domingo, 1 de novembro de 2015

Em torno do neto

A família está vivendo em função de Luiz Guilherme.  Com pouco mais de três meses de vida, esse meu neto tem sido o centro das atenções. Acho que poucas celebridades foram mais fotografadas, divulgadas, expostas à admiração pública quanto ele. Também pudera. Vivemos em tempos de ultrassom e Facebook, quando a imagem das pessoas começa a ser captada e a circular muito cedo. A de Luiz Guilherme começou a ser visualizada no tempo em que ele era um embrião. 
       O bebê tem um séquito numeroso, que acompanha com enorme expectativa as suas mínimas reações. Se chora, logo se especula sobre o motivo do choro – está aborrecido, desconfortável, com raiva de alguma coisa? Terá gases, cólica, dor de ouvido? Não parece haver uma causa específica; ele chora porque está vivo e essa é a linguagem dos bebês, que não têm outra forma de manifestar protestos ou contrariedades. “Choro, logo sou” é o seu modo de afirmação existencial. 
          Mas nem tudo são protestos e lágrimas. Há momentos alegres, como o do banho, que não deixamos de bisbilhotar. Nos postamos em volta da banheira para ver o prazer que ele sente quando a água lhe passa sobre o corpo. Ficamos assustados se o líquido, atingindo o nariz, quase o faz perder o fôlego (mas é alarme falso, está tudo bem..). 
Ao banho sucede a troca de roupa; ele é então colocado num sofá e, enquanto espera, agita incessantemente braços e pernas (um feito que só os bebês conseguem). Os movimentos intensos por vezes fazem emergir algum líquido ou sólido que não estava no roteiro. Isso obriga a um novo ritual de limpeza, que minha filha enfrenta com risonha disposição.   
Um motivo de discussão na família é definir com quem ele se parece.  Embora seus traços ainda sejam indistintos, não falta quem se reconheça no nariz, na boca ou na testa. Outros se veem no riso ou no olhar. Indiferente a tudo isso, Luiz Guilherme segue com sua fome e seus balbucios, exercendo olimpicamente o seu reinado (Sua Majestade, o Neném!).
Cabe a nós, entre curiosos e fascinados, acompanhar seus movimentos e expressões. Nem quando está dormindo ele se livra do cerco da família, que contempla o seu sono como quem assiste ao repouso de um guerreiro. Um guerreiro cuja conquista – a vida – de tão recente ainda nos deixa surpresos.   
Nesses momentos gosto de imaginá-lo no futuro, rapaz e depois adulto, enfrentando lucidamente o dia a dia. Agora já com os traços definidos – mais um de nós. E me ocorre um pensamento um tanto mórbido: até quando o verei crescer?
        Felizmente é fácil enxotar essas sombrias elucubrações. Basta que ele chore e seja preciso botá-lo no braço. O gesto é o de trinta anos atrás, quando o nenê era a mãe dele. Procuro reproduzir a forma de ninar, mas percebo que já não levo tanto jeito. Ainda assim, meio a duras penas, consigo fazê-lo sorrir. Seu riso é o mesmo de outrora e me traz uma confortável sensação de eternidade.

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O silêncio do inocente