Acreditei em Papel Noel mais tempo do que devia. Enquanto os meninos da minha idade desconfiavam de que ele era uma invenção, eu continuava firme a defender a sua existência. Talvez, quem sabe, esse fosse um mecanismo de defesa para preservar a infância.
O velhinho nem sempre trazia o que eu lhe pedira, mas ainda assim eu queria acreditar nele. Sem a sua visita, faltaria transcendência à festa. O milagre do Natal para mim não estava em saber que nessa data se comemorava o nascimento do Redentor. Essa era uma ideia vaga, distante, que me dizia pouco -- ou talvez nada.
A possibilidade de ganhar um bom presente me atraía mais do que a perspectiva de ser salvo. O céu para mim era acordar e ver ao lado da cama um velocípede, um carro movido a pilha ou um revólver “de verdade”, como o dos cowboys dos filmes.
Lembro-me de que certa vez um coleguinha me provocou: “Papai Noel não existe. Quem bota o presente ao lado da cama é o pai ou a mãe da gente.” “Mentira”, retruquei indignado. “Ele existe, sim.” O coleguinha afastou-se com um ar superior, certamente me achando um bobo. De noite, perguntei a minha mãe se o que ele disse era verdade. Ela desconversou, não quis destruir de uma vez a ilusão. Mas a partir daí começou a se desenvolver em meu espírito o germe frio da desconfiança. Desta para a descrença, foi um passo.
As crianças de hoje não vivenciam mais esse dilema. Como conciliar a crença no personagem que habita o Polo Norte com essas reproduções disseminadas nos shoppings? Fantasia pede imaginação, e não há como dar contorno imaginário àquilo com que nos deparamos todo o tempo.
Os simulacros de hoje têm barba longa, voz grossa, roupas vermelhas orladas de algodão. Falta-lhes a espiritualidade associada à figura do Bom Velhinho, mas isso é o de menos. Eles não estão ali para salvaguardar a crença no mito, e sim para predispor as crianças (e os pais) à liturgia profana do consumo.
Que se há de fazer? O mercado é que move o mundo, e não há como subtrair os eventos religiosos do seu império. Se ficou impossível acreditar num senhor gordo que se desloca num trenó puxado por renas, pelo menos é possível se deparar com a sua imagem nas casas comerciais. Essa é uma forma de reconhecer que ele... existe. Com suor, hálito e um maroto sorriso promocional.
O velhinho nem sempre trazia o que eu lhe pedira, mas ainda assim eu queria acreditar nele. Sem a sua visita, faltaria transcendência à festa. O milagre do Natal para mim não estava em saber que nessa data se comemorava o nascimento do Redentor. Essa era uma ideia vaga, distante, que me dizia pouco -- ou talvez nada.
A possibilidade de ganhar um bom presente me atraía mais do que a perspectiva de ser salvo. O céu para mim era acordar e ver ao lado da cama um velocípede, um carro movido a pilha ou um revólver “de verdade”, como o dos cowboys dos filmes.
Lembro-me de que certa vez um coleguinha me provocou: “Papai Noel não existe. Quem bota o presente ao lado da cama é o pai ou a mãe da gente.” “Mentira”, retruquei indignado. “Ele existe, sim.” O coleguinha afastou-se com um ar superior, certamente me achando um bobo. De noite, perguntei a minha mãe se o que ele disse era verdade. Ela desconversou, não quis destruir de uma vez a ilusão. Mas a partir daí começou a se desenvolver em meu espírito o germe frio da desconfiança. Desta para a descrença, foi um passo.
As crianças de hoje não vivenciam mais esse dilema. Como conciliar a crença no personagem que habita o Polo Norte com essas reproduções disseminadas nos shoppings? Fantasia pede imaginação, e não há como dar contorno imaginário àquilo com que nos deparamos todo o tempo.
Os simulacros de hoje têm barba longa, voz grossa, roupas vermelhas orladas de algodão. Falta-lhes a espiritualidade associada à figura do Bom Velhinho, mas isso é o de menos. Eles não estão ali para salvaguardar a crença no mito, e sim para predispor as crianças (e os pais) à liturgia profana do consumo.
Que se há de fazer? O mercado é que move o mundo, e não há como subtrair os eventos religiosos do seu império. Se ficou impossível acreditar num senhor gordo que se desloca num trenó puxado por renas, pelo menos é possível se deparar com a sua imagem nas casas comerciais. Essa é uma forma de reconhecer que ele... existe. Com suor, hálito e um maroto sorriso promocional.
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