domingo, 20 de janeiro de 2013

Volta a Gramado

Volto a Gramado depois de dois anos, e agora não apenas em razão do Natal Luz. A cidade tinha me cativado pelo clima ameno e a hospitalidade das pessoas. É um dos poucos lugares do Brasil onde se torna possível repousar mesmo com a enxurrada de turistas que a invadem nesta época do ano (“invadir” não é bem o termo; tem uma conotação bélica em tudo oposta à paz que se usufrui ali).
Da outra vez assisti ao desfile principal e ao “Nativitaten”, espetáculo de som e luzes em que se celebra o nascimento de Cristo. Agora procuramos ver outras atrações e, sobretudo, nos impregnar do clima da cidade. Ficamos no mesmo hotel que escolhemos da primeira vez e que nos permitiria refazer alguns dos antigos percursos.
Por exemplo: seguir a Av. Borges de Medeiros olhando as vitrines enfeitadas com motivos natalinos. Vez por outra entrar numa daquelas lojas caprichadamente decoradas e apreciar a originalidade dos produtos expostos -- imagens, roupas, enfeites. O colorido exuberante remetia a uma visão lírica e ingênua do Natal -- mas quem estava preocupado com isso? O objetivo da festa era mesmo nos fazer voltar à infância, inclusive no que ela tem de pródigo e imprevidente; por isso convinha, a intervalos, conferir o limite do cartão de crédito.
Cabia a mim essa antipática mas necessária missão, porém esse não foi o único sacrifício que tive de fazer. Estávamos na terra do chocolate -- e eu, por ser alérgico, não podia comer chocolate! Esperava alguma solidariedade da família; queria que pelo menos falassem pouco no assunto... Mas em vez disso tinha que ouvir o tempo todo opiniões sobre qual era a melhor marca (Prawer, Caracol, Lugano...?). Nem preciso dizer que a busca de um consenso se dava em meio a intermináveis sessões de degustação.
Voltei da cidade sem provar o sabor do seu mais famoso produto, mas não posso dizer que só alimentei o espírito. Compensei-me no rodízio de fondues e sobretudo no vinho tinto, diante do qual eu à noite chorava minhas mágoas gastronômicas (li em muitas placas a palavra “fondue” antecedida por artigo masculino, mas o correto é “a fondue”).
O sucesso do Natal Luz é o resultado de uma parceria entre o povo, o comércio, o empresariado e o poder público. Noventa por cento da economia do município repousa no turismo, e a maior parte desse percentual vem dos que procuram a cidade em dezembro e janeiro. Compenetrados disso, os gramadenses se esmeram em oferecer aos visitantes eficiência e simpatia. A natureza também faz a sua parte, providenciando o clima ameno e os canteiros de hortênsia que orlam as vias urbanas e as alamedas nas quais se assentam as residências coloniais. Naquele cenário europeu, a que não falta a neblina esgarçando os pinheiros, fica mais fácil acreditar em Papai Noel.
A nota triste ficou por conta da dificuldade de deslocamento. Como há poucos táxis, os turistas se submetiam a pagar muito além da tabela aos carros que os levavam dos hotéis a outros pontos da cidade -- ou fora dela. Esse é um tipo de abuso que vem crescendo e, se não for contido, poderá lançar sombras sobre um evento projetado para despertar o que há de melhor em nossos corações.

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