O
balão se eleva no céu denso de fumaça. Por um momento se confunde com os outros
fogos, mas logo segue vitorioso ao empuxo do vento. Seu brilho, contrastando com
as sombras em volta, é uma imagem de triunfo e esperança.
Para
onde ele vai? Ninguém se interessa em saber. A impressão que dá é a de que nunca
vai cair; continuará subindo até deixar a Terra e, quem sabe?, adentrar o
espaço celeste como uma oferenda de luz.
Finalmente chega ao seu limite e começa a descer. Já não é aquele
coágulo luminoso; bambeia com a brisa e parece prestes a se consumir. Com o que lhe resta de fôlego, paira sobre campos,
charcos, estradas. Sobrevoa uma refinaria em que há pelo menos três depósitos
de combustível. Passa rasante, mas não cai por lá. Vai cair alguns metros
depois, numa plantação que começa a pegar fogo.
Quem o soltou não terá notícias desse incêndio
banal, que deu prejuízos a um pobre agricultor mas não matou ninguém. Seria muito
diferente se o balão tivesse atingido um dos depósitos. O fato de isso não ter
acontecido pode ser uma prova de que São João existe, e vela por nós.
*****
A
turma inventou de criar uma quadrilha no bairro. Uma quadrilha junina, é claro,
composta de bons moços e não de malfeitores. Convidaram-me, mas delicadamente
recusei. Além de ser tímido, eu era claustrofóbico. Ficava imaginando como ia
me sentir quando tivesse de entrar no “túnel”.
O grupo começou a se reunir duas vezes
por semana. Levou tempo até que conseguisse adestrar o corpo nos passos e movimentos
da dança. Era preciso também aprender a rir, pois não se concebe um quadrilheiro
circunspecto. Isso podia ser tolerável entre os nobres franceses que praticavam
a velha “dança de pares”, mas não entre a plebe que a adotou.
Para tudo sair perfeito, a turma queria
a maior fidelidade possível às origens. Chegou a contratar um professor de
francês, pois era interessante que o “puxador” (devia ser esse o nome) tivesse
sotaque. “Anarriê”, em vez de “En
arrière”? Jamais! (leia-se “Jamé!”)
Chegou enfim o grande dia. Os rapazes
vestiam calças rústicas e camisas coloridas; as meninas, longas saias que
terminavam em bicos ou rendas. Ao lado do pavilhão, crianças brincavam soltando
fogos.
De repente uma “cobrinha” (um desses artefatos
que se propagam rastejando) invade o palco
e se mete embaixo da saia de uma das garotas. Ela pula, corre de um lado para o
outro, mas não consegue se livrar do pequeno réptil de fogo que lhe lambe as
pernas. Então, numa última e desesperada tentativa, joga fora a saia com forros
e tudo.
A “cobrinha” ficou entalada nas vestes.
Quanto à garota, multiplicava as mãos para tentar se cobrir. A rapaziada
assistia eufórica à cena, alguns interiormente gritando: “Viva São João!”
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