domingo, 5 de maio de 2013

Do baú (4)



          Dizem que os países onde há muitos gatos são mais desenvolvidos. A explicação me parece óbvia: o excesso de gatos os ajuda a se livrar dos ratos... Infelizmente, em nosso país (onde há tantos ratos!), demos preferência aos cachorros.
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          O apaixonado não tem que confiar no outro. Tem que confiar em si. O outro é sempre um enigma... E mesmo nos casos de “fidelidade eterna”, há pequenas, múltiplas e às vezes imperceptíveis traições.
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         É curioso que as pessoas se voltem para a religião na velhice, quando não precisam mais do freio que ela representa. O normal seria temer Deus quando há motivos para ele nos castigar -- e esses motivos tendem a desaparecer quando ficamos velhos.
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          A diferença entre o prazer e a satisfação é que o primeiro é mais intenso, pois diz respeito ao corpo. A satisfação relaciona-se mais com o espírito. Muitas vezes, para obter uma satisfação, temos que adiar um prazer. Por exemplo: perder uma festa para terminar um trabalho escolar. Ou trocar uma viagem de recreio por um estágio profissional. Ao contrário dos frutos do prazer, que se esgotam em si mesmos, os da satisfação tendem a perdurar e nos trazer prestígio.
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      Nossa época exalta a noção de individualismo, o que faz com que cada um se sinta excepcional. Há muito exagero nisso. O mundo é feito de pessoas igualmente únicas.
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          As viagens tornam irreconhecíveis as pessoas. Longe de casa, todos ficamos diferentes. Não se trata de mudança, mas de outra coisa: quando estamos longe, deixamos emergir o que habitualmente disfarçamos sob o verniz da conveniência ou da moralidade.
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           Não se pode ter das pessoas estritamente o que nos serve, nos gratifica e nos é conveniente. Mesmo quem nos ama (e quem amamos) tem um lado a que somos avessos (e que também é avesso a nós). O outro é sempre um obstáculo, tanto maior quanto maior é o nosso egoísmo.

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O silêncio do inocente