Escritor é alguém que tem a linguagem
como salvação, mas sem a ingenuidade de querer que ela seja mais do que
linguagem. Ele sabe que a antítese da vida é a morte, e a antítese do nada é o
sentido. Sua tarefa é afirmar o sentido contra o nada.
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Dizem que o mundo é cheio de boas
intenções. Discordo. No mundo proliferam as más intenções. O que nos salva é
que só uma parte delas se realiza.
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Evite viajar em grupo para não
perder amigos. As viagens levam à intimidade, e com ela vem a quebra daquele
formalismo mínimo que assegura a boa convivência. Quando se juntam, as pessoas
tendem a ser mesmo o que são -- e os outros não lidam bem com isso.
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É difícil separar no homem o que é
naturalidade do que é artifício. Quando choramos, metade é pena, metade é
cena. Alguém dirá: mas diante do
espelho, contemplando a si mesmo, ele não é sincero? Arrisco a dizer que não;
também aí há disfarce.
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Não tem sentido acreditar no que está
comprovado. A crença é sempre uma aposta, um tiro no escuro. O que alimenta a
crença em “outro mundo”, por exemplo, é justamente a falta de provas de que ele
existe.
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A velhice é por natureza amiga da
virtude. O homem só renuncia a certos pecados quando já não está em idade de
cometê-los. Por outro lado, um dos maiores pecados da velhice é o
ressentimento.
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Temos uma cultura da corrupção e da
impunidade. Um dos desafios que se coloca aos professores é como abordar isso
na escola sem influenciar os alunos.
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A linguagem é o nosso
confessionário. Falar é confortar-se; liberta e consola. Tudo que se subtrai ao
desejo se compensa na linguagem. Por isso as pessoas falam, rezam, escrevem
tanto.
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