “Será que o que eu desejo é compatível com o que eu sou?” A resposta correta a isso pouparia muita desilusão e perda de tempo. O mais das vezes, sonhamos ser o que jamais seremos.
****
Segundo Nietzsche, a queixa tem um componente de agressão e por isso é inútil. De fato; o queixoso não pode esperar boa vontade de alguém que se sente agredido por ele.
****
Dizem que o casamento funciona melhor quando os dois são iguais. Nada mais falso; a igualdade de traços prejudica a união. O ideal é que cada qual tenha seus próprios defeitos -- e também suas qualidades. Da complementação das diferenças é que nasce a harmonia.
****
A fofoca é uma forma de catarse, por isso não morre nunca. Falamos dos outros porque isso nos alivia e aparentemente nos torna melhores a nossos próprios olhos.
****
Os mais humildes são na verdade os mais ambiciosos. Querem nada menos do que a vida eterna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A esquecida