domingo, 23 de junho de 2013

Juninos

       O balão se eleva no céu denso de fumaça. Por um momento se confunde com os outros fogos, mas logo segue vitorioso ao empuxo do vento. Seu brilho, contrastando com as sombras em volta, é uma imagem de triunfo e esperança.  
       Para onde ele vai? Ninguém se interessa em saber. A impressão que dá é a de que nunca vai cair; continuará subindo até deixar a Terra e, quem sabe?, adentrar o espaço celeste como uma oferenda de luz.    
     Finalmente chega ao seu limite e começa a descer. Já não é aquele coágulo luminoso; bambeia com a brisa e parece prestes a se consumir.  Com o que lhe resta de fôlego, paira sobre campos, charcos, estradas. Sobrevoa uma refinaria em que há pelo menos três depósitos de combustível. Passa rasante, mas não cai por lá. Vai cair alguns metros depois, numa plantação que começa a pegar fogo.
       Quem o soltou não terá notícias desse incêndio banal, que deu prejuízos a um pobre agricultor mas não matou ninguém. Seria muito diferente se o balão tivesse atingido um dos depósitos. O fato de isso não ter acontecido pode ser uma prova de que São João existe, e vela por nós.
                                                            *****
        A turma inventou de criar uma quadrilha no bairro. Uma quadrilha junina, é claro, composta de bons moços e não de malfeitores. Convidaram-me, mas delicadamente recusei. Além de ser tímido, eu era claustrofóbico. Ficava imaginando como ia me sentir quando tivesse de entrar no “túnel”.
      O grupo começou a se reunir duas vezes por semana. Levou tempo até que conseguisse adestrar o corpo nos passos e movimentos da dança. Era preciso também aprender a rir, pois não se concebe um quadrilheiro circunspecto. Isso podia ser tolerável entre os nobres franceses que praticavam a velha “dança de pares”, mas não entre a plebe que a adotou.
       Para tudo sair perfeito, a turma queria a maior fidelidade possível às origens. Chegou a contratar um professor de francês, pois era interessante que o “puxador” (devia ser esse o nome) tivesse sotaque.  “Anarriê”, em vez de “En arrière”?  Jamais! (leia-se “Jamé!”)
      Chegou enfim o grande dia. Os rapazes vestiam calças rústicas e camisas coloridas; as meninas, longas saias que terminavam em bicos ou rendas. Ao lado do pavilhão, crianças brincavam soltando fogos.  
       De repente uma “cobrinha” (um desses artefatos que se propagam rastejando)  invade o palco e se mete embaixo da saia de uma das garotas. Ela pula, corre de um lado para o outro, mas não consegue se livrar do pequeno réptil de fogo que lhe lambe as pernas. Então, numa última e desesperada tentativa, joga fora a saia com forros e tudo.
        A “cobrinha” ficou entalada nas vestes. Quanto à garota, multiplicava as mãos para tentar se cobrir. A rapaziada assistia eufórica à cena, alguns interiormente gritando: “Viva São João!”

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